Total de visualizações de página

sábado, 7 de março de 2009

A Última Semana do Ministério de Jesus - B.S. Dean


1. A Unção em Betânia (Mateus 26:6–13; Marcos 14:1–11; João 12:1–8). — Jesus chegou a Betânia numa sexta-feira à noite. Ele deve ter sido o centro das atenções para as multidões de peregrinos a caminho da Páscoa. Enquanto os outros prosseguiam para se hospedarem na casa de amigos ou em tendas armadas nos declives do monte das Oliveiras e no vale de Quedrom, Jesus procurava o tão conhecido lar em Betânia. Sendo um hóspede sempre bem-vindo, dessa vez ele seria três vezes bem-vindo. Passaria o sábado descansando, mas naquela noite um jantar estava sendo oferecido em Sua homenagem na casa de Simão, o leproso. Maria, Marta e Lázaro estavam presentes, usufruindo da vida restaurada do irmão, da amizade entre todos e na presença dAquele a quem deviam tanto. Mas havia um dentre eles cuja gratidão não podia ser expressa de maneira comum. Fitando os olhos no Senhor, ouvindo Suas doces palavras até não se conter mais, ela se levantou e, trazendo um vaso de um ungüento caríssimo, derramou-o na Sua cabeça, e nos Seus pés, enquanto Ele Se inclinava à mesa. Havia ali, assim como entre nós, pessoas comuns que criticaram o “desperdício”; mas para Jesus o amor que impeliu tal ação era de um valor inestimável. “Deixai-a... Ela praticou boa ação para comigo... Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura.”(1)

2. Domingo: A Entrada Triunfal (Mateus 21:1–17). — Na semana da Páscoa Jerusalém estava lotada de desconhecidos oriundos de todas as partes da Palestina e do império, muitos dos quais ouviram Jesus, a maioria dos quais ouviu falar dEle. Os efeitos do ministério na Peréia e da ressurreição de Lázaro foram, por um lado, reacender a chama da popularidade e, por outro lado, as labaredas do ódio. O fim estava próximo e Jesus não Se afastou do inevitável conflito, mas rendeu-Se a uma demonstração pública de Sua messianidade. Jesus declarou a natureza do Seu reino escolhendo um jumento, símbolo de paz, em vez de um cavalo, símbolo de guerra. Ao chegar ao alto do monte das Oliveiras, a multidão da cidade encontrou-se com a multidão que O acompanhava desde Betânia; e com brados e hosanas e demonstrações triunfais, Ele foi conduzido para dentro de Jerusalém. A cidade inteira estava agitada, mas as emoções eram conflitantes. Era um gesto puramente interiorano; Jerusalém, pela qual Ele chorou ao avistá-la do monte das Oliveiras, mantivera-se friamente neutra ou abertamente crítica. Poderíamos perguntar: “E se ela, também, aceitasse o Senhor?” Não pode- mos responder. Só sabemos que a rejeição era determinante. Os discípulos entusiastas ficaram sem dúvida decepcionados; Jesus não seguiu o protocolo messiânico como eles esperavam; tendo simplesmente contemplado tudo no templo, Ele voltou para passar a noite em Betânia.

3. Segunda-feira: A Figueira Estéril e a Segunda Purificação do Templo (Mateus 21:12, 13, 18, 19; Marcos 11:12–18). — Na manhã seguinte, a caminho da cidade, Jesus realizou o milagre que também foi uma parábola. A figueira estéreo, por sua folhagem incomum, orgulhava-se de sua fertilidade incomum. Com uma palavra de Jesus ela murchou: um símbolo apropriado da falsa cidade e nação, ou da vida falsa, cuja sentença é a destruição. Seguindo adiante, Jesus entrou no templo. Como conseqüência da contemplação do domingo, ele purificou o templo novamente, tal qual fizera na Sua primeira Páscoa. Um incidente interessante foi preservado por João (12:20–33) referente a alguns representantes da dotada nação grega, os quais Filipe e André levaram até Jesus. Este previu o tempo em que, sendo levantado na cruz, homens de todas as raças seriam atraídos até Ele. Sua alma ressentia o sacrifício; mas “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”(2) . Assim, até o último minuto, Jesus aproveitou cada ocasião para esclarecer a natureza do Seu reino. Se resolvesse, poderia, num só dia, formar uma revolução política e fundar um império terreno; mas isso estava, há muito, fora de questão. As coroas concedidas a Ele mesmo e aos homens viriam por meio da cruz.

4. Terça-feira: O Dia das Perguntas (Mateus 21:23—25:46). — Chegamos agora ao último e grande dia do ministério público de Jesus. Começou no templo com uma série de perguntas que visavam suscitar a descrença do povo nEle. Tais perguntas foram feitas por: 1) um comitê do Sinédrio, a respeito de Sua autoridade; 2) fariseus, a respeito dos impostos; 3) saduceus, a respeito da ressurreição; 4) fariseus, novamente, a respeito do maior mandamento e 5) pelo próprio Jesus a respeito do Cristo. Jesus combinou Suas respostas incomparáveis com três parábolas que fazem parte do terceiro grupo de parábolas, a saber: a dos dois filhos, a dos lavradores maus e a das bodas do filho do rei. A seguir, voltando-Se para Seus adversários, despejou-lhes a “censura que por toda a vida contivera”. Foram espessas e quentes as faíscas lançadas sete vezes: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas”(3) . Mereciam ouvir isso; mas Jesus também devia saber que isso seria fatal. A partir de então, Ele não deveria esperar por misericórdia. O último evento, antes de Jesus sair do templo para sempre, foi o elogio às duas moedas da viúva. Esse belo incidente, pouco depois da grande censura, foi como uma violeta primaveril florescendo no meio de uma geleira. Saindo com os doze, sentou-Se na encosta do monte das Oliveiras, de frente para o templo da cidade. Ali, em resposta a uma observação dos discípulos sobre as imensas pedras da construção e uma pergunta sobre sua Segunda vinda, Jesus proferiu o discurso sobre a destruição de Jerusalém e Sua segunda vinda. Tais lições se resumem em uma: “Vigiem; preparem-se; aproveitem as oportunidades”. Isso foi reforçado com as parábo- las das dez virgens e dos talentos. A seguir, vem o quadro ternamente solene da cena do julga- mento registrada em Mateus 25.

E assim terminou o último e mais importante dia do ministério público de Jesus, o dia mais cheio e mais variado, tanto de incidentes como de ensinos. Tendo caminhado alguns minutos com os discípulos, Jesus descansou mais uma vez nos tranqüilos arredores de Betânia.

Os inimigos de Jesus, porém, não terminaram o dia dessa maneira. Numa reunião secreta decidiram, primeiro, que Ele tinha de morrer e, depois, que Sua morte não deveria ser durante a festa; pois, eram tão covardes quanto hipócritas e não ousavam pôr as mãos nEle na presença das multidões que Lhe eram favoráveis.

Deparamo-nos aqui com um dos enigmas da história. No momento exato, Judas, um discípulo, um dos doze, que conhecia os refúgios e os lugares em que Jesus Se hospedava, apareceu e ofereceu- se para trair seu Mestre — por dinheiro. As narrativas apontam claramente como motivo a avareza (Mateus 26:14, 15; Marcos 14:10, 11; Lucas 22:3–5; cf. João 12:4–6). Aquele que censurou uma oferta de amor vendeu seu Mestre por trinta moedas de prata, um terço do valor do sacrifício de gratidão oferecido por Maria.

5. Quarta-feira: A Calmaria antes da Tempestade. — Parece não haver registro algum do que ocorreu na quarta-feira. Ficamos livres para imaginar os fatos — a cidade inteira assistindo e conjeturando por que Ele não voltara ao templo; o povo sedento para ouvir, as autoridades com sede do Seu sangue. Todavia, a obra de Jesus estava acabada. Ele deve ter conversado com os discípulos em particular, em Betânia; muito pro- vavelmente deve ter passado o dia descansando e orando em preparação para as cenas finais. Não sabemos o que aconteceu. O véu do segredo encobriu esse dia. “Naquela noite, Jesus deitou- Se na terra pela última vez. E na quinta-feira de manhã, acordou para nunca mais tornar a dormir.”

6. Quinta-feira: A Última Ceia (Mateus 26:17–35; João 13:1–17). — Em certa hora da quinta-feira, Jesus mandou dois de Seus discí- pulos à cidade para prepararem a refeição da Páscoa. À noite, Ele Se sentou à mesa mais uma vez com os doze; pois Judas ainda estava presente — na aparência, como discípulo; no coração, como traidor e espião. Enquanto tomavam seus lugares, como uma nuvem arremessada sobre o pequeno grupo, surgiu uma disputa entre eles sobre quem ocuparia o lugar de honra. Como sempre, de maneira bela, digna e tão difícil de imitar, Jesus censurou a ambição dos doze. Levantando-Se, passou a lavar-lhes os pés, como um servo comum; e voltando-Se para os discípu- los envergonhados, comoveu-lhes com aquela lição de humildade e serviço. Nuvens escuras ainda pairavam por ali, quando Jesus prosseguiu dizendo: “Um dentre vós me trairá”(4) . Judas logo se retirou — a serviço dos amigos, devem ter suposto os demais discípulos — para cumprir seu tenebroso desígnio, como bem sabia Jesus. A seguir, Jesus revelou a deserção de todos e a negação do auto-confiante Pedro. Com isto, as nuvens se dissiparam e Jesus instituiu a ceia em memória dEle e iniciou o discurso inigualável de João 14 a 16. Concluiu a conversa com a chamada oração sacerdotal (João 17); uma oração que incluiu em seu círculo mais amplo aqueles discípu- los, todos que viessem a crer em Jesus por intermédio da palavra deles e o mundo. Assim, com um sermão afetuoso e uma oração abrangente, o dia se foi até a meia-noite. Saindo do cenáculo à luz da lua, Jesus deixou a cidade para trás e andou com os discípulos em direção a Betânia.

7. Getsêmani (Mateus 26:36–46). — Na extremidade ocidental da encosta chamada Quedrom, aos pés do monte das Oliveiras, ficava o bem conhecido jardim ou pomar chamado Getsêmani
(prensa de azeite). Era um dos refúgios favoritos de Jesus. Aproximando-Se das sombras das oliveiras, Jesus dispensou todos os discípulos, exceto os três mais chegados, e adentrou o jardim para orar. Deixando os três por perto, avançou para o interior das sombras e prostrou o rosto em terra numa agonia indescritível. Estava “tomado de pavor e angústia”(5) ; “profundamente triste até a morte”(6) ; “o seu suor se tornou como gotas de sangue”(7) . Por três vezes saiu de Seus lábios o brando clamor: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres”(8) . Por três vezes virou-Se para os três discípulos vindo a encontrá-los dormindo. O que tudo aquilo significava? Seria o medo da morte física que produzia o suor de san- gue no Seu rosto e o clamor de agonia nos Seus lábios? Nesse caso, Ele teria menos heroísmo do que muitos guerreiros espartanos, menos bra- vura física do que muitos criminosos brutais no cadafalso. Teria por fim toda aquela virilidade gloriosa, que estivemos acompanhando, se encolhido até essa medida deplorável? Será que não haveria nenhum significado muito mais superior? Não seria uma tristeza muito mais poderosa que O esmagava contra a terra — o peso infinito dos pecados e das tristezas do mundo? A cena estava imbuída de um amor sagrado demais para a fria especulação. Tudo o que sabemos é que Ele saiu vitorioso disso, assim como saiu vitorioso de todos os ataques anteriores contra Seu propósito: “Ele, Jesus” foi “ouvido por causa da sua piedade” (Hebreus 5:7) e “lhe apareceu um anjo do céu que o confortava” (Lucas 22:43).
-------------------------------------------------
1 Marcos 14:6–8. Esta unção não deve ser confundida com a de Lucas 7. Aquela foi no início e esta, no final do ministério de Jesus; aquela foi na casa de Simão, o fariseu; esta foi na casa de Simão, o leproso; aquela foi feita por uma mulher regenerada; esta foi por Maria que era espiritual; naquela Simão recriminou o caráter da mulher; nesta Judas recriminou o desperdício.
2 João 12:24.
3 Mateus 23:13, 14, 15, 23, 25, 27, 29
4 Mateus 26:21; Marcos 14:18; Lucas 22:21; João 13:21.
5 Marcos 14:33; veja também Mateus 26:37.
6 Mateus 26:38; Marcos 14:34.
7 Lucas 22:44.
8 Mateus 26:39,42,44; veja também Marcos 14:36,39,41; Lucas 22:42–46

Nenhum comentário: