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terça-feira, 24 de março de 2009

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 3ª PARTE - CONSTITUIÇÃO - FUCIONAMENTO - AMBIENTE E ESPÍRITO - OS SÍMBOLOS DE FÉ


CONSTITUIÇÃO
FUNCIONAMENTO
AMBIENTE E ESPÍRITO
OS SÍMBOLOS DE FÉ


O Parlamento nomeou no dia 12 de junho de 1643 os homens que deveriam constituir a Assembléia em número de 151, sendo 121 clérigos e 30 membros do Parlamento. Entre eles se encontravam homens de vasta e profunda erudição teológica, além de se distinguirem pelo seu ardor religioso e pelo seu caráter. Havia representantes de todos os shires (condados ou distritos) da Inglaterra e das diferentes correntes evangélicas da época. A casa dos Lordes estava representada por dez deputados e a dos Comuns por vinte. Quanto ás facções religiosas, encontravam-se episcopais, entre os quais o arcebispo Usher, os erastianos, que entendiam com Erastus, de Heidelberg, que o Estado devia ser a sede final da autoridade eclesiástica, a cujo grupo pertencia o popular e erudito John Lightfoot, autor das célebres Horae Hebraicae et Talmudicae, os independentes (ou congregacionais), incluindo Thomas Goodwin, mais tarde capelão de Cromwell e Philip Nye, regressados do exílio na Holanda, os presbiterianos, e a comissão já referida de deputados da Igreja da Escócia. O moderador nomeado pelo Parlamento foi o Dr. Willíam Twisse, homem dos mais célebres de seus dias peia sua erudição teológica, coroado de honras na Universidade de Oxford e conhecido em toda a Europa pelos seus escritos. Pregou o sermão de abertura perante o Parlamento na Aba-dia de Westminster, sobre João 14:18 - "Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós". A maioria absoluta desses homens era calvinista, havendo muita unidade doutrinária e divergências em matéria de governo de igreja.

Não se deve pensar que todos esses homens tomaram assento às sessões da memorável assembléia. Os episcopais em face de haver o rei proibido a efetivação da assembléia não puderam comparecer, senão uns poucos. Os bispos anglicanos nunca reconheceram as prerrogativas da assembléia.

Na reunião de abertura havia presentes 69 deputados, algumas vezes houve 96 presentes, mas a média de freqüência era entre 60 e 80.

Impossível seria mencionar os nomes de todos os valores intelectuais e morais representados na Assembléia. Algumas referências gerais a esse respeito é justo que façamos. Richard Baxter, notável como pregador, escritor e teólogo inglês, não fez parte da Assembléia e se declara insuspeito para externar a seguinte opinião: "Os teólogos aí congregados eram homens de grande erudição, piedade, capacidade ministerial e fidelidade (...) e segundo a informação de toda História a esse respeito e de outras fontes de evidência", o mundo cristão nunca teve, desde os dias apostólicos um sínodo de teólogos mais excelentes do que este e o Sínodo de Dort". O Dr. Robert Baillie diz: "Outra assembléia igual eu nunca vi, e como se diz aqui, semelhante nunca houve na Inglaterra nem é provável que breve venha a existir em qualquer parte".

O FUNCIONAMENTO DA ASSEMBLÉIA

O Parlamento estabelecera cerca de dez regras bem definidas de regimento interno. Além destas a Assembléia adotou mais outras. Todas as sessões deviam abrir-se com oração, nenhuma proposta seria votada no mesmo dia de sua apresentação. Tudo que se desejasse estabelecer deveria ser baseado nas Escrituras. A mais ampla liberdade de discussão deveria ser assegurada a todos. O horário era das 9 às 16 horas todos os dias úteis exceto aos sábados.

O AMBIENTE E O ESPÍRITO

Numa mesa num estrado alto preside o Dr. Twisse, um pouco à frente os dois assessores-chefes ou vice-moderadores em cadeiras à direita e à esquerda do presidente. Na extremidade de longa mesa estreita, sentam-se os dois secretários; em bancos ao longo da sala os escoceses, em bloco, à direita do moderador;nos lugares restantes, os membros da Câmara dos Comuns e os teólogos ingleses. Os membros da Casa dos Lordes têm fácil acesso à lareira. A indumentária dessa gente é variada e bizarra, de acordo com uso da época: os Lordes com seus casacos vividos, folgados e espadas balouçantes; os teólogos ingleses de togas à moda de Genebra; um ou outro clérigo com suas vestes canônicas; os Comuns, de longas meias de seda, capinhas curtas e calções pelo joelho, tudo de cores sombrias, em contraste com a frivolidade, para não dizer com o almofadismo, dos Lordes; os teólogos escoceses, irrepreensivelmente barbeados, cabelos cortados a escovinha, colete abotoado até o pescoço, casacos apertados, calções (knee breeches) e sapatos delicados com fivelas de prata... Isso mereceria comento, se não estivesse fora do propósito desta hora.

Apreciemos rapidamente o espírito da Assembléia. As discussões tinham cunho elevado e alta erudição. Havia debates ex-tempore que maravilhavam os mais cultos. Não se economizava tempo, a despeito da confusão política e religiosa dominante no país. Baillie diz que "eles arengavam demorada e eruditamente". Os jejuns eram freqüentes, pelo menos um dia em cada mês. Caracterizavam a Assembléia, profunda reverência pela autoridade das Escrituras, senso de completa dependência de Deus, espírito de oração a que dedicavam largo tempo. Realizavam cultos solenes, consagrando, âs vezes, todo um dia a esse fim.

O Rev. Robert Baillie nos conta como num dia desses de jejum e culto houve quem orasse duas horas, sermões de uma hora entrecortados por orações de uma hora, por cântico de salmos ou orações de quase duas horas. Refere-se com profunda apreciação à oração do Dr. Marshall de duas horas. Termina dizendo que Deus evidentemente estivera presente nesses exercícios todos, devendo ter sido uma bênção não só para a Assembléia como para todo o Reino e mais ainda afirma que esse fora um dos dias mais deliciosos que ele experimentara na Inglaterra, o dia 17 de maio de 1644.

E não se deve levar à conta de fanatismo ou exagero essa atitude dos teólogos de Westminster, e sim â conta da consciência que esses homens tinham dos perigos que ameaçavam a obra do Reino de Deus. Merece respeito a descrição que Baillie faz da oração fervorosa e piedosa do Dr. Marshall, de duas horas. Diz um escritor que, nas suas circunstâncias, quando esses homens chegavam ao trono da graça não sabiam mais como deixá-lo, sem receber a bênção pedida. Se tudo que se disse até aqui demonstra a importância dessa assembléia, mais ainda o revelará a consideração das suas realizações.

SUA PRINCIPAL OBRA - OS SÍMBOLOS

A Assembléia que esteve reunida durante cinco anos, seis meses e vinte e dois dias, celebrou 1163 sessões, não se mencionando as centenas de reuniões de comissões e subcomissões. O resultado desse esforço foi a produção dos documentos seguintes:

A Confissão de Fé, os Catecismos, o Maior e o Breve, o Diretório de Culto Público a Deus a Forma de Governo de Igreja e Ordenação e um Saltério - os Salmos metrificados para uso no culto público. Esses documentos não estão aqui na ordem cronológica de aprovação pelo Parlamento mas foram por este aceitos entre 1644 e 1648, tomando-se a Igreja Presbiteriana oficial na Inglaterra, em substituição da Igreja Anglicana com seus bispos e arcebispos.

A aprovação final da Confissão de Fé, se deu em 22 de março de 1648, mas só durou doze anos na Inglaterra a oficialização do presbiterianismo, pois na restauração de Carlos II, em 1660, a Igreja Anglicana foi de novo oficializada e o presbiterianismo rejeitado. Na Escócia, porém, aprovada pela Assembléia Geral da Igreja em 15 de fevereiro de 1645 e ratificada pelo Parlamento em 1690, permaneceu. Tem-se a impressão de que a obra falhara na terra em que nascera, quando Cromwell em 1660 estabeleceu o episcopado, os 39 Artigos e o Livro de Orações Comuns, anglicano. A Inglaterra nunca se tomou fortemente presbiteriana. A Igreja Presbiteriana lá hoje existente, de origem recente, não tem raízes na Assembléia de Westminster. Mesmo assim o esforço não foi de todo perdido, pois como resultado final estabeleceu-se uma monarquia constitucional e um episcopado moderado, com um edito de tolerância em favor dos dissidentes protestantes. Mas os presbiterianos escreveram então nesses dias lancinantes páginas de sua história. Logo de início o rei Carlos II permitiu a adoção de medidas pelo Parlamento que excluíam da Igreja dois mil ministros simpáticos ao presbiterianismo e na Escócia quatrocentos foram destituídos de suas igrejas, sofrendo, ministros e leigos, torturas, prisões, exílio. Foi nessa época que John Bunyan, pregador batista, autor de O Peregrino, esteve doze anos na prisão de Bedford, em que escreveu a obra referida. Alarmados com a determinação do rei católico, Tiago H, irmão e sucessor de Carlos II de restabelecer o romanismo, os ingleses depuzeram-no e convidaram Guilherme, de Orange, genro de Tiago II, a vir, como presbiteriano holandês, em socorro da religião e da liberdade na Inglaterra. Abriram-se as portas das prisões, muitos ministros reassumiram já velhos o seu pastorado, quebrou-se o poder do papa e o protestantismo ficou estabelecido definitivamente como a religião do povo inglês. Raiava a aurora do dia por que haviam suspirado e orado os crentes durante dois séculos.

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