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sexta-feira, 6 de março de 2009
O MODO DE ADMINISTRAR O BATISMO CRISTÃO - PHILIPPE LANDES
O Simbolismo do Batismo Cristão — Um símbolo é alguma coisa material a que se dá uma significação espiritual. Água é um símbolo de purificação. Tratando-se do batismo cristão a água é, no dizer de Santo Agostinho, um sinal visível de uma graça invisível. A graça invisível é a regeneração do pecador ou, em outras palavras, a purificação dos seus pecados pela atuação do Espírito Santo de Deus. A essa graça invisível a Escritura também dá o nome de novo nascimento (João 3:5-8).
A Água do Batismo não Regenera a Pessoa Batizada — Essa água não contém em si mesma qualquer virtude milagrosa ou sobrenatural para fazer do pagão um cristão. O poder regenerador é exclusivamente do Espírito Santo que aplica ao pecador as bênçãos da redenção adquiridas por nosso Senhor Jesus Cristo. Paulo afirma que fomos salvos "pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5). A água usada no batismo cristão é apenas o símbolo apropriado da preciosa realidade espiritual da regeneração.
A maioria dos crentes evangélicos aceita como verdadeira a doutrina que acabamos de expor. Surgem, no entretanto, divergências quando se trata do modo de administrar o batismo e do batismo de crianças.
O Modo de Administrar o Batismo Cristão — Conquanto julguemos não ser essencial à validez do batismo o modo de administrá-lo, temos razões bíblicas para crer que o modo mais apropriado deve ser por derramamento.
Lemos nas Escrituras Sagradas que o Espírito Santo é derramado sobre os crentes. Em Atos 2:17 e 18 é citada a profecia de Joel que se cumpriu no dia de Pentecostes: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, “que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; ... E sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias e profetizarão”.
Em Atos 2:32 e 33, Pedro afirma a mesma verdade: “A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, pela destra de Deus e, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou o que vedes e ouvis”.
O Espírito Santo, tendo sido derramado para produzir o “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3.5), é muito apropriado que a água seja derramada para representar esse fato. Para nós, esse modo de batizar é evidentemente bíblico. O termo efusão também significa derramamento e a aspersão é outra forma de derramamento em que se emprega menos água. Nós os aspersionistas, derramamos um pouco de água na cabeça do batizando. Para nós, a quantidade de água usada não é essencial; po¬derá ser pouca ou muita, contanto que se aplique a água ao batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como Jesus mandou. O fato é que o Espírito Santo foi derramado sobre nós, mas não fomos imersos nele. É por esses motivos que preferimos o derramamento à imersão, como o modo mais apropriado e mais bíblico de batizar.
A Significação da Palavra Baptizo no Novo Testamento — Há muitos imersionistas que afirmam ser uma deso¬bediência a um mandamento claro de Jesus o batizar por efusão ou aspersão. Dizem esses imersionistas que batizar (baptizo no grego do Novo Testamento) significa sempre e somente imergir e por isso o último mandamento de Jesus exige a imersão, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Alguns deles insistem até mesmo em uma tríplice imersão.
Acusados de desobediência a Cristo, nós os aspersionistas vemo-nos na obrigação de examinar as Escrituras, a exemplo dos bereanos, para ver “se essas coisas são assim” (Atos 17:11).
Vamos mostrar pelas Escrituras que os nossos irmãos imersionistas não têm razão de nos acusar de desobedientes, visto como há várias passagens no Novo Testamento em que baptizo, não pode significar imergir. Não é verdade que baptizo significa sempre e somente imergir. Vejamos as provas.
Quando Paulo foi batizado, disse-lhe Ananias: “Agora, porque te demoras? levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados” (Atos 22:16). “E Paulo levantando-se foi batizado" (Atos 9:18). Já se vê que Paulo levantou-se para ser batizado e foi batizado em pé, como são batizados os aspersionistas. Não há outra interpretação admissível do batismo do Apóstolo Paulo.
O particípio Levantando-se não dá lugar a um ato inter¬mediário entre o levantar-se e o batizar, pelo qual Paulo pudesse ter saído para procurar um tanque ou um rio para se mergulhar. O batismo veio logo após o ato de se levan¬tar, provando que Paulo foi batizado em pé. Eis um caso em que baptizo não significa imersão.
Um segundo caso em que baptizo não pode, de maneira alguma significar imersão é o de Lucas 11:38. Jesus fora convidado para tomar uma refeição em casa de um fariseu e este estranhou que ele não se batizara antes de jantar. No original grego a palavra empregada é baptizo. Tanto a tradução brasileira como a de Almeida, neste caso, traduz essa palavra por lavar. “Mas o fariseu admirou-se, vendo que se não lavar antes de jantar”. No entanto, a palavra no grego é baptizo.
É interessante indagar o que esperava o fariseu que Jesus fizesse. Como se batizavam os judeus antes de comer? Marcos nos explica de que modo os judeus se batizavam antes de comer: “Os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; e quando voltam da rua, não comem sem se aspergir, e muitas outras coisas há que receberam e guardam, como a lavagem dos copos, jarros e vasos de metal” (Marcos 7:3,4). Citamos nesta passagem a tradução brasileira por ser mais fiel ao original. O original emprega a palavra baptizo que, conforme admissão dos próprios imersionistas, significa aspergir. Os judeus, quando vinham da rua não comiam sem se aspergir. O batizar que o fariseu estranhou não ter sido feito por Jesus foi uma aspersão, conforme a explicação de Marcos. Esse batizar (baptizo) era, portanto, um aspergir (baptizo). Conclui-se que baptizo nem sempre significa imergir. Bastaria um só caso ao contrário para provar isso, mas há ainda outros.
As abluções (ofertas) cerimoniais às quais o autor da Carta aos Hebreus se refere, denominando-as batismos, não eram imersões. Em Hebreus 9:10 a palavra que se traduz por abluções, no original grego é batismos. Como podemos saber que esses vários batismos não eram imersões? A passagem tomada como um todo (Heb. 9:1-22) trata do simbolismo do tabernáculo, de sacrifícios e de várias abluções cerimoniais. Essas abluções que no grego têm o nome de batismos eram feitas por aspersão, como se vê por um exame dos versículos 13, 19 e 21. A água da purificação era aspergida sobre os contaminados para purificação da carne e Moisés tomava do sangue, com outros elementos, e o aspergia sobre o livro da lei, sobre o próprio tabernáculo e sobre todos os vasos do serviço sagrado. Concluímos que os vários batismos de Heb. 9:10 eram aspersões e não imersões.
O batismo de I Cor. 10:1,2 não foi tampouco uma imersão. Os israelitas estiveram debaixo da nuvem e passaram pelo mar. “E todos em Moisés foram batizados na nuvem e no mar”. Não se pode admitir que foram imersos no mar, pois passaram por ele a pé enxuto. Foram imersos no mar os egípcios, mas não os israelitas. Toma-se claro que nessa passagem o batismo no mar não foi por imersão. A palavra batizar nesta passagem, não tendo o sentido de imersão, não houve tampouco prova de imersão na nuvem. O batismo em Moisés, como veremos adiante foi uma transação espiritual que também não poderia ter sido uma imersão.
A palavra batizar, como explica o eminente teólogo Dr. Charles Hodge, não indica o modo de se praticar o ato. É semelhante à palavra banhar-se. Uma pessoa pode banhar-se fazendo uso de uma banheira cheia de água, de um chuveiro, de uma lata com que derrama água sobre o corpo, ou até mesmo de um pano molhado. Semelhantemente a palavra batizar não indica o modo de praticar o ato, se por aspersão, efusão ou imersão. Todavia, temos razões bíblicas para crer que o batismo cristão tenha sido por efusão. O termo efusão é equivalente a derramamento e aspersão; tem praticamente o mesmo sentido, porque a água desce, embora em quantidade menor, sobre a cabeça do batizando, como o Espírito Santo desceu sobre as cabeças dos crentes em Jesus (Atos 1:5,8; 10; 44 e 11:15).
Distinção entre Batismos com Água e Batismos Espirituais — Para se compreender bem a questão do modo do batismo, é de conveniência distinguir os batismos com água dos batismos de sentido espiritual.
Quando, no Novo Testamento, se trata de batismos com água, os escritores empregam a expressão batizar em nome de Jesus ou em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Isso se verifica nas seguintes passagens: Mat. 28:19; Atos 2:38; 8:16; 10:48 e I Cor. 1:13 e 15. Trata-se nesses versículos da ordenança cristã do batismo com água.
O batismo com o Espírito Santo é reconhecidamente um batismo espiritual e ser batizado em Cristo importa em uma união espiritual com Cristo (Gal. 3:27); Rom. 6:3), Ser batizado na morte de Cristo importa em uma união com Cristo na sua morte (Rom. 6:3). O nosso velho homem morre com Cristo na sua morte e com Ele ressuscita para novidade de vida (Rom. 6:4). Ser batizado em Moisés, para os israelitas, importava na sua união com Moisés como seu líder e chefe. Pela experiência da travessia do Mar Vermelho tornaram-se solidários com o seu grande líder e aceitaram a sua chefia.
Em I Cor. 12:13, Paulo afirma que os crentes, judeus, gregos, livres ou escravos, foram batizados em um só Corpo, pelo Espírito Santo, isto é, se uniram com a Igreja Cristã que é o Corpo de Cristo. Trata-se evidentemente de uma união espiritual. Ser batizado em alguém ou em alguma coisa é uma transação espiritual que nos liga com alguma pessoa ou com alguma coisa.
A Significação Espiritual de Rom. 6:1-11. — Nesta passagem o Apóstolo Paulo argumenta que a pessoa ligada com Cristo (isto é, batizada em Cristo) não pode permanecer no pecado. O pecado não terá domínio sobre essa pessoa. Não há nessa passagem nenhuma referência ao batismo com água. A passagem não foi escrita para ensinar o modo do batismo. A morte, o sepultamento e a ressurreição do velho homem para uma nova vida são semelhantes à crucificação, ao sepultamento, à morte e à ressurreição de Cristo, mas não é uma imersão em água como entendem os imersionistas. Se o batismo em Cristo fosse um batismo com água, disso resultaria o absurdo da regeneração batismal. Sabemos que o batismo com água não pode produzir a novidade de vida do versículo 4 de Romanos capítulo 6. Já se vê que o grande apóstolo não compara a nossa regeneração (novidade de vida) com imersão em águas batismais, mas com a crucificação, morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. O batismo em. Cristo é uma união íntima com Ele que produz em nós nova vida e não é um batismo em água, incapaz de produzir a regeneração. Concluímos, portanto, que Romanos 6:1-11 nada ensina sobre o modo do batismo com água.
Lavar ou Enterrar? — Quando os Imersionistas com¬param a nossa regeneração com um lavar em água e, ao mesmo tempo com um sepultamento debaixo da terra, isso resulta em uma confusão de símbolos e de água com terra. O batismo deve representar ou um lavar ou então um enterrar, mas não as duas coisas ao mesmo tempo. A água deve ser simbólica unicamente do “o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3:5), como se verifica no caso de Paulo a quem Ananias disse: “Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados” (Atos 22:16). Não há nesse batismo de Paulo nenhuma representação de um enterro, mas antes um lavar de pecados.
Ademais, o batismo imersionista não é semelhante ao sepultamento de Jesus. O seu corpo não foi colocado debaixo da terra, mas em túmulo aberto em uma rocha (Mat. 27:60). A entrada do túmulo foi tapada com uma pedra, sem que o corpo de Jesus fosse coberto de terra. Jesus não foi enterrado à semelhança de uma imersão em água.
O Modo dos Batismos do Novo Testamento — Já tivemos ocasião de mostrar que o batismo de Paulo não foi por imersão, visto ter sido ele batizado em pé. (Atos 9:18).
Os batismos feitos por João Batista provavelmente não eram imersões. Os judeus faziam as suas abluções e purificações cerimoniais por aspersão e é provável que João tenha seguido o costume que estava em uso (comparar Heb. 9:10 com Num. 8:5-7 e Num. 19:17,18 com Heb. 9:13, 19 e 21).
As vezes afirma-se que o batismo de João Batista devia ter sido por imersão, porque havia muitas águas onde ele batizava (João 3:23), mas as muitas águas eram necessárias para abastecer desse precioso líquido as multidões que vinham a ele para serem batizadas (Marcos 1:5). Onde há acampamento de grandes multidões é necessário que haja muita água para abastecê-las.
Teria sido para João uma impossibilidade física batizar por imersão todo o povo da “província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão.” (Mar¬cos 1:5), e, no entanto, se fizesse uso de um ramo de hissopo, como era costume entre os judeus, poderia molhá-lo e aspergir as multidões.
Há ainda outros que procuram mostrar que houve imersão porque as Escrituras afirmam que a pessoa batizada entrava na água e depois saía da água. Isto não constitui prova de imersão. Animais entram na água para beber e saem dela sem se imergirem. É possível entrar em um rio para tomar banho e sair novamente sem molhar a cabeça e sem mergulho.
No caso do batismo do eunuco, narrado em Atos 8:26-39, Lucas declara que ambos, o eunuco e Felipe, desceram à água e que depois subiram da água. Se as preposições usadas por Lucas para descrever a entrada do eunuco na água e a sua saída dela importam em uma imersão, então a entrada de Felipe na água e sua saída dela importariam igualmente na sua imersão. Conclui-se logicamente que Felipe também foi imerso; o que é contrário aos fatos. Todos admitem que Felipe, o oficiante, não foi imerso, logo, o entrar e sair da água não importa necessariamente em imersão.
No memorável dia de Pentecostes, quando três mil pessoas foram admitidas na Igreja Cristã pelo rito do batismo, não é provável que as admissões fossem por imersão, pois Jerusalém era uma cidade reconhecidamente de pouca água e, mesmo quando houvesse tanques com água suficiente, não estariam à disposição dos apóstolos para tantas imersões. A tarefa de batizar por imersão três mil pessoas, em poucas horas, nessa cidade, seria muito provavelmente impossível.
Quando Cornélio foi batizado com os seus, Pedro perguntou: “Porventura, pode alguém negar a água para que sejam batizados estes que receberam o Espírito Santo como nós?” (Atos 10:47). A expressão: “Pode alguém negar a água?” parece indicar que a água deveria ser trazida para o recinto onde estavam congregados.
O carcereiro de Filipos e a sua família foram bati¬zados lá pela meia noite na sua casa adjacente à cadeia. Não é provável que nessas circunstâncias, houvesse, na casa, um tanque de dimensões suficientes para imersões.
Não há no Novo Testamento nenhum caso provado de batismo por imersão, mas há vários casos em que os ba¬tismos não podiam ser imersões.
O Modo de Celebrar Ritos é Questão Secundária e de Somenos Importância — Nosso Senhor Jesus Cristo não deu importância ao modo de observar ritos exteriores, mas antes às realidades espirituais por eles representadas. O modo é questão secundária. Se o modo de celebrar o rito do batismo fosse essencial à nossa obediência ao Divino Mestre, ele nos teria esclarecido sobre esse ponto de maneira a não deixar dúvida alguma no espírito de seus seguidores. O fato é que há divergência entre cristãos sinceros e esclarecidos sobre essa matéria. Está aí a prova da que Jesus não a considerou essencial. Ele também nos ensina que não devemos ser intolerantes para com aqueles que não seguem conosco, quando estes estejam trabalhando em seu nome. (Marcos 9:38-41).
PHILIPPE LANDES - "O BATISMO CRISTÃO"
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