Total de visualizações de página

domingo, 7 de dezembro de 2008

A IMPORTÂNCIA DOS MUROS


A importância dos muros é vista, não somente na proteção que eles nos oferecem, mas, também, no fato que eles estabelecem limites para nós.
Por um lado, os muros servem para proteger das influências maléficas que jazem do lado de fora; por outro lado, os muros servem para preservar os padrões de vida que governam o comportamento daqueles que existem no lado de dentro.
Em época de guerra, havia uma diferença indiscutível entre quem se encontrava dentro de uma cidade, cujos muros serviam de proteção, e aquele que se encontrava morando em aldeias ou campos desprotegidos ao redor. Em nossos dias, a evidência de que estamos numa batalha espiritual está se tornando cada vez mais clara (Efésios 6.1,12). Os muros derrubados, no tempo de Neemias, afirmaram a importância de haver muros que protegessem e preservassem.
Não muito distante de nós, na vizinhança de Atibaia, existe um movimento conhecido como "Vinde Meninos". É um ministério que visa a formação de vários lares para crianças órfãs e outras abandonadas. Esse ministério tem uma filosofia bíblica baseada em Salmos 68.6, onde diz: "Deus faz que o solitário more em família". Cada família formada, neste caso, é como uma cidade cercada de muros, pois ela oferece proteção e preservação. Olhando para esses lares, hoje em dia, eu vejo uma diferença enorme entre quem mora dentro desse novo contexto e quem continua no lado de fora.
Nunca jamais vou me esquecer de meu filho que, ao sair de casa pela primeira vez, para estudar na Universidade, voltou agradecido, na primeira oportunidade, para o contexto de um lar que representava proteção e preservação para ele. Pela primeira vez, ele compreendeu a importância dos muros que foram erguidos ao redor de sua vida. Na sala de aula, ele foi instruído que casamento é uma coisa do passado, que família é algo ultrapassado. Os muros, em família, o protegeram dessa idéias maléficas e preservaram o estilo de vida cujo padrão se encontrava na Palavra.
Os nossos filhos precisam sentir a presença de muros em suas vidas. Não é difícil entender como a presença de muros pode protegê-los. Mas, em que sentido os muros preservam? Os muros preservam na medida em que estabelecem limites. Mas quem estabelece estes limites? Deus os estabelece. Se analisar, cuidadosamente, os Dez Mandamentos, você percebe que Deus estava querendo preservar a nossa vida. A idéia de Deus, ao estabelecer estes mandamentos, não era proibir no sentido de ser um "desmancha prazeres", mas sim, permitir que o homem desenvolvesse uma vida plena. Porém, muitos não enxergam este lado da lei, só enxergam os limites fixados e se rebelam contra os mesmos.
Isto nos leva a considerar um assunto de suma importância. Sim, os muros realmente estabelecem limites. Não gostamos de ouvir este tipo de conversa em nossa época.

Vivemos numa sociedade que alega que absolutos não existem mais, tudo é relativo.
Sim, hoje, os nossos filhos aprendem na escola, na vizinhança, na sociedade esta filosofia de vida. Quer dizer, não existe o "certo" e o "errado". Estas idéias, estas filosofias, invadem a nossa mente e a mente de nossos filhos, diariamente, por todos os meios de comunicação. Se não houver nenhu¬ma tentativa de nossa parte, como pais, de combater essas influências destruidoras, os nossos filhos não serão protegidos contra esses ataques e nem tampouco os princípios bíblicos serão preservados por eles.
As nossas tentativas de reconstruir estes muros importan¬tes, contudo, terão que enfrentar o cinismo de nossa época como aconteceu nos dias de Neemias.
"Tendo Sambalá ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira e se indignou muito, e escarneceu dos judeus... Ainda que edifiquem, vindo um raposa derrubará o seu muro de pedra... Mas ouvindo... que a reparação dos muros de Jerusalém ia avante e que já se começavam a fechar-lhe as brechas, ficaram sobremodo irados. Ajuntaram-se todos de comum acordo para virem atacar Jerusalém e suscitar confusão ali" (Neemias 4.1-3, 7, 8).
Enquanto escrevo este artigo, um de nossos filhos, universitário, está sendo cercado, junto com a sua namorada, por uma nova seita que age no campus da USP. Ela é conhecida como A Igreja de Cristo Internacional. Entre outras coisas, os

jovens são pressionados a deixar suas casas, abandonar seus pais, e, às vezes, seus estudos ou trabalho para "seguir a Cristo". Há um controle excessivo exercido pelos líderes sobre seus membros e esse controle não é apenas visto em assuntos espirituais, mas também em atividades da vida cotidiana do discípulo e até mesmo em assuntos da vida privada dos casais. O membro da igreja é regularmente exortado por seus líderes a rejeitar as relações com os membros da família, a favor da sua nova "família espiritual". Como 80% das pessoas que fazem parte do Movimento estão entre as idades de 18 e 28 anos, normalmente elas se separam dos pais e, às vezes, seus cônjuges também são abandonados porque não quiseram se unir ao Movimento.
Estão me acompanhando? Estão conseguindo me entender sobre a necessidade de muros para proteger e preservar a nossa família?
Torna-se necessário entender que, apesar de tais ataques, existem absolutos e é o nosso Deus, mediante as Escrituras, que estabelece tais

absolutos. Nos tempos de Neemias não havia dúvidas sobre viver "dentro" ou "fora" das muralhas de Jerusalém. De fato, em 7.4, descobrimos que "a cidade era espaçosa e grande, mas havia pouca gente nela". Neemias, então, desenvolve uma tática para solucionar esta questão e, assim, atrair pessoas para dentro de seus muros onde estariam seguras.
Hoje em dia, contudo, as distinções quanto a quem ou o que está "dentro" e quem ou o que está "fora" dos muros não são muito claras. Há muita confusão! A própria igreja, muitas vezes, não mais crê em absolutos. A igreja, que deveria estar oferecendo respostas sólidas, concretas, está totalmente comprometida. Para onde é que os nossos filhos vão olhar em busca de orientação? Vamos agir para que sintam a proteção dos muros erguidos em nossos lares e vamos nos preocupar com a preservação desses muros.
De Sambalá, Tobias e Gesém (2.19), os grande inimigos de Neemias, foi dito: "Não tendes parte, nem direi¬to, nem memorial em [dentro dos muros de] Jerusalém" (2.20). E eles ficaram por conta da seguinte situação: "muito lhes desagradou que alguém viesse a procu¬rar o bem dos filhos de Israel"(2.10). Consequentemente, eles tentaram, por todos os meios possíveis, desa¬nimar aqueles que reconstruíam os muros, a fim de intimidá-los. "Quando souberam, zombaram de nós, e nos desprezaram e disseram: Qúe é isso que fazeis?" (2.19).
Sambalá, Tobias e Gesém estão conosco em nosso dias! Cada vez que você liga a TV, abre uma revista, lê o jornal, você se encontra com eles. São eles que procuram estabelecer a marcha, marcar o compasso, determinar a mentalidade de nossa época. Infelizmente, é mais fácil se submeter à sua filosofia de vida do que tentar defender absolutos e sofrer o impacto da gozação e da zombaria.
Ninguém gosta de ser alvo de risadas, ninguém gosta de ser ridicularizado! Pode você imaginar a pressão experimentada por seu filho na escola, durante um aula de educação sexual, tendo que defender um ponto de vista considerado totalmente "antiquado" e arcaico"? Pode você, nesse momento, imaginar a sala inteira rompendo em gargalhadas, criando um ambiente tão tenso que seu filho gostaria de sumir do mapa, de tão embaraçosa que ficou a situação para ele?
Sim, seu filho está certo e você sabe disto! Quando ele defendeu seu ponto de vista de que o sexo praticado fora do casamento está errado, ele demonstrou a sua firme convicção na existência de absolutos. Mas, pode você imaginá-lo recebendo um bombardeio de questionamentos quando ele se toma o alvo de zombaria e gozação por parte de seus colegas de classe? Ele precisa sentir a proteção dos muros do lar cristão nessa hora e perceber a preservação desses absolutos por parte de pais totalmente comprometidos em defendê-los a qualquer preço!
O argumento que ouvimos, tanto fora da igreja como dentro dela, é que os tempos mudaram. Eu não tenho nenhuma dúvida sobre isto. Mas os absolutos encontrados nas Escrituras não mudaram! Infelizmente, contudo, os absolutos não mais significam qualquer coisa para uma sociedade que pensa e diz: "Se você se sente bem em fazer, faça". A experiência da pessoa é o fator que determina o que está "certo" ou "errado". Se há prazer na experiência, então é "certo" fazer.

Veja como isto confunde a questão. Nem a minha "experiência" é válida, nem a sua, para determinar se a experiência do outro é "certa" ou "errada". Nesta altura, cada um se torna a sua própria regra, a sua própria norma. O importante, segundo a nossa sociedade, é que sejamos felizes, não importa como a gente possa chegar lá.
Recentemente, no meu estudo da Palavra, o seguinte trecho

falou profundamente ao meu coração: "Porque as armas da nossa milícia não são carnais" (2Coríntios 10.4). Elas não são carnais porque a nossa luta, segundo Paulo em Efésios 6.12: "não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes".
Este último trecho me informa que, por trás de Sambalá, Tobias e Gesém (que, no caso, representam o sangue e a carne), existem "as forças espirituais do mal". É com estas forças que precisamos nos preocupar e lidar.
Paulo, em 2Coríntios 10.4,5, continua por dizer: "as armas de nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas" [isto é, a filosofia de nossos dias]. Como é feito isso? "Anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus". Como é feito isso? "Levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo", isto é, por reconhecer os absolutos que existem na Palavra de Deus.
Irmãos, vamos ter certeza de uma coisa: os muros são importantes para nos proteger daquilo que está no lado de fora e para preservar para nós aquilo que está no lado de dentro.
Portanto, vamos levar a sério esta questão dos muros erguidos ao redor de nossa família. Vamos oferecer aos nossos filhos um ambiente seguro em que possam crescer, adquirir valores corretos e ter como defender-se no meio de um mundo pervertido e corrupto.

Gavin Levi Aitken
Em O Evangelista de
Crianças

BODAS DE CASAMENTO - 01 À 100 ANOS


Embora ocorram variações nos materiais associados, a lista abaixo é a que encontramos mais freqüentemente:

01º - Bodas de Papel
02º - Bodas de Algodão
03º - Bodas de Couro ou Trigo
04º - Bodas de Flores, Frutas ou Cera
05º - Bodas de Madeira ou Ferro
06º - Bodas de Açúcar ou Perfume
07º - Bodas de Latão ou Lã
08º - Bodas de Barro ou Papoula
09º - Bodas de Cerâmica ou Vime
10º - Bodas de Estanho ou Zinco
11º - Bodas de Aço
12º - Bodas de Seda ou Ônix
13º - Bodas de Linho ou Renda
14º - Bodas de Marfim
15º - Bodas de Cristal
16º - Bodas de Safira ou Turmalina
17º - Bodas de Rosa
18º - Bodas de Turquesa
19º - Bodas de Cretone ou Água Marinha
20º - Bodas de Porcelana
21º - Bodas de Zircão
22º - Bodas de Louça
23º - Bodas de Palha
24º - Bodas de Opala

25º - Bodas de Prata

26º - Bodas de Alexandrita
27º - Bodas de Crisoprásio
28º - Bodas de Hematita
29º - Bodas de Erva
30º - Bodas de Pérola
31º - Bodas de Nácar
32º - Bodas de Pinho
33º - Bodas de Crizopala
34º - Bodas de Oliveira
35º - Bodas de Coral
36º - Bodas de Cedro
37º - Bodas de Aventurina
38º - Bodas de Carvalho
39º - Bodas de Mármore
40º - Bodas de Esmeralda
41º - Bodas de Seda
42º - Bodas de Prata dourada
43º - Bodas de Azeviche
44º - Bodas de Carbonato

45º - Bodas de Rubi

46º - Bodas de Alabastro
47º - Bodas de Jaspe
48º - Bodas de Granito
49º - Bodas de Heliotrópio

50º - Bodas de Ouro

51º - Bodas de Bronze
52º - Bodas de Argila
53º - Bodas de Antimônio
54º - Bodas de Níquel
55º - Bodas de Ametista
56º - Bodas de Malaquita
57º - Bodas de Lápis-lazúli
58º - Bodas de Vidro
59º - Bodas de Cereja

60º - Bodas de Diamante

61º - Bodas de Cobre
62º - Bodas de Telurita
63º - Bodas de Sândalo
64º - Bodas de Fabulita
65º - Bodas de Platina
66º - Bodas de Ébano
67º - Bodas de Neve
68º - Bodas de Chumbo
69º - Bodas de Mercúrio
70º - Bodas de Vinho
71º - Bodas de Zinco
72º - Bodas de Aveia
73º - Bodas de Manjerona
74º - Bodas de Macieira

75º - Bodas de Brilhante ou Alabastro

76º - Bodas de Cipestre
77º - Bodas de Alfazema
78º - Bodas de Benjoim
79º - Bodas de Café

80º - Bodas de Nogueira ou Carvalho

81º - Bodas de Cacau
82º - Bodas de Cravo
83º - Bodas de Begônia
84º - Bodas de Crisântemo

85º - Bodas de Girassol

86º - Bodas de Hortênsia
87º - Bodas de Nogueira
88º - Bodas de Pêra
89º - Bodas de Figueira
90º - Bodas de Álamo
91º - Bodas de Pinheiro
92º - Bodas de Salgueiro
93º - Bodas de Imbuia
94º - Bodas de Palmeira

95º - Bodas de Sândalo

96º - Bodas de Oliveira
97º - Bodas de Abeto
98º - Bodas de Pinheiro
99º - Bodas de Salgueiro
100º - Bodas de Jequitibá
O próximo ??? Ora, use a imaginação !!!

“OS GRANDES INIMIGOS DO CASAMENTO” – Salmo 127


I – INFIDELIDADE: Assunto tão sério, tão delicado, que em Mt.5:32 Jesus abre uma exceção para o divórcio, declarando que o adultério é motivo suficiente para acabar com um casamento. A menos que a parte ofendida seja capaz de oferecer perdão, e a parte infiel se arrependa de verdade, aquilo que Deus abomina, que é a separação, torna-se solução legal para pôr fim a algo ainda mais abominável a seus olhos, que é o adultério, a infidelidade.
A infidelidade é detestável em ambos os sexos. O problema é que a sociedade tende a ser extremamente machista. Um homem adultera, e as pessoas dizem: “Coitado, deixou-se levar pela tentação, caiu numa fraqueza”. Mas, se acaso é a mulher quem adultera, o comentário já é bem diferente: “É uma vagabunda, uma sem vergonha, uma prostituta!”- e a desqualificamos. O homem adultera e se espera, quase exigindo que a mulher seja indulgente, misericordiosa, compreensiva. Se é ela quem comete o deslize, o conselho que se dá ao marido é que a expulse de casa, porque ela não presta, não merece perdão. O estigma do adultério sobre a figura da mulher numa sociedade facciosa, apaixonada, parcialista, é terrível. Do ponto de vista de Deus, a infidelidade é abominável tanto para ele como para ela.
II – MENTIRA: Mesmo aquelas que começam pequenas: “Ah! É um mentirinha à toa, só para não ficar aborrecido...”. Cuidado com as mentiras! Elas sempre vêm do diabo, tenham o tamanho que tiverem. A mentira, além disso, desemboca fatalmente na desconfiança, e o cônjuge que descobre que a outra parte mente torna-se um eterno desconfiado.
III – CIÚMES: Este sentimento, quando exacerbado (agravado), levado ao exagero, mina qualquer relacionamento, destrói o amor. Que não se confunda ciúme com zelo. O ciúme representa falta de confiança profunda – não apenas no outro, mas creio que acima de tudo em si próprio. Se alguém – e isto sem qualquer vanglória – se julga à altura do alheio e luta por manter o nível, contribuindo para que o respeito e a admiração prossigam para o alto, então não tem o que temer. E se a confiança for turbada, quebrada, o responsável pela ruptura é que deverá sofrer as conseqüências.
Se me sinto digno do amor, do carinho de alguém, por que viver em fogo, sempre temerosos, sempre duvidando, apreensivo, inquieto? Um certo ciúme, espontâneo, comedido, que mais significa zelo, cuidado, que outra coisa, é até perdoável e natural.
Este sentimento assim domado, tranqüilo, racional, pode até impedir que o outro destelhe o lar, a família, facilite brechas, entradas indevidas. Contudo, entre essa preocupação necessário e justificável e um temor irracional – o ciúme caudaloso, doentio, quem sabe mascarado de outros tantos nomes – há uma distância enorme, sim, tem que ser combatido com zelo, e desde a mais tenra idade, pois é joio, produto de um sentimento pertinaz, que cria um raizame difícil de arrancar.
IV – AMARGURAS: São aquelas mágoas guardadas, aquelas queixas sem fim, aquelas reclamações que não cessam nunca. Provérbios tem muito a dizer acerca disso. Pv.21:19 diz: “É melhor morar numa terra seca e deserta do que numa boa casa com uma mulher briguenta e implicante”. Pv.27:15,16 faz uma grande analogia: “Aquele pinga-pinga constante que acontece quando chove e a mulher briguenta e implicante são muito parecidos”. Pv.25:24 afirma: “É melhor morar sozinho num quarto de pensão, do que numa bela casa, com uma mulher briguenta e implicante.”
Pv.19:13 acentua: “Um filho rebelde e tolo é a maior tristeza para um pai; para um marido, a esposa que vive discutindo. Isso incomoda como uma torneira pingando o dia inteiro”. Parece que Salomão tinha experiência abundante nesta área. Precisamos tomar cuidado com esse “pinga-pinga”, esse gotejar contínuo, com as amarguras e murmurações que destróem o relacionamento conjugal.
V – FALTA DE TEMPO: Refiro-me àquele tempo fundamental, imprescindível, que os cônjuges devem dedicar um ao outro. O comum, porém, são os maridos ativistas, consumistas; as mulheres superocupadas; os recém-casados trabalhando o dia inteiro ou estudando à noite, encontrando-se às tantas para se dar um boa noite na hora de dormir, um bom dia na hora de acordar, com mil coisas atrasadas que vão se superficializando, esfriando, se afastando. Chega um dia em que tantas foram as horas consumidas separados, que já não há mais diálogo possível. Seus balões sumiram em mudos distantes.
VI – PERDA DO ESPÍRITO ROMÂNTICO: No tempo do namoro, naquelas noites de luar, a moça romântica comentava: “como a noite está linda, a lua brilhante!” E o namorado diz: “Minha querida, mais que a lua brilham os teus olhos. As tuas faces... Tu a encantas, tu a incandesces! Vê como ela foge do teu olhar!” Aí eles se casaram. Primeiro ano de casamento, vão eles andando pela rua, e ela pensa: “Faz uma ano que ele não me diz nada!” Lua cheia, e ela arrisca: “Querido, como a lua está linda....” E ele diz: “É... é mesmo...” Ela insiste: “Quem brilha mais que a lua, querido?” E ele responde: “Há três anos passados eu já disse a você, e não estou disposto a repetir”. Dez anos depois, novamente andando juntos, ela, suspirando fundo diante da lua cheia, diz para o marido: “Meu filho... a lua está cheia, olhe que linda!” Ele interrompe: “Mulher, não seja estúpida, olhe para baixo senão vai cair no buraco!” É lamentável que o espírito romântico dos primeiros tempos tenha que ceder lugar à frieza, indiferença, falta total de sensibilidade e imaginação. Zelem por esse espírito: Cuidado para não perderem esse espírito romântico com o cônjuge.
VII – EXCESSO DE INDEPENDÊNCIA OU DEPENDÊNCIA EXCESSIVA: Um espírito autônomo, inde-pendente pode ser muito benéfico na vida do casal e da família. Pode servir de exemplo, de chamariz a personalidades fracas, indecisas, inseguras.
O que não pode haver é exagero. Há pessoas superindependentes, que vão derrubando tudo que encon-tram pelo caminho, desinteressadas dos outros, envolvidas apenas em alcançar suas metas e objetivos. Os outros que se virem! Essas pessoas fazem apenas o que lhes “dá na telha”. Numa família é inadmissível. Sem diálogo, troca idéias, discussões, é impossível a convivência – não só pacífica, como construtiva. Por outro lado, cair no excesso de depend6encia é um erro terrível. O melhor é estar preparado para ser independente, para que, chegado o momento, possa carregar-se a si próprio, levar seu fardo, decidir sobre seu destino e inclinações. Ninguém é eterno.
Entre marido e mulher o ideal é a medida certa de autonomia e dependência. Somente pelo conhecimento mútuo, o respeito e o amor é que a medida justa desse equilíbrio será alcançada.
VIII – HÁBITO DE DISCUTIR: É terrível quando o casal adquire o hábito da discussão, Discutir, queixar-se, reclamar, murmurar é como uma gripe – alastra-se pela vida do casal. É como praga, como vício. E é um ví-cio que vai dominando sorrateiramente. No começo, as pessoas envolvidas estranham, tentam reagir, se incomodam. Daí a pouco estão respondendo irritadamente, revidando, mandado de volta a ofensa. Diz-se que “quando um não quer dois não brigam”. Isto tem muito de verdade. É importante , no entanto, não apenas não responder, fazer-se desentendido, mais ainda mais: fugir àquele encontro que certamente vai trazer uma agulhada, uma provocação; evitar confrontos desnecessários; meter-se na ostra sempre que pressentir uma briga, um desentendimento. Fugir, se necessário. Nem sempre escapara sorrateiramente significa acovardar-se; muitas vezes é sintoma de tato, prudência, sabedoria.
IX – INCAPACIDADE DE INTERFERIR NUM PROBLEMA ATRAVÉS DO PERDÃO: É sugestivo que em Mt.18, Jesus trate do assunto do perdão, e logo a seguir venha o ensino sobre a questão do divórcio. Na realidade Mateus pode até então não se ter apercebido da estratégica arrumação que faz dos temas: perdão e divórcio. Mas de fato o que acontece é isto mesmo: quem não aprende cedo a lição do perdão vai acabar tendo que enfrentar a questão do divórcio no casamento.
Sem perdão, relação nenhuma a dois sobrevive.

“TRAVES DENTRO DO LAR” – Lc.10:38-42


INTRODUÇÃO: Lc.6:41 – “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que esta no teu próprio?”  O que é um argueiro? É um corpo minúsculo no ar, cisco, coisa de pouco valor.  O que uma trave? É uma viga, uma peça de madeira que auxilia a sustentação do teto de uma construção.
Vamos ver algumas traves que colocarmos em nosso lar?
ELUCIDAÇÃO: V.38 – Jesus era um hóspede querido. Ele chegou ao povoado de Betânia onde moravam duas irmãs: Marta e Maria. Marta era uma dedicada hospedeira; e logo hospedou o Senhor Jesus em sua casa; v.39 – Maria gostava de ouvir os ensinamentos do Senhor Jesus, e se quedava assentada a seus pés.
I – A TRAVE DA AGITAÇÃO E DO CORRE-CORRE: V.40
Marta estava agitada de um lado para o outro. Ela estava fazendo uma boa coisa, preparando alimento para Jesus. Ela estava ocupada com muitos serviços. Quantas vezes estamos dessa forma, com muitas ocupa-ções! Vivemos num mundo conturbado, e muitas vezes ficamos agitados no trabalho do Senhor – na igreja, nas visitas, nas reuniões. E na sua casa? Você que é mulher. Quantas coisas dependem de você! O bom andamento da casa, a alimentação, a assistência aos filhos, maridos, trabalho, tudo é responsabilidade sua. As donas de casa tem tantos afazeres, e vivem a correr de um lado para o outro. Quando chega ao fim do dia, estão exaustas, cansadas de tanto correr. Os esposos também no seu dia-a-dia é uma verdadeira correria no seus trabalhos e deveres e sofrem os conseqüências desse corre-corre, chegam em casa sem querer mais nada com ninguém, nem com a esposa nem com os filhos. O excesso de trabalho nos deixa vazios (as), frustrados(as), nervosos(as), abatidos(as).
II – A TRAVE DA CENSURA E DA MURMURAÇÃO: V.40, 41
Marta estava fazendo o trabalho, mas ficava insatisfeita ao ver sua irmã, Maria, assentada, tranqüila, deli-ciando-se com os ensinamentos de Jesus, enquanto ela fazia o serviço sozinha. E ela chegou para Jesus e disse: – “Senhor Jesus, o Senhor não se importa que Maria me deixe servir sozinha? Ordene-lhe que venha ajudar-me.” Ela murmurou, pedindo a repreensão de Jesus para Maria. Muitas vezes estamos fazendo o trabalho sozinho(as), mas com raiva, por estarmos cansados(as) e não termos ninguém para nos ajudar. E logo vem a murmuração.
V.41 – Jesus censurou Marta, dizendo: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas”. Quantas coisa têm-nos preocupado, inquietado? É a situação de nosso país, a recessão, a falta de emprego; é o dinheiro que não dá para suprir as necessidades da casa... Mas, o Senhor Jesus censurou Marta, dizendo que pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa. Em Mateus, 6:33, Lemos: “Buscai, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e as outras coisas vos serão acrescentadas.”
III – A TRAVE DA FALTA DE TEMPO:
Marta não tinha tempo para conversar com Jesus. Os seus afazeres eram tantos, que ela não poderia de-sabafar, expor os seus anseios, suas dificuldades. Ela achou tempo para tudo, menos para estar com Jesus. Em um só dia temos tempo para levar os filhos de um lado para o outro, para fazermos a lida doméstica, para traba-lhar, para visitar, para ir às reuniões. Mas, não temos tempo para estar a sós com o Senhor, para falar de nossos problemas, para aprender mais da sua Palavra. A nossa vida será vitoriosa, se recebermos a instrução do Senhor a cada dia, se nos alimentarmos do “Maná”. “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança”(Sl.25:14). Este tempo com Deus, através do estudo da palavra, da oração, de ficar quieto na presença do Senhor, nos faz crescer, nos dá sabedoria para orientarmos os nossos filhos, a nossa casa. Além disso, nos dá, também, condições para tomarmos as decisões do dia-a-dia.
IV – TRAVE DA FALTA DE DIÁLOGO:
A maior parte do ministério de Jesus foi feita através de contatos pessoas. Jesus deu a Marta o remédio para o seu perfeccionismo, para o seu ativismo, para a sua falta de valor pessoal, sua auto-imagem negativa, a-través do diálogo terapêutico com Ele. Maria estava organizando, primeiro, a sua casa interior, enquanto Marta estava preocupada com sua casa exterior. Hoje vivemos numa época quando não há mais diálogo, nem mesmo com as pessoas da própria casa. Temos tantas coisas programadas que não sobra tempo para conversarmos com os outros, para sabermos seus anseios, suas dificuldades, suas queixas, suas alegrias. É difícil encontrarmos alguém com quem desabafar. Como estão cheios os consultórios de psiquiatria e psicologia. Às vezes co-nhecemos todos na Igreja, cumprimentamos, até conversamos superficialmente. Mas será que sabemos o pro-blema do irmão, a sua necessidade, para que possamos ajudá-lo, levando-o a Deus em oração? “levai as cargas uns dos outros” (Gl.6:2). Jesus disse que Maria havia escolhido a boa parte, e esta não lhe seria tirada. Será que você tem escolhido a boa parte?

CONCLUSÃO: Vamos tirar as traves de dentro do lar, as que impendem o bom andamento da nossa vida diária, e vamos colocar as prioridades no seu devido lugar. As nossas prioridades deveriam seguir à seguinte or-dem: 1 – A nossa vida com Deus; 2 – A nossa Família; 3 – O nosso Trabalho; 4 – A nossa Igreja.

"FORÇAS CORROSIVAS E DESINTEGRADORAS DA FAMÍLIA” – Ef.2:15-21


INTRODUÇÃO: Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas narram dois episódios quase trágicos vividos pelos apóstolos no Mar da Galiléia. Em ambos, o barco em que viajavam foi açoitado pelas ondas. Tais relatos ilustram a situação da família em nossos dias. No agitado mar da vida, ela enfrenta grande tempestade, e está sendo açoitada por ondas e marés de várias naturezas. Neste estudo examinaremos algumas dessas forças corrosivas e desintegradoras que estão atacando a família.
I – O CONSUMISMO:
A família sobre os efeitos negativos da inflação e juros altos. Mas o consumismo é um flagelo ainda maior provavelmente o verbo comprar seja o mais conjugado nos lares. A indústria e o comércio colocam diante de nós, a cada dia, novos artigos para serem comprados e consumidos. Pequenas modificações em móveis, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e automóveis são usadas como apelo à compra. A moda joga no fundo do armário roupas semi-novas. Sapatos em perfeita condição de uso vão parar na lixeira. E a substituição é feita por artigos que custam cada vez mais e que, em muitos caos, valem menos.
As conseqüências dessa sede insaciável de consumir tem sido desastrosas para a família. Os rendimentos do trabalho normal não são suficientes para cobrir todos os gastos. As horas de trabalho precisam ser aumentadas. As pessoas começam a buscar os “bi-cos”. O tempo para a tão necessária convivência familiar deixa de existir. Cansados, tensos e endividados, os membros da família perdem a capacidade de se relacionar amistosamente. Há muitas famílias que possuem os aparelhos mais sofisticados, os automóveis mais modernos, roupas e calçados da última moda; mas não tem paz, harmonia e nem felicidade. Faltam-lhes o amor e o respeito mútuos.
As famílias precisam, urgente, simplificar os seus hábitos, refrear a sede de consumir e redescobrir que o ser vale mais do que o ter. “A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc.12:15). Os bens de que a família mais necessita não podem ser adquiridos em lojas, por mais completas e sofisticadas que sejam. Os maiores bens de uma família são a comunhão com Deus, o amor, a paz e a harmonia.
II – INFLUÊNCIA NEGATIVA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO:
Existe uma interpretação materialista da vida. Isto não é novo. Nos dias de Davi já havia quem afirmasse: “não há Deus”(Sl.14:1). E o profeta Isaías se refere àqueles que ensinavam: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”(Is.22:13). A história é testemunha dos esforços feitos para a divulgação de tais filosofias. Mas no nosso século ocorreu uma decisiva mudança de estratégia. Hoje os meios de comunicação apenas relatam os fatos que conduzem ao materialismo. Isto ocorre no cinema, na televisão, nos jornais, nas revistas e nos livros.
Esta nova estratégia é perigosíssima. Primeiro, porque assim os profetas do materialismo em suas variadas formas conseguem driblar nossas defesas. Certamente não permitiríamos que nossos filhos assistissem a programas de TV que pregassem o amor livre, a violência, o uso da mentira e coisas dessa natureza. Mas estamos permitindo que elas vejam tudo isto nas novelas, nos demais progra-mas a que assistem, nos livros que lêem e nas músicas que ouvem. O mais grave, porém, é que este sistema é mais eficiente do que o ensino direto e frontal. A simples exposição dos fatos, sem a emissão de qualquer juízo moral, imprime em nosso ser a idéia de que aquela é a ordem natural da vida. Se o personagem que nos impressiona usa a mentira para se sair de uma situação, passamos a achar que tal prática é natural.
Os meios de comunicação, usando a perigosíssima estratégia acima exposta, estão solapando o alicerce da família. O estilo de vida, a escala de valores e o tipo de comportamento que os meios de comunicação estão trazendo para o seio da família são incompatíveis com a vida cristã. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios remindo o tempo.”(Ef.5:16).
III – FALTA DE ESPIRITUALIDADE:
No Antigo Testamento, no sistema patriarcal, cada família se constituía numa congregação, onde Deus era servido e adorado. O cristianismo também se desenvolveu através das famílias. A Igreja Primitiva não tinha templo; suas reuniões eram feitas nos lares. Mas hoje a falta de cultivo da vida espiritual nos lares está corroendo e desintegrando as famílias. A dificuldade começa na área individual. O excesso de atividades e o fascínio pelos programas de televisão tem roubado o tempo que devia ser gasto em leitura bíblica, meditação e oração. Normalmente as pessoas chegam cansadas em casa ao anoitecer, tomam banho e jantam já diante do televisor. Vão dormir bem tarde, quando não tem mais disposição física e mental sequer para oração. No outro dia levantam cedo e iniciam a mesma rotina. E se não há tempo para o cultivo individual da espiritualidade, muito menos haverá para o culto doméstico.
No passado o Senhor clamou: : Ouvi, ó céus, dá ouvidos, ó terra, porque o Senhor é quem fala: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende”(Is.1:2,3). Hoje vivemos situação idêntica. O Dr. J. A. Petersen declarou: “As minhas experiências durante os últimos anos, trabalhando em escolas públicas como professor, e ultimamente como psicólogo, e em programas evangélicos para a mocidade, me levaram a uma conclusão inevitável: Jesus Cristo é uma ‘Pessoa ausente’ na maioria dos lares ‘cristãos’”. Pertersen fala, naturalmente, do que tem observado em seu país, os Estados Unidos. Entretanto, a nossa situação não se distancia muito do que ele observou lá.

APLICAÇÃO PRÁTICA
O horizonte está negro. A atmosfera carregada. As nuvens escuras. Relâmpagos sulcam o espaço. Trovões balançam a terra. Grandes tempestades se prenuncia. E Cristo, onde está?
Nas duas ocasiões em que os discípulos se viram às voltas com a tempestade no Mar da Galiléia, Jesus estava ausente. Em uma delas, ele estava “do outro lado”(Mt.14:22). Na outra, ele “estava na popa, dormindo” (Mc.4:38). Muitas famílias estão atravessando o tempestuoso mar da vida sozinhas, pois deixaram Jesus do outro lado. Outras trouxeram Jesus no barco, mas Lhe reservam um espaço tão pequeno para atuar, que Ele não tem outra alternativa a não ser dormir. E a sua família?
Só há uma solução para a família – Cristo. Só Ele pode capacitá-la a enfrentar vitoriosamente as forças corrosivas e desintegradoras que agem contra ela. Ou a família se centraliza em Cristo, ou naufraga! E muitas já afundaram! Os corpos estão boiando, sem vida. Aparentemente estão vivos, mas, na realidade estão mortos em delitos e pecados.

"AS CINCO FORÇAS DO AMOR” – Dt.24:5


INTRODUÇÃO: O casamento é relacionamento completo e abençoado. A lei mosaica ordenava o marido proporcionar a felicidade da esposa e em caso de guerra o recém-casado era dispensado! Por um ano deveria durar sua lua de mel (Dt.24:5).
Em Provérbios se diz que o homem deve ser a benção alegre da companhia de sua amada, numa figura linda: “bebe água da tua própria cisterna”, abraça amorosamente sua amada.
Só a demonstração de amor tornará o casamento um lugar abençoado: Mas de que vocês poderão de-monstrar amor? A maioria pensa que a suprema demonstração de amor seja sua expressão erótica, sexual. Ora, o sexo deve ser o ápice de uma relação feliz.
A idéia de que as “nossas diferenças desfazem em cima da cama” é mentirosa. Sexo sem amor é violên-cia... Alguém disse sabiamente que a boa relação sexual começa no bom dia amoroso do café matinal. Mas co-mo demonstrar este amor? A primeira coisa que fortalece o amor é:

I – ATENÇÃO: Quem ama presta atenção! Um certo humorista disse que quando um casal conversa e ambos engole cada palavra do outro, não são casados – que tristeza! Você já ouviu falar da “grande face de pe-dra”? Eu me casei com ela; meu cônjuge não ouve nem fala... tente notar, não seja essa face.
Preste atenção; em muitos casamentos, em muitas casas, os gritos demonstram que a surdez desamoro-sa atingiu a nossa família. Os gritos são expressão de corações apaixonados vivendo nos desertos da afeição.
É duro ser um “João ninguém” dentro de casa! Entra, sai e ninguém nota ou vê...
Maridos que prestam atenção nos carros, nas coisas, nos jornais e não conseguem ver, olhar nos olhos da amada! Ela só me nota quando adoeço? Que dia ela faz aniversário?
A segunda coisa que enfeita o casamento na administração do amor é:

II – ACEITAÇÃO: Uma das necessidades básicas do indivíduo é ser aceito, é ter seu valor especial. Após alguns anos de casado, ou meses, acontecem em muitos pares, as descobertas dos seus defeitos.
Eu não conhecia você direito, você é diferente: aí, vem a tentação de mudar o cônjuge. Esta tentativa inú-til, o máximo que faz é, muitas vezes, lançar o outro nos braços estranhos.
ACEITE – é uma graça que Deus nos deu! Quando uma pessoa não aceita a gente, fica difícil agradá-la! Ela fica distante. Quando há aceitação, há amor.
Como é fácil achar defeitos nos outros: E é um abismo sem fundo, um defeito puxa o outro... Se os dentes não são bonitos, a boca é contorcida, o rosto é defeituoso e ai vai... Para quem aceita, até os defeitos se trans-formam em virtudes... mas o casamento fica forte, quando a demonstração de amor se manifesta em:

III – AFEIÇÃO: Atitudes pequenas, pequenas coisas, podem prender o gigante. São detalhes que encan-tam nos romances das belas e as feras... Atitudes nobres, carinho, fazem o feio irresistível... Exemplo são os hor-rorosos mostrengos criados para as crianças: os fofões, os “babys” dos dinossauros... porque são amados? Que-ridos? Porque geralmente fazem-se símbolos de carinho, delicadeza.
Há casais que guardam no guarda-roupa os beijos e os abraços, os carinhos e a afeição. Pegou o peixe, joga a isca fora... Não podem curtir uma vida completa a dois... Quantos homens e mulheres carentes de afeição!
Não pense que sua esposa ou marido não liga para isto. Você pode acordar num pesadelo! Sejam afetu-osos: esbanjem carinhos!
Uma Quarta maneira de expressar o amor é:

IV – ADMIRAÇÃO: Certo humorista disse que podia viver dois meses sustentado com um bom elogio.
Para cada palavra negativa, só quatro positivas conseguem equilíbrio.
A mulher nasceu para o elogio. Ela precisa da boa palavra, quase mais que ao almoço... Mas uma palavra alegre, forte e bonita, faz bater o coração do homem e faz brilhar os seus olhos intensamente. Provérbios 31, mostra como um marido bem sucedido fala bem de sua esposa. Concentra-se nas virtudes.
Pare, mergulhe nos lindos olhos, no belo sorriso, na doce voz, e se deixe perder pela esfuziante contem-plação da amada, do amado. Mostre que você cultiva, curte; e evidencie o que você acha forte na pessoa amada. Se você não admirar o que é seu, esteja certo; outros admirarão...
Finalmente, demonstre seu amor na procura de:

V – ATIVIDADES: A vida a dois deve ser interessante também. Depois que vem os filhos, parece que o tempo desaparece e fazer alguma coisa juntos fica difícil... Procure estar juntos para atividades alegres, sós a dois.
A gente que é casado, deve procurar enamorar-se sempre. Ir à igreja juntos, aos parques, fazer um pas-seio. Procurem atender ao prazer do outro. Sejam amigos... Há muitos casamentos que poderiam ser lindos, fe-lizes, se estivessem levado em conta a Atenção – Aceitação – Afeição – Admiração e as Atividades.
Russel Conwell conta de Ali Hafed, que possuía uma linda fazenda. Um dia um monge budista visitou-o, falou da criação e terminou falando dos diamantes: “gotas de raios de sol congeladas” e Ali Hafed se sentiu po-bre... Vendeu sua fazenda e foi ao mundo atrás dos diamantes: Palestina, Europa, Barcelona, Espanha... Morreu na Espanha pobre e infeliz por não ter encontrado o que procurava. O homem que comprou sua fazenda desco-briu as minas de Colconda! Os mais lindos diamantes do mundo.
Sua riqueza está sempre perto de você; sua esposa, seu marido, sua casa e seus filhos. Jesus nos faz vê-las! Pelo seu amor podemos admirá-las e tornar nosso lar um pedaço do céu.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

SOBRE A COMUNHÃO COM JESUS


I João é a epístola da comunhão. Trata-se de uma carta de família, escrita para os filhos de Deus. Tal comunhão, portanto, verifica-se exclusivamente entre a pessoa salva e Deus, enquanto que a pessoa não salva fica inteiramente de fora.
A palavra "andarmos" (1:7) vem de um vocábulo grego que aparece num manuscrito do segundo século, na sentença "Estou andando num estado fora da graça." É evidente que tal termo se refere à conduta. Nossa conduta consiste de nossos pensamentos, palavras e ações. A ação dessa palavra, no original, é contínua — "Se, porém, estivermos constantemente andando na luz". A experiência normal do crente deve ser exatamente essa, uma vida de constante conformidade com a Palavra de Deus.
A palavra traduzida "comunhão" no grego significa "ter algo em comum com". A base da comunhão humana é uma natureza em comum. Um artista e um trabalhador braçal não têm comunhão por não terem uma natureza em comum, porém, dois artistas podem ter comunhão, pois suas naturezas são a mesma. Semelhante é a comunhão do homem com Deus. Se um homem tiver de ter comunhão com Deus, precisa ter uma natureza em comum com Ele. No entanto, o homem por natureza está sujeito à ira (Efésios 2:3). Porém, em resposta à fé no Senhor Jesus como Sal¬vador, ele é feito participante da natureza divina (II Pedro 1:4), ficando assim dotado de uma natureza em comum com Deus. Como resultado disso, tem gostos e desprazeres em comum com Deus. O crente que ama aquilo que Jesus ama, e que aborrece aquilo que Jesus aborrece, tem comunhão com Ele. A pessoa que ama aquilo que Jesus aborrece, a saber, o pecado, não tem comunhão com Ele.
A comunhão aqui referida não é entre dois crentes, mas entre o crente e Deus, pois o tema do livro (1:3) "A Comunhão do Crente com Deus", e a análise da secção em que se encontra esse versículo "Condição de Comunhão com Deus: Andar na Luz" requerem o segundo sentido.
Novamente, as palavras "uns com os outros" se derivam de um pronome recíproco no grego. Isso fala em reciprocidade, o ato de dois indivíduos que consagram um ao outro um amor mútuo. Essa comunhão não é apenas da parte do santo para com Jesus, mas também é da parte do Senhor Jesus para com o santo.
A palavra "purifica" no grego fala de uma ação em processo. O sangue de Jesus está continuamente purificando-nos de nossos pecados.
A tradução mais ampla ou livre seria: "Se estivermos constantemente andando na luz, como ele mesmo está na luz, estaremos tendo comunhão constante um com o outro, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, está continuamente a nos purificar de todo pecado".

EXAME PRÉ-NUPCIAL: NECESSIDADE OU SOFISTICAÇÃO?



Os tempos mudaram. Foi-se o tempo onde namorar, noivar e casar era a ordem natural de um amor, de um romance que ia brotando aos poucos, ou mesmo se iniciava com uma paixão doida, mas que aos poucos ia amadurecendo, e assim, se tornando algo sólido e sensato.

Sem sequer ser saudosista, mas apenas querendo relembrar, ou até mesmo resgatar coisas boas de um passado não muito distante, era comum os noivos procurarem seu médico de confiança, aquele amigo da família, e anunciarem:

- Estamos querendo fazer todos os exames para ver se está tudo bem, pois dentro em breve estaremos nos casando.

O bom médico esboçava um sorriso terno e cheio de felicidade, pois muitas vezes tinha sido ele mesmo quem havia feito o parto daquela jovem senhorita. Logo em seguida puxava seu receituário e começava a fazer o pedido dos exames pré-nupciais.
Enquanto escrevia o pedido, ia explicando cada um deles:

Você, minha filha, vai fazer um...

Hemograma - para saber se não está com anemia, ou mesmo, se você não tem alguma alteração hereditária (talassemia), ou mesmo alguma alteração em suas defesas e resistência, pois no dia do casamento não quero ver noiva nenhuma desmaiando no altar.

Tipos sangüíneo e Rh - a fim de ver se não existe alguma incom¬patibilidade sangüínea com o seu noivo. Apesar de hoje em dia isso não ser mais problema, pois existem vacinas e outros cuidados que permitem ao casal ter quantos filhos desejar, sem problema algum.

Glicemia - para medir a quantidade de açúcar do sangue e, caso revele um diabetes, é importante saber na ocasião da gravidez, para não alterar o desenvolvimento da criança na época da gestação.

Toxoplasmose - este é um exame importante pois, caso a mulher tenha essa doença, poderá gerar uma criança com deficiências, principalmente na área da visão.

VDRL - é um exame para verificar a possível contaminação pela sífilis, uma doença que afeta profundamente o feto, inclusive podendo gerar um bebê com fenda palatina (chamada popularmente de "goela de lobo")

Rubéola - quando adquirida durante a gravidez (até o terceiro mês), pode provocar aborto ou alteração na formação do feto. Quando a pessoa não teve ainda esta doença, faz-se uma vacina e pede-se que aguarde 3 meses para poder engravidar sem riscos.

Urina completo - a fim de verificar qualquer tipo de infecção latente, ou seja, que não esteja dando sintomas ainda, como também verificar se a “filtragem” do sangue está sendo feita de forma adequada.

Parasitológico de fezes - é importante tratar as verminoses pois elas podem ser transmitidas para as pessoas que usam os mesmos sanitários.

Ultra-sonografia pélvica - é através deste procedimento que podem ser verificadas alterações do útero (fibromas, miomas, tamanho, posição dentro da bacia, más formações, útero infantil, etc.) como também possíveis problemas nos ovários, onde o mais comum são os cistos de ovário, que podem ser minúsculos ou até mesmo chegarem a mais de um quilo.

HIV - (Teste de Elisa) que é o exame para pesquisa da AIDS. Este exame só informa se a pessoa é portadora, mas para saber se ela tem a doença é necessário que se faça outro exame: “western bloot”. Estes exames só serão feitos caso o casal decida fazê-los. Não faz parte da rotina obrigatória.

Para o jovem, alguns exames do tipo: hemograma, glicemia, tipo sangüíneo e Rh, VDRL, urina completo, fezes parasitológico, HIV são importantes, mas é bom que se faça também, um...

Espermograma - este exame vai informar a qualidade dos espermas, número, ou até mesmo se existe esterelidade, ou seja, ausência de espermas (azospermia).

Após os resultados dos exames, conversa-se com o casal a respeito das alterações laboratoriais, caso haja, ou então, é feito um aconselhamento à respeito da sexualidade no casamento, e sobre a possível “cistite” de lua de mel, que às vezes ocorre devido à maior freqüência das relações sexuais nesse período.

Falei no início que, infelizmente, os tempos mudaram. Os jovens têm colocado a carroça na frente dos bois e, com isso, têm pago o preço de inúmeros prejuízos.

Muitas vezes, uma gravidez aparece na hora errada, fora do casamento, sem planejamento, sem nenhum cuidado prévio, gerando muita ansiedade para a futura mamãe, conseqüentemente, para o bebê. Doenças que poderiam ser evitadas, acabam acometendo o nenê, como é o caso da toxoplasmose, rubéola, sífilis neo-natal (do recém-nascido), isso sem falar das situações onde a tentativa de aborto acabam não só matando o bebê, mas também a futura mamãe.

É tão mais fácil quando aprendemos a viver a vida segundo o “Manual do Fabricante”, ou seja, a Palavra de Deus. Fazer tudo no tempo certo, de forma correta, mesmo que isso seja quadrado, cafona, é melhor do que ser moderninho e depois ter que “correr atrás do prejuízo”, dependendo do caso, pelo resto da vida.

DR. WILLIAM FERES - E médico endocrinologista e homeopata. Casado com Rute, possuem 4 filhos. E membro da Comunidade Água Viva em Curitiba e dirige o Centro Médico Reviver.

EXTRAÍDO DA REVISTA “LAR CRISTÃO” – ANO X – Nº 33 – JUL-AGO/1996

FÉ DEMAIS


Alguns anos atrás, foi lançada uma comedia com este título: “fé demais não cheira bem”. O filme era uma sátira dos pregadores eletrônicos e da fé exacerbada que produz todo tipo de milagre, menos aqueles que são verdadeiros.
A teologia da prosperidade tem ensinado uma fé inconseqüente, nós cremos no poder de Deus e em seus milagres, mas também cremos na sua soberania. Deus faz milagres segundo a sua vontade.
Diz a canção: “...Se o mar não se abrir, Deus vai me fazer andar por sobre as águas!”. O milagre de Moisés e o milagre de Pedro. Tanto a incredulidade como a credulidade inconseqüente, são pecados que ofendem a Deus, tentar a Deus com nossos exageros e nossa demonstração de fé carnal, para mostrar que somos mais espiritual que nossos irmãos. Pecamos tanto como aqueles ateus que não acreditam em Deus. A fé evangélica crer no passado, nos fatos concretos das ações de Cristo. A fé religiosa geralmente crer no futuro, nos milagres e prodígios. A fé infantil precisa de ver para crer! A fé religiosa crê no que Deus vai fazer. A fé evangélica crê no que Deus já fez em Cristo Jesus.

Jasiel Botelho

PROFETISMO



Haroldo Reimer

O profetismo é um fenômeno comum nas culturas do antigo Oriente e sobretudo no antigo Israel, com manifestações em tempos posteriores. Está atestado por exemplo em textos dos arquivos do reino de Mari (atual Síria), na Mesopotâmia, no Egito, mas é nos textos bíblicos que ele tem a sua expressão mais conhecida e influente na Antiguidade. Trata-se da existência de pessoas que se sentiam, apresentavam e falavam perante a comunidade como portadoras de mensagens divinas. Tais pessoas recebem designações diferentes nas suas respectivas culturas e línguas. Em Mari, usava-se o termo muhhum e apilum; na Babilônia, o termo bâru; em Israel cunhou-se o termo nabi’ como termo genérico para tais personagens. Em português, usa-se o termo “profeta”, que deriva da tradução que a versão grega da Septuaginta atribuiu aos nomes semíticos originais: prophetes. Este termo deriva do verbo pro-phemi, significando “falar diante de”, “falar em nome de”. De uma forma geral, profetas são mediadores entre divindades e seres humanos.

A Bíblia hebraica tem uma estrutura tripartide (Torá, Profetas/Nebiim e Escritos/Ketubim), sendo que na segunda parte está incluída uma parcela do que costuma chamar-se de ‘livros históricos’. Os livros de Josué, Juízes, 1+2 Samuel e 1+2 Reis, conhecidos como a Obra Historiográfica Deuteronomista, constituem os ‘profetas anteriores’ (nebi’im aherim), enquanto que os livros de Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze menores (Dodekapropheton) constituem os ‘profetas posteriores’. Estes são, por sua vez, divididos em ‘profetas maiores’ e ‘profetas menores’, sendo o tamanho dos rolos constitutivo para tal designação; são também designados de ‘profetas literários’ justamente por causa dos textos agregados em torno do personagem profético que dá nome aos livros. A versão grega da Septuaginta reorganizou esta ordem canônica, inserindo e qualificando como profético o livro de Daniel, que, como expressão do gênero apocalíptico, originalmente figurava entre os Escritos. Também o livro de Lamentações e Baruc foram inseridos entre os Profetas. Na Septuaginta, este conjunto dos livros proféticos ‘clássicos’ foi alocado após os Escritos como parte canônica preparatória do anúncio da vinda do Messias, ocasionando, assim, a separação em relação aos livros de Josué a 2 Reis.

Na Antiguidade oriental, os profetas tinham formas distintas de obter suas mensagens. Por um lado existem as mensagens dedutivas ou intuitivas, obtidas através da observação, por exemplo, de entranhas de animais, vôo de aves, líquidos e dos próprios fenômenos naturais. Trata-se aí de mensagem similar à adivinhação. Por outro lado, há as mensagens indutivas, em geral obtidas em transe extático, sonhos, visões e audições. De qualquer maneira, as mensagens proféticas são formas comunicativas de uma experiência religiosa com determinada divindade (Yahveh, Baal, El, etc.). Um tipo de mensagem muito característico é o dito de mensageiro, através do qual o profeta se apresenta como porta-voz da divindade. Dentro de tais comunicações muitas vezes também estão inseridas palavras e avaliações da realidade histórica em que o profeta e a respectiva comunidade estão inseridos. O dito profético é outro tipo característico de mensagem profética. É constituído fundamentalmente de duas partes distintas: denúncia e anúncio. As denúncias, que constituem as fundamentações dos anúncios, muitas vezes, são análises da realidade histórico-social, enquanto que o anúncio é formalmente apresentado como fala da divindade. O anúncio pode ser negativo, falando-se, então, de dito de desgraça ou juízo, ou positivo, expressando-se com isso um conteúdo de graça e restauração. Os ‘ais’ também são gênero muito utilizado na profecia.

Os anúncios proféticos estão, em geral, direcionados para algum momento no futuro do povo ou da comunidade, em razão do que são entendidos como escatológicos. Não se trata, porém, de um juízo final da história, mas do anúncio de uma intervenção divina na realidade histórica, entendida como o “dia de Yahveh” (Am 5,18-20), no qual a divindade promoveria transformações substanciais na história do povo. Essa intervenção divina é entendida por alguns profetas como historicamente mediada, por exemplo através de uma potência estrangeira (Assíria ou Babilônia), afirmada como braço estendido de Deus para julgar o povo (Is 10,5; Jr 36). De uma forma geral, a opressão dos pobres, viúvas, órfãos, a violência contra os humildes e o desprezo do direito divino (mishpat) e da justiça (sedaqah) são apresentados como motivos para o anúncio do juízo divino.

Na Bíblia e especialmente nos Profetas encontramos diferentes tipos de profetas inclusive com designações distintas. Os termos ‘homem de Deus’ (ish elohim) e ‘vidente’ (ro’eh) por vezes são usados como sinônimos (1Sm 9,6.10), assim como também o termo ‘visionário’ (hozeh). Todos juntos são entendidos, sobretudo a partir do séc. VI aC como ‘profetas’ (nabi’ – Is 29,10). O termo nabi’, embora seja designação genérica dos profetas hebraicos, parece ser mais indicativo daqueles inseridos em corporações ou escolas proféticas (como Elias e Eliseu) ou ligados ao espaço do templo e da corte (p. ex. Natã). Por isso costumam ser designados como profetas ‘cúlticos’ ou ‘institucionais’. Estes parecem ter constituído a matriz mais comum do fenômeno.

É sintomático que os colecionadores das palavras dos profetas ‘clássicos’ (Amós, Isaías, Jeremias, Amós, Oséias, Miquéias, Sofonias, etc.) do período pré-exílico (séc. VIII e VII aC) não utilizam o termo nabi’ para designar os personagens que dão nome aos livros. A única exceção é constituída pelo livro de Habacuc (Hc 1,1; 3,1). Os profetas clássicos do séc. VIII e VII aC chegavam a negar explicitamente a designação de nabi’ (Am 7,14), ressaltando a sua atividade como um carisma diretamente outorgado pela divindade. Isso se percebe sobretudo nos relatos de vocação profética (Is 6,1-8; Jr 1,4-10; Am 7,10-17). Tais relatos funcionam como comunicações de credenciamento e legitimação para a atuação destes personagens carismáticos em meio à comunidade. Com isso, este tipo de profeta, que poderia sofrer represálias devido aos conteúdos de suas mensagens de crítica ao poder estabelecido (Am 7,10-17; Jr 36), estaria devidamente resguardado como mediador entre Deus e o povo. Os profetas cúlticos, por sua vez, tinham sua legitimidade assegurada pela instituição na qual estavam inseridos.

A partir do séc. VIII a.C. desenvolve-se no antigo Israel uma polêmica sobre verdadeira e falsa profecia. Trata-se basicamente de uma discussão sobre o conteúdo das mensagens. Tradicionalmente, os profetas institucionais tendiam ao anúncio de mensagens positivas de graça para o próprio povo e de juízo para os outros. Com Amós, na metade do séc. VIII aC, inicia-se uma nova tradição, na medida em que o juízo é direcionado também contra o próprio povo de Israel (Am 2,6-13; 5,18-20). Tal mudança de conteúdo acarreta um distanciamento crítico em relação ao centro de poder. Isso gerou, no fenômeno profético, dois tipos distintos de profecia no que tange ao conteúdo, havendo, porém, similaridade quanto à forma. Ambos se apresentavam como mediadores entre o Deus Yahveh (Mq 3,4-7) e o povo e é em nome da mesma divindade que acontecem as acusações mútuas. O caso mais conhecido é a disputa entre Jeremias e Hananias (Jr 28-29). Pela comunicação de mensagens distintas a partir da mesma matriz divina e através de formas similares resulta a necessidade de discernimento do seja verdadeiro ou falso por parte da comunidade. O código deuteronômico (Dt 12-26), do final do séc. VII a.C., além de proibir determinadas formas de profecia (Dt 18,10-14) e somente permitir a profecia indutiva especialmente na forma de ditos, estabelece também o critério do cumprimento temporal da mensagem anunciada. O não cumprimento histórico implicará na falsidade da mensagem e na condenação do respectivo profeta. Isso provavelmente acarretou uma insistência na afixação por escrito das mensagens proféticas (Hc 2,1-4). O caráter de verdadeira ou falsa profecia depende da aplicação de critérios a posteriori, não se aplicando ao modo e à origem do fenômeno. O mesmo texto de Dt 18 também estabelece o personagem Moisés como a representação ideal do profeta, que assume com isso também as funções de legislador, sacerdote, e hagiógrafo.

A destruição de Jerusalém em 586 a.C. e a conseqüente experiência do exílio constituiu o ‘gatilho histórico’ para desencadear um processo intenso de coleção das palavras dos profetas críticos. A partir deste momento, palavras dos profetas carismáticos pré-exílicos, guardados na tradição popular, passaram a ser avaliadas como verdadeiras a partir da nova experiência e passando a ser colecionadas rumo à formação de um cânon profético. Antes disso, porém, já havia processos mais circunscritos de coleção e fixação literária das mensagens proféticas, por vezes condensadas na forma de ‘panfletos’. Deve-se trabalhar com a hipótese de que em torno dos personagens proféticos havia grupos de suporte, responsáveis pela transmissão dos respectivos conteúdos (Jr 26,1-19). Evidencia-se, assim, uma relação da voz profética com formas de organização social da época.

Um fenômeno típico no processo de transmissão das palavras proféticas são as releituras, isto é, o fato de palavras, ditos, coleções serem reinterpretadas e até ampliadas dentro de um novo contexto histórico. Neste sentido, as palavras proféticas são marcadas por um dinamismo no processo de transmissão, o que termina com a fixação do cânon, mas continua em outro gênero de literatura interpretativa (p. ex. midraxes).

A maioria dos personagens proféticos é do sexo masculino. Nos textos dos ‘profetas anteriores’ são mencionadas algumas mulheres profetisas. Dentro dos ‘profetas anteriores’, o título profetisa (nebi’ah) é aplicado a Débora (Jz 4,4) e a Hulda (2 Rs 22,14; cf. 2 Cr 34,22), as quais marcam uma moldura dentro de toda a obra histórica. Também nas aberturas dos livros de Samuel e Reis aparecem mulheres como protagonistas, sem, contudo, receberem o título de profetisas. Entre os profetas ‘clássicos’, a mulher de Isaías é chamada de profetisa (Is 8,3) e em Ez 13,17 o termo é explicitamente omitido. No Pentateuco, Miriã é designada de profetisa em duas ocasiões (Ex 15,20; Nm 11-12). No período persa, há ainda a menção negativa da profetisa Noadia, que junto com outros profetas, protagonizava resistência aos empreendimentos de Neemias (Ne 6,7-14).

No Novo Testamento, o título profeta é aplicado várias vezes a Jesus (Mt 21,11; Lc 24,19), colocando-o explicitamente na linhagem dos profetas carismáticos e apresentando-o como o profeta ideal. Também Ágabo é designado por este título (At 11, 28). O título profetisa é atribuído a Ana (Lc 2,36) e indicado como auto-designação de Jezabel (Ap 2,20), mas é conhecido o fenômeno de mulheres com carismas proféticos (At 2,17-18; 16,16; 21,9; 1 Co 11,5). Freqüentemente, ocorre no NT o uso do termo profeta como designação genérica para os personagens do Antigo Testamento e como designação de uma das partes do cânon hebraico. O fenômeno da profecia é conhecido e reconhecido como um dom nas comunidades cristãs originárias (At 2,17-18), estando, assim, na tradição vétero-testamentária. De uma forma geral, o profetismo projeta a mensagem da universalidade da ação de Deus na história. Nos profetas, Deus é afirmado como o mantenedor da criação em ações de direito e justiça, sobretudo em favor das pessoas empobrecidas.


Referências:

BINGEMER, Maria Clara L.; YUNES, Eliana (org.). Profetas e profecias. Numa visão interdisciplinar e contemporânea. São Paulo; Rio de Janeiro: Loyola; Editora PUC, 2002.

SICRE, José Luís. A mensagem social nos profetas. São Paulo: Paulus, 1990.

SICRE, José Luís. Profetismo em Israel. O profeta, os profetas, a mensagem. Petrópolis: Vozes, 1996.

REVISTA DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA LATINO-AMERICANA. Petrópolis, v.35/36, 2000.

SCHWANTES, Milton. Profecia e estado. Uma proposta para a hermenêutica profética. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 22, p.105-145, 1982.



O autor é teólogo luterano. Doutor em Teologia pela Kirchliche Hochschule Bethel, Alemanha, professor titular no Departamento de Filosofia e Teologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião na Universidade Católica de Goiás, em Goiânia.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MERECE CONFIANÇA O NOVO TESTAMENTO?


Já ficou sobejamente demonstrada a genuinidade dos evangelhos. Agora se nos apresenta outra questão: o texto que possuímos hoje é realmente aquele que saiu da pena dos evangelistas e apóstolos ou foi alterado no decorrer dos séculos? Houve interpolações, omissões ou corrupções no texto? Um documento pode ter sido genuíno, mas de nada adianta se as cópias que possuímos não refletem a mesma fidelidade no conteúdo como foi escrito. A acusação que alguns críticos geralmente fazem é que nossas cópias são corrompidas. Entretanto, o N.T é sem dúvida o documento mais bem atestado da antiguidade. Existem mais cópias do Novo Testamento do que de qualquer outro documento antigo. São mais de cinco mil manuscritos em grego e versões antigas em siríaco e outras línguas. Entre a redação de Sófocles, Ésquilo, Aristófanes e Tucídides e o primeiro códice que possuímos destes escritos, há um intervalo de 1400 anos; 1600 para Eurípedes e Catulo [...] 1.200 para Demóstenes; e 700 para Terêncio. As cópias mais antigas existentes hoje do N.T são dos séculos 2º e 3º d.C.
Todos esses achados tornam o N.T. o texto antigo mais bem documentado e atestado, quando comparado com outros escritos da antiguidade clássica.
Podemos confiar no Novo Testamento como um documento histórico?


Vê-se facilmente que se alguém rejeitar a autenticidade histórica do N.T, então deverá, por coerência, rejeitar a autenticidade histórica de todos os demais escritos antigos, pois o N.T. é, de longe, o mais bem atestado, tanto pelo número de cópias existentes como pela proximidade em anos da cópia mais antiga em relação ao original. Nenhum outro escrito sequer chega perto do N.T. nesses critérios.

As Variantes

Este é outro ponto ressaltado para diminuir a confiabilidade dos evangelhos. É que nos evangelhos existe um grande número de variantes. Será que com todas estas variantes não ficaria prejudicada a crença de que nossos textos modernos refletem o mesmo texto do original? Por terem sido produzidos em diferentes áreas e sob diferentes circunstancias, e devido aos erros de ortografia dos copistas, alguns manuscritos contêm diferenças entre si o que chamamos de variantes textuais. Bruce Metzger, uma das maiores autoridades em grego neotestamentário da atualidade, afirma que as diferenças não afetam substancialmente nenhuma doutrina cristã. Norman Geisler e Willian Nix acrescentam: "O Novo Testamento, então, não apenas sobreviveu em maior número de manuscritos que qualquer outro livro da antiguidade, mas sobreviveu em forma mais pura que qualquer outro grande livro - uma forma 99,5% pura"

Grasso cita o parecer de algumas autoridades como Amiot e Hort. Assim se expressou:

"No conjunto dos manuscritos encontram-se aproximadamente 250.000 variantes incluindo as citações dos padres antes do IV Século e das antigas traduções. A maioria delas é insignificante: referem-se somente à ortografia e à disposição das palavras Segundo Hort, 7/8 do texto estão fora de discussão. As variantes que modificam o texto abrange a milésima parte delê: somente umas 15 variantes têm certa importância; contudo, nenhuma delas toca a substancia do dogma estabelecido pelas passagens criticamente certas, sem termos a necessidade de lançar mão de textos duvidosos"

Prof. João Flavio Martinez
É um dos fundadores do CACP, graduado em história e professor de religiões.

A Teoria de Westcott e Hort e o Texto Grego do Novo Testamento: Um Ensaio em Manuscritologia Bíblica*


por Paulo R. B. Anglada**

Duas edições do texto grego do Novo Testamento estão sendo utilizadas por tradutores, comentaristas e pastores protestantes em geral em nossos dias: o Novum Testamentum Graece, conhecido como o texto de Nestle-Aland (seus editores), publicado pelo Deutsche Bibelstiftung, já na 27ª edição; e o The Greek New Testament, editado por uma comissão composta por renomados eruditos da área (Barbara Aland, Kurt Aland, Johannes Karavidopoulos, Carlo M. Martini, e Bruce M. Metzger), publicado pela United Bible Societies (Sociedades Bíblicas Unidas), já na sua 4ª edição.(1)
Estes textos, praticamente idênticos, são o produto de uma teoria textual desenvolvida no século passado e consolidada especialmente por dois eruditos ingleses, de Cambridge: Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort (Westcott-Hort). Em 1881 eles publicaram o The New Testament in the Original Greek, em dois volumes, contendo o texto grego do Novo Testamento e a teoria e métodos empregados na preparação do texto.(2)
Esse texto grego, bem como os demais que nele se basearam a partir de então, passaram a rejeitar a grande maioria dos manuscritos gregos (3) — nos quais até então se baseavam as edições impressas do Novo Testamento — e a adotar alguns poucos manuscritos mais antigos, descobertos nestes últimos séculos (4), e a afastar-se cada vez mais do texto anterior.
Essa teoria revolucionou a crítica textual do Novo Testamento de tal maneira que os livros textos sobre o assunto passaram a ensiná-la, não como teoria, mas como fato consumado; e assim tem sido ensinada em seminários e conseqüentemente empregada nas novas traduções para o português, comentários, obras teológicas e pregações.
Tamanha é a influência dessa teoria sobre a matéria, e tão estabelecido o seu domínio neste século, que poucos têm ousado questioná-la. Assim, quase nada se tem escrito sobre o assunto de outro ponto de vista. No Brasil, até onde este autor tem conhecimento, nenhum livro foi escrito do ponto de vista contrário à teoria de Westcott-Hort e dos textos ecléticos que produziu.(5)
O propósito deste artigo é apresentar de forma breve uma resumo da história do texto grego impresso do Novo Testamento, expor a teoria de Westcott-Hort, e oferecer algumas críticas.(6) Estas críticas serão oferecidas a partir do que outros estudiosos têm dito sobre o assunto. Meu propósito não é tanto oferecer críticas originais, mas demonstrar que a supremacia do texto de Westcott e Hort tem sido questionada por peritos de renome no campo da crítica textual. Meu desejo é que a constatação deste fato leve o leitor a ter uma atitude mais cautelosa e analítica diante da aparentemente indisputável supremacia dos textos ecléticos.

Principais Períodos Históricos do Texto Grego Impresso do Novo Testamento
A história do texto grego impresso do Novo Testamento pode ser dividida em três períodos. O primeiro período, o período não-crítico, caracteriza-se pelo estabelecimento e padronização do texto encontrado na grande maioria dos manuscritos usados pela Igreja Antiga e Medieval. Este texto é conhecido pelos nomes de bizantino, sírio, tradicional, eclesiástico, ou majoritário. Começando com a impressão feita por Ximenes em 1514, e estendendo-se até as edições publicadas pelos irmãos Elzevir em 1678 — conhecidas pela expressão Textus Receptus — este estágio da história textual do Novo Testamento é marcado pela aceitação incondicional do texto até então usado amplamente pela Igreja, havendo pouquíssima diferença entre as diversas edições publicadas.
O segundo período, conhecido como pré-crítico, cujo início pode ser marcado com a edição de John Fell, em 1675, estende-se até antes de 1831 — quando Lachmann publica um texto que se afasta bastante do Textus Receptus. Este período caracteriza-se pelo acúmulo de evidências textuais por parte dos críticos, bem como pela elaboração de teorias que viriam a ser aceitas e desenvolvidas no período posterior, repudiando completamente o texto grego majoritário do Novo Testamento, no geral expresso nas edições do período anterior. Entretanto, o texto francamente aceito pela Igreja, nesta fase, continuou sendo o Textus Receptus, pois as evidências textuais acumuladas contrárias a ele, não chegaram a ser aplicadas ao texto (7). Nas raras ocasiões em que o foram, mesmo que em parte, tais textos foram firmemente rejeitados pelo consenso da Igreja.
O terceiro e último período, o período crítico, começando com Lachmann (1831) e se estendendo até os nossos dias, caracteriza-se por um afastamento generalizado do Texto Majoritário, e pelo aparecimento de um texto eclético, baseado em um número bastante reduzido de manuscritos, os quais, embora antigos, discordam bastante entre si, bem como da grande massa de manuscritos que apresentam o texto "bizantino". Esse tipo de texto eclético, que começou com Lachmann, e teve em Westcott e Hort os seus maiores defensores, atualmente tem se espalhado pelo mundo através, principalmente, das edições de Nestle-Aland e da United Bible Societies (UBS). Estas são, praticamente, as únicas edições do Novo Testamento grego conhecidas acessíveis, e portanto usadas, pela grande maioria dos estudantes, teólogos, exegetas e tradutores, tanto protestantes como católicos nos últimos anos. Entretanto, sempre tem havido eruditos como Burgon, Scrivener e, mais recentemente, J. Van Bruggen e W. Pickering, que continuaram a defender o Texto Majoritário, como o melhor texto original.

O Surgimento da Teoria de Westcott e Hort
O texto grego de Westcott-Hort veio a tornar-se a obra que mais tem influenciado a crítica textual moderna do Novo Testamento. Alexander Souter a considera "a maior edição já publicada".(8) Bruce Metzger, chama-a de "a mais notável edição crítica do Testamento grego já produzida pela erudição britânica".(9) Kirsopp Lake diz que "este trabalho é o fundamento de quase toda a crítica moderna’’(10) Kenyon afirma ser esta uma obra "que tem feito época, no sentido literal da palavra, na história do Criticismo do Novo Testamento, ... tem colorido tudo o que tem sido escrito sobre o assunto ... e suprido a base de todo o trabalho feito hoje neste campo".(11) Com o que concorda Greenlee, afirmando que com o trabalho desses autores nós chegamos ao "clímax deste terceiro período", e que "a influência de Westcott-Hort sobre todo o trabalho subseqüente na história do texto nunca foi igualada".(12)
Esta obra afamada foi preparada durante 28 anos. O primeiro volume contém o texto grego do Novo Testamento (sem aparato crítico, mas indicando algumas leituras variantes); o segundo, contém a Introdução, explicando os princípios textuais usados pelos editores, bem como um apêndice, com notas sobre algumas leituras selecionadas.
Contrariamente aos editores anteriores, Westcott e Hort não fizeram novas pesquisas nos manuscritos disponíveis nem prepararam um novo aparatus criticus. A fama de sua obra, portanto, não provém de suas pesquisas em testemunhas textuais, mas da teoria textual que desenvolveram, a partir do que, nestes campos, haviam elaborado eruditos conhecidos, como Bengel, Griesbach, Lachmann, Tischendorf, Tregelles e outros que os precederam.
A teoria desenvolvida por Westcott e Hort consolidou a tendência da crítica textual da época de afastar-se do Textus Receptus e, conseqüentemente, do Texto Majoritário, em direção a textos ecléticos baseados em uma minoria de manuscritos, os quais, apesar de diferirem grandemente entre si, passaram a ser considerados superiores, pela maioria dos críticos modernos.

Exposição da Teoria de Wescott-Hort
No que se segue, oferecemos uma exposição resumida dos principais pontos da teoria de Westcott-Hort, que levou ao aparecimento do novo texto grego do Novo Testamento.
Pressuposição Fundamental
Westcott-Hort partem da pressuposição fundamental de que o texto do Novo Testamento deve ser tratado como um texto ordinário, como qualquer outro livro. Nas palavras deles, os princípios de criticismo explicados nas seções seguintes são bons para todos os textos antigos preservados em uma pluralidade de documentos. No tratamento do Novo Testamento, nenhum novo princípio é necessário ou legítimo.(13)
Esta pressuposição, por sua vez, fundamenta-se em outra: de que não houve falsificação maliciosa no texto do Novo Testamento durante sua transmissão. Quando afirmam que o texto do Novo Testamento é ordinário, querem dizer, com isso, que não há evidências históricas de interpolações ou omissões deliberadas nos seus manuscritos, o que valida o emprego dos métodos críticos ordinários aplicados aos textos clássicos antigos. Eis o que afirmam:
Mesmo entre as inquestionavelmente numerosas leituras espúrias do Novo Testamento não há sinal de falsificação deliberada do texto com propósitos dogmáticos.(14)
Cremos que a ausência [no texto moderno] de fraudes perceptíveis, que deram origem a qualquer das várias leituras agora existentes, também se aplica para o texto que antecedeu mesmo as mais antigas variantes existentes...(15)

O Método das Evidências Internas
Partindo dessas pressuposições básicas, Westcott-Hort prepararam o Texto Eclético, considerando as seguintes evidências internas: a probabilidade intrínseca e a probabilidade de transcrição. Por probabilidade intrínseca, eles procuraram descobrir "o que um autor parece ter escrito".(16) O método, para se descobrir qual a variante correta (ou provável), por este princípio, é resumido por eles como segue:
O primeiro impulso ao tratar com uma variante é usualmente seguir a probabilidade intrínseca, isto é, considerar qual das duas leituras faz o melhor sentido e, de acordo com isso, decidir entre elas. A decisão pode ser feita tanto por um julgamento imediato, e portanto, intuitivo, ou pesando cautelosamente vários elementos que irão definir o que é chamado de sentido, de conformidade com a gramática e congruência com o estilo usual do autor e com o assunto em outras passagens.(17)
Por probabilidade de transcrição, eles procuram descobrir "o que os copistas parecem ter feito o autor parecer escrever".(18) No que consiste tal probabilidade?
Eles respondem:
Se uma variante aparenta dar-nos um sentido muito melhor ou sobrepujar a outra variante, essa aparente superioridade deve ter sido a causa da introdução da referida variante no texto. Disparates [textos difíceis] à parte, nenhum motivo pode ser pensado que viesse a levar um escriba a introduzir conscientemente uma leitura pior no lugar de uma leitura melhor.(19)

Regras Básicas
Com base nestes princípios, duas regras básicas foram usadas por Westcott-Hort para o estabelecimento do texto deles. Primeira: brevior lectio potior (a menor leitura deve ser preferida), assumindo que os escribas tinham mais tendência para incluir do que omitir. Segunda: proclivi lectioni praestat ardua (a leitura mais difícil deve ser preferida), assumindo que os escribas eram propensos a simplificar o texto quando confrontados com algum "disparate".

O Argumento da Conflação
Um argumento considerado importante na teoria de Westcott-Hort foi a afirmativa de que conflação é característica de mistura, e que só o texto "sírio" as apresenta, sendo portanto um texto secundário.(20) Oito exemplos de conflação do texto "sírio" (d), a partir dos textos "ocidental" (b) e "neutro" (a) são mencionados por eles.(21) Segundo eles,
As relações traçadas nunca são invertidas. Nós não conhecemos nenhum lugar onde o grupo "a" de documentos (neutro) comprove leituras aparentemente conflacionadas de leituras dos grupos "b" (ocidental) de "d" (sírio) respectivamente, ou onde o grupo "b" (ocidental) de documentos comprove leituras aparentemente conflacionadas de leituras dos grupos "a" e "d" respectivamente.(22)

O Argumento da Genealogia
Outro argumento considerado chave da teoria de Westcott-Hort para derrubar a superioridade numérica do Texto Majoritário, é baseado no conceito de genealogia dos documentos. Por meio deste argumento, eles reduziram a grande massa de manuscritos "bizantinos’’ a uma família derivada de outros manuscritos, enfraquecendo assim o peso do seu testemunho.

Inexistência de Variantes Sírias anteriores a Crisóstomo
Outra proposição de Westcott-Hort aceita por muitos foi a suposta não existência de variantes Sírias anteriores a Crisóstomo (que morreu em 407).(23) A importância atribuída a esta tese fica evidente nas seguintes palavras de Kenyon:
A proposição de Hort que foi a pedra fundamental da sua teoria, foi que leituras características do Texto Recebido nunca são encontradas em citações de escritores cristãos anteriores a cerca de 350. Antes desta data nós achamos leituras caracteristicamente neutras ou ocidentais, mas nunca sírias. Este argumento é de fato decisivo.(24)
Visto que em 1881 ainda não haviam sido descobertos os papiros,(25) Hort refere-se, é claro, apenas às citações dos Pais da Igreja anteriores a Crisóstomo.

A Recensão de Luciano
Mas como explicar a superioridade numérica e a surpreendente harmonia dos manuscritos bizantinos? Hort explicou o fato através de uma recensão, que teria sido levada a efeito por Luciano (morto em 311). As suas palavras são as seguintes:
O texto sírio deve ser de fato o resultado de uma recensão no sentido próprio da palavra, um trabalho esforçado de criticismo, executado deliberadamente por editores e não meramente por escribas.(26)
Hort sugeriu, em outras palavras, que a harmonia dos manuscritos bizantinos se devia a uma revisão e editoração críticas feita no século III dos textos disponíveis. Esta revisão, que teve o propósito de produzir um texto oficial do Novo Testamento para as Igrejas gregas, teria começado em Antioquia por volta de 250 A.D. e foi concluída por volta de 350 A.D. O principal responsável pela forma final deste texto revisado e editado teria sido, segundo Hort sugeriu, Luciano de Antioquia, um estudioso (possivelmente de convicções arianas) que morreu martirizado durante as perseguições aos cristãos movidas pelo Império Romano. Por este motivo, o Texto Majoritário é às vezes chamado de texto antioquiano, ou texto sírio (Antioquia era a capital da Síria). O texto produzido por Luciano, diz Hort, se tornou a versão oficial das Igrejas Gregas, e a base do Textus Receptus.

Opositores à Teoria de Westcott-Hort
Embora a teoria desenvolvida por Westcott e Hort tenha, como dissemos anteriormente, dominado a moderna crítica textual do Novo Testamento, nem todos a aceitaram. John W. Burgon, Edward Miller, Frederick Scrivener e George Salmon foram alguns dos importantes estudiosos do Novo Testamento, contemporâneos de Westcott e Hort, que combateram tenazmente tanto a teoria como o texto grego desses autores.
John William Burgon (1813-1888), Deão de Chichester, conhecido por sua ortodoxia e erudição inquestionáveis, foi um dos maiores defensores do que ele chamou de texto tradicional(27), em oposição ao Texto Eclético de Westcott e Hort(28). A defesa que Burgon fez do texto tradicional(29) baseava-se nos seguintes argumentos: (1) Este é o texto apoiado pela grande maioria dos manuscritos, de qualquer tipo, em qualquer época, e nas principais regiões (Ásia Menor e Grécia); (2) Este é também o texto que apresenta melhor qualidade intrínseca (harmonia, gramática, estilo, etc.); (3) Este é o texto que tem sido universalmente aceito pela Igreja.
Dentre as contribuições de Burgon para a Crítica Textual do Novo Testamento, podemos citar as pesquisas de diversos manuscritos cursivos;(30) a preparação de uma excelente coleção de citações patrísticas do Novo Testamento, nos Pais da Igreja, o Index Patristicus, com 86.489 citações, em dezesseis volumes manuscritos;(31) uma defesa erudita, muito bem elaborada, dos últimos doze versos do Evangelho de Marcos;(32) e uma crítica penetrante à Revised Version (Versão Revisada da Bíblia Inglesa), baseada no texto de Westcott e Hort.
Edward Miller ficou conhecido como colaborador e editor póstumo das obras de John Burgon. Ele organizou, completou e publicou a obra de Burgon The Traditional Text of the Holy Gospels Vindicated and Established ("O Texto Tradicional dos Santos Evangelhos Defendido e Estabelecido"),(33) e escreveu A Guide to the Textual Criticism of the New Testament ("Um Guia à Crítica Textual do Novo Testamento").(34)
Frederick Henry Ambrose Scrivener foi outro perito em crítica textual que combateu a teoria de Westcott e Hort. Professor em Cornwall, Scrivener é um nome importante na história do texto do Novo Testamento. Como defensor do Texto Majoritário publicou, a partir de 1859, diversas edições do Textus Receptus, de Stephanus, com leituras de Elzevir, Lachmann, Tischendorf e Tregelles. Em 1881, publicou o texto grego usado pelos revisores ingleses de 1611. Entre 1861 e 1894, publicou em quatro volumes o manual mais usado pelos críticos textuais ingleses, intitulado A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament ("Uma Introdução Clara à Crítica do Novo Testamento"). Além disso, Scrivener publicou diversos códices, tais como o Augiensis (1859), Bezae (1864) e Sinaítico (1864). Entretanto, foi através das pesquisas que fez em manuscritos que deu a sua maior contribuição, pois analisou mais de setenta manuscritos do Novo Testamento.(35) Isto mostra que tanto Burgon quanto Scrivener eram eruditos dos mais capazes na pesquisa do texto do Novo Testamento, e, pelo menos por isto, suas críticas deveriam ser recebidas com mais atenção pelos críticos textuais modernos.
G. Salmon também se opôs firmemente à teoria de Westcott-Hort. Em uma obra não publicada, escrita em 1897, intitulada Some Thoughts on the Textual Criticism of the New Testament ("Reflexões sobre a Crítica do Novo Testamento") ele alerta quanto ao servilismo com o qual a teoria de Hort estava sendo aceita, e sua nomenclatura adotada, "...como se a última palavra tivesse sido dada quanto ao assunto do criticismo do Novo Testamento..."(36)

Avaliação da Teoria de Westcott-Hort
Os estudiosos mencionados acima certamente já ofereceram argumentos de peso contra alguns pontos questionáveis da teoria de Westcott-Hort. No que se segue, tentaremos resumir os que nos parecem mais importantes, usando como base a avaliação de W. Pickering.(37)

Pressuposição Fundamental
A pressuposição básica da teoria de Westcott-Hort de que o texto do Novo Testamento deve ser tratado como um texto ordinário, por não haver falsificação deliberada com propósitos dogmáticos, não corresponde às evidências históricas. Longe de se tratar de um texto ordinário, o texto bíblico é especial, no sentido em que tanto Deus como Satanás têm um especial interesse por ele - Deus em preservá-lo e Satanás em destruí-lo. Não são poucos os críticos textuais modernos que reconhecem a improcedência desta pressuposição fundamental da teoria de Westcott-Hort. H. H. Oliver, por exemplo, afirma o seguinte:
O fato de existirem alterações deliberadas e aparentemente numerosas ocorridas durante os primeiros anos da história textual é uma considerável inconveniência para a teoria de Hort por duas razões: isto introduz uma variável imprevisível que os cânones de evidência interna não podem manusear, e coloca o restabelecimento do original além da capacidade do método genealógico.(38)
As próprias evidências históricas contrariam esta pressuposição de Westcott-Hort. Os Pais da Igreja revelam, em seus escritos, a tendência, por parte dos hereges (e não somente deles), de falsificação doutrinária maliciosa do texto do Novo Testamento. O próprio Metzger reconhece que:
Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Eusébio e muitos outros pais da Igreja acusaram os heréticos de corromper as Escrituras a fim de ter suporte para seus pontos de vista especiais. Na metade do século II Marcião expurgou de suas cópias dos Evangelhos de Lucas todas as referências ao background judaico de Jesus. A Harmonia dos Evangelhos preparada por Taciano contém várias alterações que forneceram apoio a pontos de vista ascéticos.(39)
Burgon menciona que "Gaio, um Pai ortodoxo que escreveu entre 175 e 200 AD, cita Asclepíades, Theodotus, Hermophilus e Apolinides como heréticos que prepararam cópias corrompidas das Escrituras e que tinham discípulos que multiplicaram cópias de fabricação própria."(40) Uma das evidências históricas mais claras e conhecidas quanto à questão é a seguinte citação de Orígenes:
Nos dias de hoje, como é evidente, há uma grande diversidade entre os vários manuscritos, tanto devido à negligência de certos copistas, como devido à perversa audácia mostrada por alguns que corrigem o texto, como ainda devido à falta daqueles que, dizendo-se corretores, o alongaram ou diminuíram conforme lhes agradava.(41)

O Método das Evidências Internas
Quanto ao método das evidências internas empregado por Hort, é de se notar que as duas hipóteses de probabilidade (intrínseca e de transcrição) são conflitantes. Seguindo a probabilidade intrínseca, devemos escolher a leitura que mais se adapte às características do autor; enquanto que seguindo a probabilidade de transcrição, deve ser escolhida a leitura que menos se adapte ao autor, pois a leitura que mais se adapta deve ter sido a leitura secundária (introduzida pelo copista). Adotando tal método conflitante, a crítica textual deixa de ser ciência - por isso, alguns a consideram arte. Não estaríamos longe da verdade se afirmássemos que a adoção de um método contraditório deste tipo pode expor a crítica textual ao risco de tornar-se um exercício de adivinhação.
E mesmo Westcott-Hort admitem a contradição:
Onde uma leitura (a) parece intrinsecamente preferível, e sua excelência é de uma qualidade que nós podemos esperar ser reconhecida pelos escribas, enquanto que sua rival (b) não mostra característica provável para ser atrativa para eles, as probabilidades intrínseca e de transcrição estão praticamente em conflito.(42)
Autores posteriores a Westcott-Hort reconhecem a natureza conflitante do método deles. Colwell, por exemplo, conclui:
Infelizmente estes dois critérios freqüentemente entram em colisão frontal, porque escribas antigos assim como editores modernos freqüentemente preferem a leitura que melhor cabe no contexto.(43)
Se nós escolhermos a leitura que melhor explica a origem de uma outra leitura, nós estamos geralmente escolhendo a leitura que não cabe no contexto. Os dois critérios cancelam-se mutuamente.(44)

Regras Básicas

Brevior lectio potior
É conhecidíssima e amplamente aceita a regra segundo a qual a menor variante é a melhor, devido à suposta maior tendência dos escribas à inclusão do que à exclusão. Entretanto, existem alguns fatos que vêm questionar a aceitação incondicional desta regra. Primeiramente, existem estudos recentes dos escritos clássicos greco-latinos que parecem provar exatamente o contrário: que os escribas eram mais tendentes a omissões acidentais do que a interpolações intencionais.(45)
Não seria impossível admitir que o mesmo ocorre com relação aos manuscritos do Novo Testamento. Colwell, ao estudar os hábitos dos escribas dos papiros p45, p66 e p75, demonstrou que cada um deles apresenta características próprias de erros: letras (p75), sílabas (p66) ou palavras e frases (p75).(46) Mas os três são unanimemente inclinados a omitir (três vezes mais, em geral) do que a incluir.

Proclivi lectioni praestat ardua
De acordo com a outra regra básica usada por Westcott-Hort para o estabelecimento do texto do Novo Testamento, a leitura mais difícil deve ser preferida. Segundo eles, os escribas eram propensos a simplificar o texto quando confrontados com algum "disparate". Entretanto, parece-nos perfeitamente plausível inferir o oposto, ou seja: que os erros dos escribas é que, na maioria das vezes, acabavam produzindo "disparates" (variantes mais difíceis).
Já mencionamos que, segundo nos parece, pode haver alterações intencionais em manuscritos do Novo Testamento. Contudo, é difícil negar que as modificações introduzidas no texto provêm mais de lapsos não intencionais. Ora, é natural esperar que lapsos não intencionais produzam leituras difíceis e não fáceis.
Na verdade, há evidências históricas indicando que variantes mais difíceis foram produzidas até mesmo como resultado de alterações intencionais. Jerônimo, por exemplo, denuncia esta prática, dizendo que copistas "escrevem não o que encontram mas o que pensam ser o significado. E, ao tentar retificar o erro de outros, eles meramente expõem os seus próprios."(47)

O Argumento da Conflação
O argumento de que o texto "sírio" era um texto conflacionado e, portanto, secundário já foi reconhecido por alguns estudiosos como "o calcanhar de Aquiles de Hort". Razão: é uma generalização fundamentada em apenas oito exemplos.
Alguns estudos têm demonstrado que esta generalização não tem fundamento sólido. E. A. Hutton, após verificar as 821 variantes onde as assim chamadas famílias "alexandrinas", "ocidentais" e "bizantinas", discrepam umas das outras no Novo Testamento, apresenta apenas umas poucas passagens onde o texto "sírio" poderia ter sido conflacionado,(48) afora os oito exemplos citados por Hort. Ora, mesmo admitindo que todos os exemplos mencionados sejam de fato conflações (o que é discutível), ainda assim, a proporção seria de aproximadamente 100 para 1. Pouquíssimo para permitir uma generalização plausível.
E apesar de Westcott-Hort afirmarem não ocorrer o inverso, ou seja, não haver exemplos de conflação do texto "alexandrino" a partir do texto "sírio" com "ocidental" ou do texto "ocidental" a partir do "sírio" com o "alexandrino", existem diversos exemplos possíveis desse tipo de conflação no Novo Testamento. Pickering menciona cinco exemplos na página 60 do seu livro The Identity of the New Testament Text (p. 171-200) e apresenta uma lista com cerca de cem outras no apêndice.
Esses exemplos testificam contrariamente do argumento da conflação como evidência de texto secundário. Além do que, poder-se-ia ainda indagar: se possíveis exemplos de conflação indicam "família textual" secundária, quais seriam as famílias textuais primárias?

O Argumento da Genealogia
Não há nada de errado com o argumento da genealogia, desde que ele fosse de fato aplicado. Ou seja, se de fato fosse possível descobrir a árvore genealógica dos manuscritos do Novo Testamento, o propósito da manuscritologia bíblica estaria próximo do fim. Se realmente fosse possível determinar com precisão o parentesco dos mais de cinco mil manuscritos do Novo Testamento, seria fácil determinar o texto original.
Contudo, creio que nem Westcott-Hort, nem outros peritos em crítica textual, até o momento conseguiram levar a cabo tal empreendimento.(49) Sintomático disto é o fato que, sempre que o assunto é tratado, manuscritos imaginários (x, y, z, por exemplo) são empregados para ilustrar o argumento, pois ninguém realmente sabe o parentesco que os manuscritos apresentam entre si. Com exceção de uns poucos casos, que não ajudam praticamente em nada diante do volume dos manuscritos existentes, não tem sentido falar-se de genealogia, enquanto ela não for de fato identificada.
Além disso, a mistura das árvores genealógicas constitui-se uma barreira quase que intransponível para o argumento. Como determinar o parentesco de mais de cinco mil manuscritos que misturam suas genealogias?
Westcott-Hort não conseguiram (obviamente) aplicar o argumento da genealogia. Portanto, a determinação das assim chamadas famílias ou tipos textuais carece de um fundamento menos tênue que esse trabalho não realizado até o momento. Fica difícil falar em famílias "alexandrina", "ocidental", "neutra" e "síria". A advertência de M. M. Parvis ilustra perfeitamente a atitude da crítica textual do Novo Testamento com relação ao assunto:
Nós temos reconstruído tipos textuais e famílias e sub-famílias e, assim fazendo, temos criado coisas que nunca antes existiram na terra ou no céu. Temos assumido que manuscritos reproduzem-se de acordo com a lei de Mendel. Mas quando descobrimos que um manuscrito em particular não se encaixa em nenhum dos nossos esquemas habilmente construídos, levantamos nossas mãos e dizemos que contém um texto misto.(50)
Parvis não está, de modo algum, sozinho na sua conclusão. Klijn, por sua vez, afirma:
Ainda se costuma dividir manuscritos em quatro bem conhecidas famílias: a alexandrina, a cesareense, a ocidental e a bizantina. Esta divisão clássica não pode mais ser mantida (...) Se há de acontecer qualquer progresso no criticismo textual temos que nos desvencilhar da divisão em textos locais. Novos manuscritos não devem ser atribuídos a um área geográfica limitada, mas ao seu lugar na história do texto.(51)
Não seria difícil multiplicar citações de eruditos demonstrando que as assim chamadas famílias ou tipos textuais são arranjos artificiais que não expressam a verdade dos fatos. Kenyon, Zuntz, Colwell, Von Soden, Lake, Nestle, Metzger, Clark e outros questionam ou até mesmo negam claramente a validade de algumas famílias específicas, ou mesmo da classificação em geral. Apenas um exemplo específico para ilustrar o que temos afirmado: os códices ) e B, considerados como os principais representantes do texto "alexandrino" ("neutro" de Westcott-Hort), diferem mais de três mil vezes entre si somente nos evangelhos, sem contar erros menores de ortografia.

Inexistência de Variantes Sírias Anteriores a Crisóstomo
A tese da inexistência de variantes "sírias" anteriores a Crisóstomo, mantida por Westcott-Hort, depara-se com algumas dificuldades trazidas por certas evidências históricas.
A maior delas diz respeito à versão siríaca Peshita. Até então, a Peshita era considerada a mais velha das versões siríacas, e anterior a Crisóstomo. Ela constituía-se assim em uma forte testemunha do Texto Majoritário, visto que nela encontramos leituras características do Texto Majoritário. O embaraço que a Peshita representava para a tese da inexistência de variantes "sírias" anteriores a Crisóstomo foi contornada da seguinte maneira: ela passou a ser considerada uma revisão da Velha Siríaca, feita por Rábula, Bispo de Edessa, em cerca de 425, conforme tese de Burkitt.(52) Esta tese foi imediatamente aceita e amplamente propagada.
Entretanto, nem todos os peritos da área se deixaram convencer tão facilmente. Burgon observa que não há evidência histórica para tal afirmativa.(53) É interessante observar que o próprio Westcott, em seu livro On the Canon of the New Testament, parece se contradizer quanto ao assunto, ao afirmar que não via
...razão para abandonar a opinião que tem obtido sanção dos mais competentes eruditos, de que a formação da Peshita Siríaca deveria ser fixada dentro da primeira metade do segundo século. A própria obscuridade que paira sobre sua origem é prova da sua venerável idade, porque mostra que cresceu espontaneamente entre as congregações cristãs ... Fosse ela uma obra de data posterior, do terceiro ou quarto século, dificilmente seria possível que sua história fosse tão incerta quanto é.(54)
E o que dizer dos pais da igreja? Estudos posteriores sobre este período têm sugerido que a tese de Westcott-Hort quanto às variantes "sírias" carece de uma melhor fundamentação nas evidências. Os estudos publicados por Edward Miller, editor póstumo de John Burgon, revelam que o assim chamado texto "sírio" é tão ou até mesmo mais atestado pelos pais da igreja desse período do que os assim chamados textos "ocidental" e "neutro".
Segundo estes estudos, Orígenes apoia o texto "sírio" 460 vezes, e o texto "ocidental" ou "neutro" 491. Irineu apoia o texto "sírio" 41 vezes, e o texto "ocidental" ou "neutro" 63 vezes. Já Justino apoia os dois textos praticamente o mesmo número de vezes. Enquanto que Hippolytus e Methodius apoiam mais o texto "sírio" do que os texto "ocidental" e "neutro".(55)
Em resumo, após consultar todos os pais da igreja mortos até o ano 400, Miller verificou que o texto tradicional é apoiado em uma proporção de 3 para 2 em relação aos textos "ocidental" ou "neutro".(56) Ou seja, 2.630 a favor de variantes do texto tradicional contra 1.753 a favor de outras variantes. Considerando apenas os pais da igreja mais antigos (de Clemente de Roma a Irineu e Hippolytus), a proporção a favor do texto tradicional é ainda maior: 151 contra 84 (isto é, 1,8 para 1).(57)
Ainda que estes números não estejam corretos ou que algumas ou até muitas das variantes consideradas por Miller como tradicionais não sejam leituras "sírias" puras, como Kenyon alega (58); ainda assim, o que sobrar — não pouco — será suficiente para tornar praticamente improvável a proposição de Westcott-Hort de que não existem variantes "sírias" anteriores a Crisóstomo.

A Recensão de Luciano
A explicação fornecida pela teoria de Westcott-Hort para a surpreendente superioridade numérica e harmonia dos manuscritos "sírios", é o que tem sido chamado de "a recensão de Luciano". É no mínimo intrigante que um acontecimento tão importante quanto esta hipotética recensão não tenha sido registrada, mencionada ou aludida em nenhum dos documentos históricos de que dispomos. A História não registra absolutamente nada sobre ela.
Por isso mesmo, boa parte dos eruditos — mesmo entre os que defendem o Texto Eclético, tais como Colwell, F. C. Grant, e Jacob Geerlings — já não apoiam essa teoria, mas consideram que a história do texto "sírio’’, assim como a dos demais, remonta ao segundo século ou mesmo aos autógrafos.(59)

CONCLUSÃO
Esta exposição e avaliação da teoria de Westcott-Hort é resumida, mas cremos ser suficiente para dar uma idéia dos seus pontos vulneráveis. O fato é que quase todos os pontos em que ela se baseia podem ser, e têm sido, questionados com argumentos e evidências bastante plausíveis por eruditos de renome na área. Evidentemente existem também eruditos de renome que defendem os textos ecléticos. Não se trata de combater idéias com base na autoridade de celebridades. O que espero ter ficado claro é que os textos ecléticos não têm aceitação universal da parte dos estudiosos. E que mesmo sendo em número inferior, os que questionam a sua superioridade em nada são inferiores em preparo e erudição. E seus argumentos nos parecem, na maior parte das vezes, bastante plausíveis.

* Publicado anteriormente na revista Fides Reformata 1:2 (1996).
** O autor é ministro presbiteriano, professor de Grego e Hermenêutica no Seminário Teológico Batista Equatorial e presidente da Associação Reformada Palavra da Verdade, na cidade de Belém. É mestre em Teologia pela Potchefstroom University for Christian Higher Education (África do Sul) e doutorando em Ministério no Westminster Theological Seminary, na Califórnia.
1 Este é o texto grego utilizado por versões em português, como a popular Almeida Revista e Atualizada (já na 2a. edição) e a Nova Versão Internacional. Todas as paráfrases (como a Bíblia na Linguagem de Hoje) também usam este texto.
2 B. F. Westcott & F. J. A. Hort, The New Testament in the Original Greek. Introduction and Appendix (New York: Harper & Brothers, 1882).
3 Cerca de 90% dos manuscritos - representado nas edições críticas modernas pelos símbolos "M" (gótico) = majoritário (Nestle-Aland) ou Byz = bizantino (UBS). Embora os manuscritos mais antigos que contêm o Texto Majoritário não antecedam o século IV (a maioria é dos séculos VI a IX) o texto que refletem era considerado como bem mais antigo, datando mesmo dos primeiros séculos da era cristã.
4 Especialmente os maiúsculos ) (códice Sinaítico) e B (códice Vaticano).
5 O termo "eclético" refere-se ao fato de que o texto de Westcott-Hort é o resultado de várias escolhas feitas entre variantes disponíveis, seguindo critérios de evidências internas (como a leitura que melhor se encaixa no contexto, e a leitura que melhor explica o surgimento de outras variantes), sem maiores considerações para com evidências externas, tais como a história da transmissão do texto.
6 Uma exposição e avaliação bem mais elaborada pode ser encontrada em Wilbur Pickering, The Identity of the New Testament Text (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980), no qual a presente exposição e avaliação em grande parte se baseiam.
7 F. G. Kenyon, Handbook to the Textual Criticism of the New Testament, 2ª ed. (Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1951) 273.
8 Alexander Souter, The Text and Canon of the New Testament (London: Duckworth, 1913) 103.
9 Bruce Metzger, The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration (New York e Oxford: Oxford University Press, 1968) 129.
10 Kirsopp Lake, The Text of the New Testament. 6ª ed. rev. (Londres: Revington, 1928) 61.
11 Kenyon, Handbook to the Textual Criticism, 294.
12 J. H. Greenlee, Introduction to New Testament Textual Criticism (Grand Rapids: Eerdmans, 1964) 77.
13 Westcott & Hort, The New Testament in the Original Greek, 73.
14 Ibid., 282.
15 Ibid., 283.
16 Ibid., 20.
17 Ibid.
18 Ibid.
19 Ibid., 22.
20 Ibid., 49,106. Por conflação entende-se a combinação ou mistura proposital de duas variantes divergentes produzindo uma terceira leitura onde as divergências são suavizadas.
21 Mc 6.33; 8.26; 9.38; 9.49; Lc 9.10; 11.54: 12.18 e 24.53 (Ibid., 95-104).
22 Ibid., 106
23 Ibid., 91.
24 Em Recent Developments in the Textual Criticism of the Greek Bible (citado por Pickering, The Identity of the New Testament Text, 36).
25 Refiro-me principalmente aos papiros Chester Beatty (p45, p46 e p47), e ao papiro Bodmer (p66), descobertos no início da década de 1930, contendo variantes sírias.
26 Westcott-Hort, The New Testament in the Original Greek, 133.
27 Burgon chama de texto tradicional o que estamos chamando de Texto Majoritário: o texto evidenciado na grande maioria dos manuscritos.
28 O texto de Westcott e Hort era baseado principalmente nos códices ), B e D. Burgon considera estes manuscritos como "três das cópias mais escandalosamente corrompidas existentes (...) exibindo os textos mais vergonhosamente mutilados que podem ser encontrados (...) depositário do maior número de leituras fabricadas, erros antigos e perversões intencionais da Verdade’’ (The Revision Revised, 16).
29 Burgon preparou um texto revisado, onde exibiu a forma quase final do texto tradicional, corrigindo os defeitos encontrados no Textus Receptus de Stephanus e dos irmãos Elzevir (Kenyon, Handbook to the Textual Criticism, 307).
30 G. R. Gregory, Canon and Text of the New Testament (Edinburgh: T & T Clark, 1907) 462.
31 Esta coleção encontra-se no Museu Britânico (Souter, The Text and Canon of the New Testament, 102).
32 O título dessa obra, primeiramente publicada em 1871, foi The Last Twelve Verses of the Gospel according to St. Mark Vindicated Against Recent Objectors and Established ("Os Doze Últimos Versos do Evangelho segundo Marcos, Defendidos contra Objeções Recentes, e Estabelecidos").
33 Publicada em 1896, em Londres, por George Bell and Sons.
34 Publicado em 1886 pela mesma editora.
35 Gregory, Canon and Text of the New Testament, 462.
36 George Salmon, Some Thoughts on the Textual Criticism of the New Testament; obra não publicada (Londres, 1897) 33.
37The Identity of the New Testament Text, 41-97. É principalmente no capítulo 4 desta obra que baseamos essa avaliação.
38 H. H. Oliver, Present Trends in the Textual Criticism of the New Testament, in Journal of Bible and Religion, 30 (1962) 311-312.
39 Metzger, The Text of the New Testament, 201.
40 Citado por Pickering, The Identity of the New Testament Text, 42.
41 Em Matth. tom. XV, 14; Patrística Grega, XIII, 1293. K. Clark cita exemplos específicos de alterações deliberadas no texto com propósitos doutrinários por parte de Marcião (em Lc 10.21; 18.19; Gl 1.1 Rm 1.16), Orígenes (Jo 2.15), Taciano (Mc 1.41; Mt 17.26), e pelo autor do Evangelho de Tomé (Lc 14.26; Mt 13.44). Cf. K. W. Clark "The Theological Relevance of Textual Variation in Current Criticism of the Greek New Testament’’ em Journal of Biblical Literature, 85 (1966) 1-16.
42 Westcott-Hort, The New Testament in the Original Greek, 29.
43 Em The Greek New Testament (citado por Pickering, The Identity of the New Testament Text, 78).
44 Em External Evidence (citado por Pickering, The Identity of the New Testament Text, 79).
45 Esta é a conclusão de C. Clark, professor de latim na Universidade de Oxford, em The Descent of Manuscripts.
46 Em Scribal Habits, 376-387
47 Metzger, The Text of the New Testament, 195.
48 Tais como Mt 27.41, Jo 18.40, At 20.28 e Rm 6.12. Cf. sua obra An Atlas of Textual Criticism, citado por Pickering, The Identity of the New Testament Text, 59.
49 Eis apenas alguns nomes de eruditos da área os quais confirmam que Hort nunca aplicou a genealogia, ou que o método é impossível de ser aplicado diante das dificuldades: Parvis, Colwell, Zuntz, Vaganay, Aland.
50 M. M. Parvis, "New Testament Text" em The Interpreter’s Dictionary of the Bible, vol. 4 (Nashville: Abington Press, 1952) 594-614.
51 A. F. J. Klijn, "The Value of the Versions for the Textual Criticism of the New Testament" em The Bible Translator 8 (1957) 127-130.
52 H. C. Thiessen, Introduction to the New Testament (Grand Rapids. Michigan: Eerdmans, 1955) 54-55.
53 Em The Revision Revised (citado por Pickering, The Identity of the New Testament Text, 96).
54 Citado por W. MacLean, The Providential Preservation of the Greek of the New Testament (Westminster Standard, 1977) 20.
55 Cf. Pickering, The Identity of the New Testament Text, 64-65.
56 Burgon, The Traditional Text, ix,x.
57 Kenyon, Handbook to the Textual Criticism, 322-323.
58 Ibid., 323.
59 Pickering, The Identity of the New Testament Text, 94.