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terça-feira, 24 de março de 2009

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 2ª PARTE - ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ASSEMBLÉIA


ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ASSEMBLÉIA

Em 1534 Henrique VIII, que nasceu, viveu e morreu católico, desavindo-se com o papa pela razão bem conhecida de seu casamento, separou-se do papado e assumiu a chefia da Igreja na Inglaterra. Oficialmente a Inglaterra se tornara protestante, embora só houvesse nesse país até 1534 alguns grupos esparsos de evangélicos genuínos. Fizeram-se algumas reformas religiosas durante o reinado de Henrique VIII, talvez mais por influência de Ana Boleyn, a qual por interesse, e talvez em alguns casos com sinceridade, se inclinava para o protestantismo. No entanto, as coisas continuaram mais ou menos na mesma, exceção feita de que era o rei o chefe visível da Igreja e não o papa.

Com a sua morte em 1547, subia ao trono seu filho Eduardo VI, que começou a imprimir feição nova à Igreja sob a influência do arcebispo Cranmer. Parecia que a Inglaterra ia entrar num período de verdadeira Reforma. Veio a morte prematura do rei e subiu em seu lugar a sua irmã Maria Tudor, em 1553, católica ferrenha, que empenhou todas as suas forças para desfazer a obra de seu pai e de seu irmão e para reconduzir ao romanismo a Inglaterra. As perseguições desse período valeram-lhe a aquisição do título com que ficou conhecida na História, de Maria, a Sanguinária. Fugindo à sanha dessa inimiga pertinaz os crentes deixavam às centenas a Inglaterra para o continente, especialmente Holanda, margens do Reno e Genebra, entrando em contato direto com Calvino, então, no auge de sua influência. Em 1558 morre a Sanguinária e sobe ao trono Isabel, sua irmã. Esta, no seu longo reinado, muito favoreceu a Reforma, e restaurando o “Ato de Supremacia” decretado por seu pai, Henrique VIII, assumiu a chefia da Igreja Anglicana, como rainha que era. O protestantismo dessa rainha mesmo era um tanto acomodatício, fosse por prudência, na difícil situação em que se encontrava, ou por interesse político. O certo é que o seu primeiro parlamento se abriu com uma missa e um sermão evangélico ao mesmo tempo. Certo autor diz que as velas brilhavam nos altares com crucifixos ou bruxuleavam e se apagavam de acordo com as circunstâncias. Não obstante, um de seus primeiros atos foi permitir o regresso â pátria dos exilados dos tempos de Maria Tudor. Os exilados tinham podido apreciar melhor, no continente, os erros e a formalidade do culto católico, e voltavam imbuídos do espírito evangélico que. haviam encontrado em Genebra e noutras partes. Começaram a insistir em que os ingleses não sabiam o que era Reforma. Pregavam a necessidade de governo de igreja “puro”, culto simples e “puro”, doutrina “pura” e sobretudo vida “pura” de onde lhes adveio o nome de puritanos. Uma das coisas que mais aborrecimento lhes causavam era a paramentação do clero. Houve até bispos que pregavam contra isso em termos desabridos. O bispo Jewell chamava essas vestes de “roupas de palco”, “relíquias dos amorreus” e dizia que deviam ser “exterminadas pela raiz". O bispo Pilkington taxava-as de “aparelhamento papísta”, “impróprio de quem professa a piedade”. O arcebispo Parker também se expressou no mesmo sentido. O puritanismo cresceu a ponto de causar preocupações à própria Isabel e de se tornar uma grande força no fim de seu reinado. Todos os esforços da rainha para reduzi-lo ao anglicanismo foram baldados.

Entre os exilados, regressos do continente logo no ano seguinte de sua ascensão ao trono em 1559, estava João Knox, que assumiu a direção da Reforma na Escócia. Até então, só havia na Escócia também grupos esparsos de crentes evangélicos. Já em 1560, porém, o Parlamento escocês abolia o romanismo e estabelecia, como religião oficial,o presbiterianismo, que até hoje permanece como tal. Knox entrou em luta com a formosa rainha da Escócia, Maria Stuart, que era católica, mas a despeito de seus esforços ingentes não conseguiu reconduzir a Escócia ao romanismo. Abdicou, e o seu filho Tiago VI, o Infante, se tornou rei da Escócia.

O presbiterianismo tomou vulto na Escócia despeito de ser católico o rei, e quando Isabel faleceu na Inglaterra, em 1603, os dois reinos se uniram sob Tiago VI, da Escócia, que ascendeu ao trono como Tiago I, rei da Inglaterra e da Escócia e chefe da Igreja Anglicana. Ao morrer, em 1625, não conseguira, como tentara, obrigar os presbiterianos da Escócia e os puritanos da Inglaterra a se submeterem ao anglicanismo. Por sua morte, em 1625, ascende Carlos I, seu filho, como rei da Inglaterra e da Escócia e Chefe da Igreja, mais determinado do que seu pai em fazer "conformar" os puritanos da Inglaterra e os presbiterianos da Escócia com o anglicanismo. Mandou emissários â Escócia para impor o ritual anglicano aos escoceses. No velho templo de Saint Giles, em que pontificara João Knox,o Deão celebra o culto à maneira anglicana. Uma jovem operária, de nome Gennie Geddes, entendendo que aquilo se parecia com missa católica, tomou do banquinho em que se assentava e o atirou certeiro à cabeça do Deão, seguindo-se um verdadeiro levante geral dos assistentes. Esse ato foi o rastilho da revolta que se seguiu. Os escoceses assinaram de novo, às dezenas de milhares, a Solene Liga e Pacto, e organizaram-se em exército que marcha para a fronteira, a enfrentar o exército de Carlos I. Os signatários do pacto, os "covenanters", haviam jurado defender a fé até a morte.

Carlos I compreendeu que não dispunha de recursos em dinheiro e em homens para enfrentar um exército semelhante. Fez eleger um Parlamento que lhe votasse recursos de homens e de dinheiro e verifica com horror que o povo elegeu um Parlamento puritano. Dissolve este e determina que se proceda a nova eleição. Maior número de puritanos foi eleito. Resolve dissolvê-lo, mas o Parlamento permanece em trabalhos desde 1640 até 1653, pelo que toma o nome de Longo Parlamento, Foi nessas circunstâncias que se convocou a Assembléia de Westminster. Duas convocações da Assembléia feitas pelo Parlamento foram anuladas pelo rei. Ainda a terceira o rei proibiu em 22 de junho de 1643 que se reunisse, mas em 10 de julho de 1643 se reunia a Assembléia em presença das duas Casas do Parlamento na Abadia de Westminster, da qual tomou o nome.

O rei não se conformando com isso organizou um exército para submeter o Parlamento e este organizou outro exército e mandou, um emissário à Escócia pedir auxílio militar. Estava a Inglaterra lançada na guerra civil. Os escoceses prometeram auxílio sob a condição de que todos os membros do Parlamento assinassem o "Pacto e a Liga Solene", no que foram atendidos em 17 de agosto de 1643. O pacto obrigava os signatários a preservarem a Religião Reformada na Igreja da Escócia e a reformar a religião na Inglaterra e na Irlanda, em doutrina, culto, disciplina e governo, de acordo com a Palavra de Deus e o exemplo das melhores Igrejas Reformadas". Os escoceses nomearam também oito representantes para a Assembléia de Westminster, quatro ministros e quatro presbíteros, dois dos quais nunca tomaram assento. O auxílio militar veio também e habilitou o Parlamento a derrotar completamente o exército de Carlos I.

Longe teríamos de ir se quiséssemos prosseguir na apreciação do aspecto histórico daqueles dias tumultuosos da vida civil, política e religiosa da Inglaterra. Mas é já tempo de dizermos algo sobre a própria Assembléia de Westminster, sua importância, suas realizações e sua influência.

O assunto é por demais complexo para caber dentro de uma só preleção. Tentaremos apenas esboçar algo que nos revele a relativa importância da Assembléia de Westminster.

Começaremos por assinalar os seus objetivos. Ao ser convocada, as duas casas do Parlamento haviam definido com clareza que o seu caráter seria apenas consultivo, reservando-se o próprio Parlamento a autoridade finai de decisão sobre os assuntos estudados pela Assembléia. Definiu-se também com clareza, quanto ao seu objetivo, que se devia convocar uma assembléia de teólogos piedosos e eruditos e outros com quem se consultasse o Parlamento, com o fim de "estabelecer o Governo e a Liturgia da Igreja da Inglaterra e de defender e isentar a Doutrina da dita Igreja de falsas acusações e interpretações". Esses os objetivos iniciais. No entanto, quando o Parlamento sentiu necessidade do apoio da Escócia veio a assinar o pacto da solene liga e os objetivos da Assembléia se estenderam no sentido de alcançar unidade e uniformidade religiosa nos três domínios, a saber, na Inglaterra, na Escócia e na Irlanda. Parece certo também que os escoceses exerceram desta maneira uma influência notável, embora em pequeno número, na direção de se preparar um padrão doutrinário que pudesse ser aceito por todos. Deixaram de lado a idéia inicial de reformar os Trinta e Nove Artigos de Fé da Igreja Anglicana e se atiraram à tarefa de reformar essa Igreja de alto a baixo e de preparar uma Confissão de Fé, os Catecismos e um Diretório de Culto e Governo de Igreja. Os representantes da Igreja Escocesa eram poucos em número e, embora preferissem tomar parte nas discussões e nos trabalhos da Assembléia sem direito de voto, exerceram pela sua grande capacidade uma influência decisiva em favor do calvinismo e da forma presbiteriana de governo e de culto. Eram eles os ministros Alexander Henderson, Robert Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford, e dois leigos, Lord Maitland e Sir Archibald Johnston, uma elite da igreja Escocesa.

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