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terça-feira, 24 de março de 2009

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 4ª PARTE


VALOR DOUTRINÁRIO DOS SÍMBOLOS
PRINCÍPIOS ESTABELECIDOS
ACEITAÇÃO E ALTERAÇÕES


Impossível seria fazer justiça nos limites desta palestra já longa ao valor dos símbolos de Westminster como exposição do ensino bíblico.

Seria preciso especificar e analisar o seu conteúdo, o que importaria em tema bastante para uma conferência.

A Confissão de Fé tem sido considerada como o fruto mais amadurecido da teologia do século XVIII. Caracteriza-se por lucidez excepcional, seqüência lógica, equilíbrio, sobriedade e linguagem precisa, evitando os extremos comuns na época. Comparada com o Catecismo de Heidelberg, ou com a Segunda Confissão Helvética de Bullinger ou com os 39 Artigos da Igreja Anglicana, representa o tipo mais rigoroso e filosófico de credo. Considera-se a mais clara, mais forte e mais lógica das exposições do sistema calvinista de doutrina cristã. Incorpora o pensamento teológico que a Fé Reformada havia tornado culminante tanto no Continente como na Escócia e na Inglaterra. Estabelece quatro grandes princípios: 

1) a autoridade das Escrituras; 

2) a soberania de Deus; 

3) os direitos da consciência; 

4) a jurisdição exclusiva da Igreja em sua esfera de ação. 

Não se deve entender que naquela época o 3º destes princípios significasse tolerância religiosa completa e nem que o 4º estabelecesse a separação da Igreja e do Estado. Os teólogos de Westminster sempre foram leais à coroa, até mesmo a Carlos I, para cuja execução não contribuíram os presbiterianos.

Não obstante, foi baseado no grande princípio aí estabelecido de que só Deus é Senhor da consciência, que se estribaram mais tarde os que defendiam a liberdade de consciência religiosa nos Estados Unidos, em cuja Constituição foi firmado com clareza iniludível o princípio em apreço. Foram os descendentes espirituais dos que elaboraram a Confissão de Fé que no Presbitério de Hanover tomaram a dianteira em incluir o princípio de liberdade religiosa na Declaração de Direitos do Estado da Virgínia, em 1776, e que no mesmo ano na Pensilvânia contribuíram para a elaboração da primeira Constituição de Estado em que se estabelece a tolerância completa e universal de opinião religiosa. De fato, o Capítulo XX da Confissão expressa com clareza máxima esse princípio hoje vencedor.

O 1º princípio a que aludimos, o da autoridade suprema das Escrituras estabelecido logo no início da Confissão é um exemplo entre muitos outros de verdades apresentadas com tal felicidade de expressão e propriedade de termos que dificilmente poderia ser melhorado. Veja-se todo o Capítulo I. Dele diz Philip Schaff: "Nenhum outro símbolo protestante tem uma apresentação tão clara, judiciosa, concisa e exaustiva deste artigo fundamental do protestantismo". (Creeds of Cristendom, Volume I, pág. 767).

O 2º princípio, o da soberania de Deus, cuja importância não se pode encarecer demais e de que depende a doutrina da eleição e da salvação pela graça de Deus, permeia o pensamento dos teólogos em todas as páginas de sua obra. Alguns têm objetado que essa doutrina anula a liberdade humana. O Dr. James Moffat refuta, essa idéia dizendo: "O calvinismo de Westminster considera a supremacia de Deus e a liberdade humana como verdades complementares e é igualmente leal a primeira como à segunda". E insiste em que nem mesmo a figura de uma elipse com dois focos poderia ilustrar bem essa relação, pois, a liberdade do homem não é uma coordenada com a soberania de Deus, mas é subordinada a esta. A liberdade humana, diz ele, "é um dom do Deus soberano". "A soberania de Deus é um fato primário de que depende inteiramente a liberdade do homem. A primeira doutrina está no centro e a segunda pertence â circunferência". (Citado pelo Dr. Thos. C. Pears Jr.).

O ideal de governo democrático recebeu um grande impulso do sistema de governo representativo estabelecido nos padrões de Westminster. A própria Assembléia funcionou em forma democrática modelar. Já vimos que havia ampla liberdade de discussão embora isso trouxesse os abusos naturais no caso. Os independentes, por exemplo, prolongavam desnecessariamente as discussões. Os membros da Assembléia tolerando esses abusos revelaram a fé, que os animava, no poder da verdade.

Outros valores morais de alta importância prática podem ser atribuídos à interpretação das Escrituras divulgada pela Confissão de Fé presbiteriana, dos quais mencionaremos apenas dois. O primeiro é a importância dada ao lar. A santidade com que encara o matrimônio, inculcando a idéia de que se casem "no Senhor" os crentes e a interpretação dada â questão do divórcio têm contribuído para a formação de lares em que se moldaram alguns dos caracteres mais nobres e fortes, nas regiões em que os padrões de Westminster foram aceitos e praticados.

Não foi por acaso, diz alguém, que Robert Burns retratou no seu poema Cotter"s Saturday Night (O Sábado à Noite em Cotter), a cena de um lar humilde e cristão em terras plasmadas pelo presbiterianismo. O poeta mesmo se desenvolveu sob as influências dos padrões de Westminster. Certa moça escocesa, empregada humilde, ouvindo recitar o poema perante um grupo maravilhado de ingleses, ingenuamente exclamou: "Não vejo nada demais nesses versos, pois assim mesmo é que se faz todos os dias em casa de meu pai".
“From scenes like these old Scotia’s grandeur springs.” “That makes her lov'd at home, rever'd abroad”,[1]  (Burns)

O outro valor a que aludimos, de ordem prática, é a ênfase dada à guarda do Dia do Senhor. Os padrões de Westminster só reconhecem um dia santo, mas este de obrigação moral perpétua. Deve ser todo santificado por um santo repouso e por obras de caridade ou de culto público e particular. Na verdade esse traço distingue os presbiterianos dignos desse nome em toda parte. Não é necessário salientar o valor moral e espiritual da obediência a este preceito. Não será essa uma das causas da espiritualidade maior das igrejas na Grã Bretanha e nos Estados Unidos e ao mesmo tempo o descuido desse preceito uma das maiores causas da frieza e do formalismo reinante nas Igrejas Reformadas do Continente europeu?

ACEITAÇÃO E ALTERAÇÕES FEITAS

O Parlamento escocês ratificou de novo a Confissão de Fé em 1690 e as Assembléias da Igreja Escocesa de 1690, 1700, 1704 e outras exigiam que os ministros e licenciados para pregar o Evangelho bem como os presbíteros deveriam subscrever a Confissão de Fé sem emendas e isso foi lei até 1879. Nessa data, porém, a Igreja Presbiteriana Unida da Escócia resolveu adotar uma explicação do Ato Declaratório com o fim de esclarecer certos pontos que lhes apreciam inconsistentes com a Escritura. Eram sete pontos e incluíam o amor de Deus, os decretos, a Responsabilidade do homem natural a despeito de sua incapacidade inata, a possibilidade da salvação dos que não ouviram a pregação e de todos os que morrem na infância, o dever de pregar a toda criatura, a liberdade de interpretação em coisas não essenciais e a condenação aberta de toda e qualquer intolerância no Estado ou na Igreja. Em 1892 a Igreja Livre adotou Ato Declaratório semelhante.

A Igreja Presbiteriana da Inglaterra resolveu em 1892 que os oficiais deveriam aceitar os Símbolos na sua essência calvinista dando ênfase, porém, ao amor de Deus em seu Evangelho.

A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos adotou cedo, aos 19 de setembro de 1729, no Sínodo de Filadélfia, os Símbolos de Westminster, com certa liberdade, porém, para os candidatos que tivessem dúvida sobre pontos julgados não essenciais pelo Sínodo, e com certas restrições sobre matéria relativa ao magistrado civil.

Alguns capítulos têm sido acrescentados nas Igrejas do Norte e do Sul dos Estados Unidos. A do Sul adotou novos capítulos, por exemplo, sobre o Espírito Santo, o Amor de Deus e as missões de que a Assembléia de Westminster não tratou suficientemente, em face do aspecto moderno assumido pela obra do Reino de Deus. Modificou-se também o artigo sobre a eleição dos que morrem na infância para afirmar com clareza que "todos os que morrem na infância estão incluídos na eleição da graça". Alteraram-se palavras a respeito de juramentos, casamento e referências ao papa, como "o homem do pecado".

Tem-se feito também uma exigência maior com o ministério e com os oficiais quanto a subscreverem os Símbolos em sua essência. Dos candidatos â profissão de fé, diz o próprio Dr. Robert Dabney, exige-se apenas a aceitação de pontos essenciais â redenção de sua alma e à santificação de sua vida.

Tudo isso mostra que a obra pode ser melhorada, ninguém a considera intangível. Longe disso. Não nos precipitemos, porém, nessa direção. Há definições insubstituíveis, valores permanentes e a despeito da crítica referida, dado um balanço criterioso, as partes suscetíveis de modificação representarão sem dúvida uma porcentagem insignificante. Demais é obra de Mestres em tal acepção do termo que nós somos pigmeus diante deles. A cultura teológica e filosófica dos deputados de Westminster, o seu fervor religioso, a sua reverência pelas Escrituras, o seu espírito de oração, a sua sinceridade enfim, lhes emprestam um brilho e uma competência que nos deve muito fazer humildes e modestos em tocar nessa obra prima que os nossos Símbolos representam.
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[1De cenas como essa é que emana a grandeza da Escócia”, “ Que a torna amada nos lares e respeitada por toda parte"

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