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terça-feira, 31 de março de 2009

A Velha e Nova Cruz - A. W. Tozer


Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.
Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.
A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.
A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.
A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: "Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo"; e declara ao egoísta: "Venha e vanglorie-se no Senhor". Para o que busca emoções, chama: "Venha e goze da emoção da fraternidade cristã". A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.
A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede qe seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.
A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.
A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.
O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.
Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.
Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.
O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.
Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.
Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.
Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.

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Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pg 151 a 153.

sábado, 28 de março de 2009

VALE TUDO NA IGREJA RENASCER

Será que vale tudo na evangelização? Como devemos obedecer a ordem de Jesus a evangelizar o mundo?
Algumas igrejas tem sido tão criativas que chegaram a levar literalmente o vale tudo para seus templos.

Veja a reportagem abaixo:

Vale-tudo



Igreja monta ringue de luta em templo para atrair mais jovens





Igreja Renascer monta ringue de vale-tudo em templo para atrair mais jovens a culto em SP

Dois, três, quatro rounds e, com o perdedor estirado na lona, o pastor Mazola encerra a primeira série de lutas e anuncia o início do culto.
É 1h da madrugada de sábado e o templo da Igreja Renascer em Cristo em Alphaville, na Grande São Paulo, abriga seu primeiro campeonato de vale-tudo, esporte de combate que mescla modalidades como boxe e caratê. "Queremos atrair mais jovens", conta o bispo Leandro Miglioli, 33, de jeans e camiseta polo.
Sem álcool e cigarro, mas com a pancadaria tradicional do esporte, o festival reuniu frequentadores de academias da região para se enfrentarem no ringue colado ao altar. O público (bermuda, chinelo, tatuagem) vibrava.

O locutor do embate ficava no palco onde os pastores fazem as pregações. Na pausa para louvor no mesmo local, o pastor Mazola (cabeça raspada e camiseta regata de lutador) contou que já foi usuário de drogas e convocou os presentes a se converterem.
"Cerca de 60 jovens entregaram a vida para Jesus", diz Miglioli, que cadastrou nomes e telefones dos convertidos.
Culto encerrado, a luta continua -até depois das 3h30, cinco horas após começar. Satisfeita, a igreja fará outro campeonato neste ano.
"Um ringue ao lado do altar é inusitado, mas não extraordinário entre evangélicos", diz a antropóloga Clara Mafra, pesquisadora da religião. "Nos anos 1940, eles introduziram no Brasil guitarras em cultos. Nos anos 1950, a Assembleia de Deus fez concursos de miss entre as irmãs e não deu certo. A junção de sagrado e mundano causa estranheza, que pode ser ruim ou ter apelo como bom marketing religioso."
Jiu-jitsu
Duas vezes por semana, o mesmo templo da Renascer fica aberto para treinos de jiu-jitsu. "Quem vem aprende esporte e larga os vícios do mundão", diz Emerson Silva, 27, que se diz cético sobre as polêmicas envolvendo a igreja (prisão dos líderes por sonegação e críticas pela queda do teto de um templo que deixou nove mortos).
As lutas acontecem no fundo da igreja, após os cultos. "O primeiro foco é Deus, mas o esporte ajuda os jovens", diz Filipe Farias, 18, frequentador também da igreja Bola de Neve, que adota sintonia com esporte --no caso, uma prancha de surfe sobre o púlpito.

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APU GOMES
Repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo
DANIEL BERGAMASCO

terça-feira, 24 de março de 2009

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 5ª PARTE - CONCLUSÃO


CRÍTICA E OBJEÇÕES
APOLOGIA DOS SÍMBOLOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS


Tem-se feito crítica à Confissão, de dar ênfase demasiada à doutrina da soberania de Deus e seus decretos sem considerar a paternidade de Deus e o seu amor na proporção devida. Critica-se ainda por adotar pormenores que nem todos poderiam aceitar, em questões que poderiam ser consideradas secundárias e de ser omissa em questões de atualidade de que naqueles tempos não se cogitava.

Outros objetam ainda que os símbolos de Westminster são imperfeitos. Quanto a isso diremos que nenhuma obra humana é perfeita mesmo.

Talvez tenhamos que admitir que ao menos em parte algumas dessas críticas sejam procedentes. Pelo menos algumas reformas feitas, primeiro na Escócia s depois nos Estados Unidos parecem confirmar isso.

Não se impõe a ninguém o nosso padrão. Apenas se estabelece que os que entenderem que a interpretação de nossos símbolos corresponde com o ensino da Bíblia devem e podem reunir-se para o trabalho proveitoso. Se achar alguém que não estão certos os nossos símbolos, não o perseguiremos por isso, mas deixá-lo-emos à vontade para se filiar ao grupo que lhe parecer melhor.

Fala-se muito hoje contra os padrões doutrinários. Insistem alguns em que não se precisa mais do que das Escrituras. Não estaremos nós neste momento incidindo, com esta comemoração dos padrões de Westminster em seu tricentenário, em falta semelhante àquela dos fariseus e que lhes valeu ouvirem do Mestre a censura: "Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens"? (Marcos 7: 7).

Não, respondemos sem hesitar, justamente porque os teólogos de Westminster se esforçaram por ser fiéis â Bíblia. Cada membro da Assembléia teve que assinar o seguinte voto: “Solenemente prometo e faço voto diante de Deus Todo-poderoso, que nesta Assembléia de que sou membro, nada sustentarei em matéria de doutrina senão o que eu creio ser mais de acordo com a Palavra de Deus, nem em questão de disciplina, senão o que possa contribuir para a glória de Deus e para a paz e o bem de sua igreja”. Não, respondemos ainda, porque o argumento dos que rejeitam o dogma prova demais. Se estabelecer um padrão de doutrina como fizeram os teólogos de Westminster em discussões eruditas sobre o sentido exato das palavras da Bíblia, à luz do contexto e do consenso do ensino bíblico é desprezar as Escrituras ou substituí-las, então toda a predica o seria e todos os Comentários também o são. Nesse caso, só se deveria limitar o ministro a ler a Bíblia e nenhuma explicação fazer dela do púlpito. Tal atitude, porém, é que seria contrária ao ensino claro de muitos passos bíblicos, como Neemias 8:8; 2 Timóteo 4:2; 2:2 e 1:13 e Judas 3. Além disso, os padrões doutrinários estabelecem o conjunto coerente da verdade toda e evita o perigo da apresentação da verdade fragmentada. Justifica-se assim a elaboração de sistemas doutrinários, não porque a Bíblia seja deficiente ou imperfeita, mas porque a inteligência humana o é. Tomemos por exemplo a palavra "arrependimento" que aparece na Bíblia. O pelagiano entende por ela apenas uma reforma exterior de costumes e moral e pelo esforço da vontade humana. O católico diria que significa fazer penitência. Mas o crente evangélico entende que significa a conversão “uma revolução da alma quanto a Deus, o pecado e o dever”.

Sejamos antes dignos de conservar essa herança gloriosa não só na letra da lei, mas especialmente no cunho prático da vida dos indivíduos e da Igreja.

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 4ª PARTE


VALOR DOUTRINÁRIO DOS SÍMBOLOS
PRINCÍPIOS ESTABELECIDOS
ACEITAÇÃO E ALTERAÇÕES


Impossível seria fazer justiça nos limites desta palestra já longa ao valor dos símbolos de Westminster como exposição do ensino bíblico.

Seria preciso especificar e analisar o seu conteúdo, o que importaria em tema bastante para uma conferência.

A Confissão de Fé tem sido considerada como o fruto mais amadurecido da teologia do século XVIII. Caracteriza-se por lucidez excepcional, seqüência lógica, equilíbrio, sobriedade e linguagem precisa, evitando os extremos comuns na época. Comparada com o Catecismo de Heidelberg, ou com a Segunda Confissão Helvética de Bullinger ou com os 39 Artigos da Igreja Anglicana, representa o tipo mais rigoroso e filosófico de credo. Considera-se a mais clara, mais forte e mais lógica das exposições do sistema calvinista de doutrina cristã. Incorpora o pensamento teológico que a Fé Reformada havia tornado culminante tanto no Continente como na Escócia e na Inglaterra. Estabelece quatro grandes princípios: 

1) a autoridade das Escrituras; 

2) a soberania de Deus; 

3) os direitos da consciência; 

4) a jurisdição exclusiva da Igreja em sua esfera de ação. 

Não se deve entender que naquela época o 3º destes princípios significasse tolerância religiosa completa e nem que o 4º estabelecesse a separação da Igreja e do Estado. Os teólogos de Westminster sempre foram leais à coroa, até mesmo a Carlos I, para cuja execução não contribuíram os presbiterianos.

Não obstante, foi baseado no grande princípio aí estabelecido de que só Deus é Senhor da consciência, que se estribaram mais tarde os que defendiam a liberdade de consciência religiosa nos Estados Unidos, em cuja Constituição foi firmado com clareza iniludível o princípio em apreço. Foram os descendentes espirituais dos que elaboraram a Confissão de Fé que no Presbitério de Hanover tomaram a dianteira em incluir o princípio de liberdade religiosa na Declaração de Direitos do Estado da Virgínia, em 1776, e que no mesmo ano na Pensilvânia contribuíram para a elaboração da primeira Constituição de Estado em que se estabelece a tolerância completa e universal de opinião religiosa. De fato, o Capítulo XX da Confissão expressa com clareza máxima esse princípio hoje vencedor.

O 1º princípio a que aludimos, o da autoridade suprema das Escrituras estabelecido logo no início da Confissão é um exemplo entre muitos outros de verdades apresentadas com tal felicidade de expressão e propriedade de termos que dificilmente poderia ser melhorado. Veja-se todo o Capítulo I. Dele diz Philip Schaff: "Nenhum outro símbolo protestante tem uma apresentação tão clara, judiciosa, concisa e exaustiva deste artigo fundamental do protestantismo". (Creeds of Cristendom, Volume I, pág. 767).

O 2º princípio, o da soberania de Deus, cuja importância não se pode encarecer demais e de que depende a doutrina da eleição e da salvação pela graça de Deus, permeia o pensamento dos teólogos em todas as páginas de sua obra. Alguns têm objetado que essa doutrina anula a liberdade humana. O Dr. James Moffat refuta, essa idéia dizendo: "O calvinismo de Westminster considera a supremacia de Deus e a liberdade humana como verdades complementares e é igualmente leal a primeira como à segunda". E insiste em que nem mesmo a figura de uma elipse com dois focos poderia ilustrar bem essa relação, pois, a liberdade do homem não é uma coordenada com a soberania de Deus, mas é subordinada a esta. A liberdade humana, diz ele, "é um dom do Deus soberano". "A soberania de Deus é um fato primário de que depende inteiramente a liberdade do homem. A primeira doutrina está no centro e a segunda pertence â circunferência". (Citado pelo Dr. Thos. C. Pears Jr.).

O ideal de governo democrático recebeu um grande impulso do sistema de governo representativo estabelecido nos padrões de Westminster. A própria Assembléia funcionou em forma democrática modelar. Já vimos que havia ampla liberdade de discussão embora isso trouxesse os abusos naturais no caso. Os independentes, por exemplo, prolongavam desnecessariamente as discussões. Os membros da Assembléia tolerando esses abusos revelaram a fé, que os animava, no poder da verdade.

Outros valores morais de alta importância prática podem ser atribuídos à interpretação das Escrituras divulgada pela Confissão de Fé presbiteriana, dos quais mencionaremos apenas dois. O primeiro é a importância dada ao lar. A santidade com que encara o matrimônio, inculcando a idéia de que se casem "no Senhor" os crentes e a interpretação dada â questão do divórcio têm contribuído para a formação de lares em que se moldaram alguns dos caracteres mais nobres e fortes, nas regiões em que os padrões de Westminster foram aceitos e praticados.

Não foi por acaso, diz alguém, que Robert Burns retratou no seu poema Cotter"s Saturday Night (O Sábado à Noite em Cotter), a cena de um lar humilde e cristão em terras plasmadas pelo presbiterianismo. O poeta mesmo se desenvolveu sob as influências dos padrões de Westminster. Certa moça escocesa, empregada humilde, ouvindo recitar o poema perante um grupo maravilhado de ingleses, ingenuamente exclamou: "Não vejo nada demais nesses versos, pois assim mesmo é que se faz todos os dias em casa de meu pai".
“From scenes like these old Scotia’s grandeur springs.” “That makes her lov'd at home, rever'd abroad”,[1]  (Burns)

O outro valor a que aludimos, de ordem prática, é a ênfase dada à guarda do Dia do Senhor. Os padrões de Westminster só reconhecem um dia santo, mas este de obrigação moral perpétua. Deve ser todo santificado por um santo repouso e por obras de caridade ou de culto público e particular. Na verdade esse traço distingue os presbiterianos dignos desse nome em toda parte. Não é necessário salientar o valor moral e espiritual da obediência a este preceito. Não será essa uma das causas da espiritualidade maior das igrejas na Grã Bretanha e nos Estados Unidos e ao mesmo tempo o descuido desse preceito uma das maiores causas da frieza e do formalismo reinante nas Igrejas Reformadas do Continente europeu?

ACEITAÇÃO E ALTERAÇÕES FEITAS

O Parlamento escocês ratificou de novo a Confissão de Fé em 1690 e as Assembléias da Igreja Escocesa de 1690, 1700, 1704 e outras exigiam que os ministros e licenciados para pregar o Evangelho bem como os presbíteros deveriam subscrever a Confissão de Fé sem emendas e isso foi lei até 1879. Nessa data, porém, a Igreja Presbiteriana Unida da Escócia resolveu adotar uma explicação do Ato Declaratório com o fim de esclarecer certos pontos que lhes apreciam inconsistentes com a Escritura. Eram sete pontos e incluíam o amor de Deus, os decretos, a Responsabilidade do homem natural a despeito de sua incapacidade inata, a possibilidade da salvação dos que não ouviram a pregação e de todos os que morrem na infância, o dever de pregar a toda criatura, a liberdade de interpretação em coisas não essenciais e a condenação aberta de toda e qualquer intolerância no Estado ou na Igreja. Em 1892 a Igreja Livre adotou Ato Declaratório semelhante.

A Igreja Presbiteriana da Inglaterra resolveu em 1892 que os oficiais deveriam aceitar os Símbolos na sua essência calvinista dando ênfase, porém, ao amor de Deus em seu Evangelho.

A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos adotou cedo, aos 19 de setembro de 1729, no Sínodo de Filadélfia, os Símbolos de Westminster, com certa liberdade, porém, para os candidatos que tivessem dúvida sobre pontos julgados não essenciais pelo Sínodo, e com certas restrições sobre matéria relativa ao magistrado civil.

Alguns capítulos têm sido acrescentados nas Igrejas do Norte e do Sul dos Estados Unidos. A do Sul adotou novos capítulos, por exemplo, sobre o Espírito Santo, o Amor de Deus e as missões de que a Assembléia de Westminster não tratou suficientemente, em face do aspecto moderno assumido pela obra do Reino de Deus. Modificou-se também o artigo sobre a eleição dos que morrem na infância para afirmar com clareza que "todos os que morrem na infância estão incluídos na eleição da graça". Alteraram-se palavras a respeito de juramentos, casamento e referências ao papa, como "o homem do pecado".

Tem-se feito também uma exigência maior com o ministério e com os oficiais quanto a subscreverem os Símbolos em sua essência. Dos candidatos â profissão de fé, diz o próprio Dr. Robert Dabney, exige-se apenas a aceitação de pontos essenciais â redenção de sua alma e à santificação de sua vida.

Tudo isso mostra que a obra pode ser melhorada, ninguém a considera intangível. Longe disso. Não nos precipitemos, porém, nessa direção. Há definições insubstituíveis, valores permanentes e a despeito da crítica referida, dado um balanço criterioso, as partes suscetíveis de modificação representarão sem dúvida uma porcentagem insignificante. Demais é obra de Mestres em tal acepção do termo que nós somos pigmeus diante deles. A cultura teológica e filosófica dos deputados de Westminster, o seu fervor religioso, a sua reverência pelas Escrituras, o seu espírito de oração, a sua sinceridade enfim, lhes emprestam um brilho e uma competência que nos deve muito fazer humildes e modestos em tocar nessa obra prima que os nossos Símbolos representam.
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[1De cenas como essa é que emana a grandeza da Escócia”, “ Que a torna amada nos lares e respeitada por toda parte"

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 3ª PARTE - CONSTITUIÇÃO - FUCIONAMENTO - AMBIENTE E ESPÍRITO - OS SÍMBOLOS DE FÉ


CONSTITUIÇÃO
FUNCIONAMENTO
AMBIENTE E ESPÍRITO
OS SÍMBOLOS DE FÉ


O Parlamento nomeou no dia 12 de junho de 1643 os homens que deveriam constituir a Assembléia em número de 151, sendo 121 clérigos e 30 membros do Parlamento. Entre eles se encontravam homens de vasta e profunda erudição teológica, além de se distinguirem pelo seu ardor religioso e pelo seu caráter. Havia representantes de todos os shires (condados ou distritos) da Inglaterra e das diferentes correntes evangélicas da época. A casa dos Lordes estava representada por dez deputados e a dos Comuns por vinte. Quanto ás facções religiosas, encontravam-se episcopais, entre os quais o arcebispo Usher, os erastianos, que entendiam com Erastus, de Heidelberg, que o Estado devia ser a sede final da autoridade eclesiástica, a cujo grupo pertencia o popular e erudito John Lightfoot, autor das célebres Horae Hebraicae et Talmudicae, os independentes (ou congregacionais), incluindo Thomas Goodwin, mais tarde capelão de Cromwell e Philip Nye, regressados do exílio na Holanda, os presbiterianos, e a comissão já referida de deputados da Igreja da Escócia. O moderador nomeado pelo Parlamento foi o Dr. Willíam Twisse, homem dos mais célebres de seus dias peia sua erudição teológica, coroado de honras na Universidade de Oxford e conhecido em toda a Europa pelos seus escritos. Pregou o sermão de abertura perante o Parlamento na Aba-dia de Westminster, sobre João 14:18 - "Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós". A maioria absoluta desses homens era calvinista, havendo muita unidade doutrinária e divergências em matéria de governo de igreja.

Não se deve pensar que todos esses homens tomaram assento às sessões da memorável assembléia. Os episcopais em face de haver o rei proibido a efetivação da assembléia não puderam comparecer, senão uns poucos. Os bispos anglicanos nunca reconheceram as prerrogativas da assembléia.

Na reunião de abertura havia presentes 69 deputados, algumas vezes houve 96 presentes, mas a média de freqüência era entre 60 e 80.

Impossível seria mencionar os nomes de todos os valores intelectuais e morais representados na Assembléia. Algumas referências gerais a esse respeito é justo que façamos. Richard Baxter, notável como pregador, escritor e teólogo inglês, não fez parte da Assembléia e se declara insuspeito para externar a seguinte opinião: "Os teólogos aí congregados eram homens de grande erudição, piedade, capacidade ministerial e fidelidade (...) e segundo a informação de toda História a esse respeito e de outras fontes de evidência", o mundo cristão nunca teve, desde os dias apostólicos um sínodo de teólogos mais excelentes do que este e o Sínodo de Dort". O Dr. Robert Baillie diz: "Outra assembléia igual eu nunca vi, e como se diz aqui, semelhante nunca houve na Inglaterra nem é provável que breve venha a existir em qualquer parte".

O FUNCIONAMENTO DA ASSEMBLÉIA

O Parlamento estabelecera cerca de dez regras bem definidas de regimento interno. Além destas a Assembléia adotou mais outras. Todas as sessões deviam abrir-se com oração, nenhuma proposta seria votada no mesmo dia de sua apresentação. Tudo que se desejasse estabelecer deveria ser baseado nas Escrituras. A mais ampla liberdade de discussão deveria ser assegurada a todos. O horário era das 9 às 16 horas todos os dias úteis exceto aos sábados.

O AMBIENTE E O ESPÍRITO

Numa mesa num estrado alto preside o Dr. Twisse, um pouco à frente os dois assessores-chefes ou vice-moderadores em cadeiras à direita e à esquerda do presidente. Na extremidade de longa mesa estreita, sentam-se os dois secretários; em bancos ao longo da sala os escoceses, em bloco, à direita do moderador;nos lugares restantes, os membros da Câmara dos Comuns e os teólogos ingleses. Os membros da Casa dos Lordes têm fácil acesso à lareira. A indumentária dessa gente é variada e bizarra, de acordo com uso da época: os Lordes com seus casacos vividos, folgados e espadas balouçantes; os teólogos ingleses de togas à moda de Genebra; um ou outro clérigo com suas vestes canônicas; os Comuns, de longas meias de seda, capinhas curtas e calções pelo joelho, tudo de cores sombrias, em contraste com a frivolidade, para não dizer com o almofadismo, dos Lordes; os teólogos escoceses, irrepreensivelmente barbeados, cabelos cortados a escovinha, colete abotoado até o pescoço, casacos apertados, calções (knee breeches) e sapatos delicados com fivelas de prata... Isso mereceria comento, se não estivesse fora do propósito desta hora.

Apreciemos rapidamente o espírito da Assembléia. As discussões tinham cunho elevado e alta erudição. Havia debates ex-tempore que maravilhavam os mais cultos. Não se economizava tempo, a despeito da confusão política e religiosa dominante no país. Baillie diz que "eles arengavam demorada e eruditamente". Os jejuns eram freqüentes, pelo menos um dia em cada mês. Caracterizavam a Assembléia, profunda reverência pela autoridade das Escrituras, senso de completa dependência de Deus, espírito de oração a que dedicavam largo tempo. Realizavam cultos solenes, consagrando, âs vezes, todo um dia a esse fim.

O Rev. Robert Baillie nos conta como num dia desses de jejum e culto houve quem orasse duas horas, sermões de uma hora entrecortados por orações de uma hora, por cântico de salmos ou orações de quase duas horas. Refere-se com profunda apreciação à oração do Dr. Marshall de duas horas. Termina dizendo que Deus evidentemente estivera presente nesses exercícios todos, devendo ter sido uma bênção não só para a Assembléia como para todo o Reino e mais ainda afirma que esse fora um dos dias mais deliciosos que ele experimentara na Inglaterra, o dia 17 de maio de 1644.

E não se deve levar à conta de fanatismo ou exagero essa atitude dos teólogos de Westminster, e sim â conta da consciência que esses homens tinham dos perigos que ameaçavam a obra do Reino de Deus. Merece respeito a descrição que Baillie faz da oração fervorosa e piedosa do Dr. Marshall, de duas horas. Diz um escritor que, nas suas circunstâncias, quando esses homens chegavam ao trono da graça não sabiam mais como deixá-lo, sem receber a bênção pedida. Se tudo que se disse até aqui demonstra a importância dessa assembléia, mais ainda o revelará a consideração das suas realizações.

SUA PRINCIPAL OBRA - OS SÍMBOLOS

A Assembléia que esteve reunida durante cinco anos, seis meses e vinte e dois dias, celebrou 1163 sessões, não se mencionando as centenas de reuniões de comissões e subcomissões. O resultado desse esforço foi a produção dos documentos seguintes:

A Confissão de Fé, os Catecismos, o Maior e o Breve, o Diretório de Culto Público a Deus a Forma de Governo de Igreja e Ordenação e um Saltério - os Salmos metrificados para uso no culto público. Esses documentos não estão aqui na ordem cronológica de aprovação pelo Parlamento mas foram por este aceitos entre 1644 e 1648, tomando-se a Igreja Presbiteriana oficial na Inglaterra, em substituição da Igreja Anglicana com seus bispos e arcebispos.

A aprovação final da Confissão de Fé, se deu em 22 de março de 1648, mas só durou doze anos na Inglaterra a oficialização do presbiterianismo, pois na restauração de Carlos II, em 1660, a Igreja Anglicana foi de novo oficializada e o presbiterianismo rejeitado. Na Escócia, porém, aprovada pela Assembléia Geral da Igreja em 15 de fevereiro de 1645 e ratificada pelo Parlamento em 1690, permaneceu. Tem-se a impressão de que a obra falhara na terra em que nascera, quando Cromwell em 1660 estabeleceu o episcopado, os 39 Artigos e o Livro de Orações Comuns, anglicano. A Inglaterra nunca se tomou fortemente presbiteriana. A Igreja Presbiteriana lá hoje existente, de origem recente, não tem raízes na Assembléia de Westminster. Mesmo assim o esforço não foi de todo perdido, pois como resultado final estabeleceu-se uma monarquia constitucional e um episcopado moderado, com um edito de tolerância em favor dos dissidentes protestantes. Mas os presbiterianos escreveram então nesses dias lancinantes páginas de sua história. Logo de início o rei Carlos II permitiu a adoção de medidas pelo Parlamento que excluíam da Igreja dois mil ministros simpáticos ao presbiterianismo e na Escócia quatrocentos foram destituídos de suas igrejas, sofrendo, ministros e leigos, torturas, prisões, exílio. Foi nessa época que John Bunyan, pregador batista, autor de O Peregrino, esteve doze anos na prisão de Bedford, em que escreveu a obra referida. Alarmados com a determinação do rei católico, Tiago H, irmão e sucessor de Carlos II de restabelecer o romanismo, os ingleses depuzeram-no e convidaram Guilherme, de Orange, genro de Tiago II, a vir, como presbiteriano holandês, em socorro da religião e da liberdade na Inglaterra. Abriram-se as portas das prisões, muitos ministros reassumiram já velhos o seu pastorado, quebrou-se o poder do papa e o protestantismo ficou estabelecido definitivamente como a religião do povo inglês. Raiava a aurora do dia por que haviam suspirado e orado os crentes durante dois séculos.

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 2ª PARTE - ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ASSEMBLÉIA


ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ASSEMBLÉIA

Em 1534 Henrique VIII, que nasceu, viveu e morreu católico, desavindo-se com o papa pela razão bem conhecida de seu casamento, separou-se do papado e assumiu a chefia da Igreja na Inglaterra. Oficialmente a Inglaterra se tornara protestante, embora só houvesse nesse país até 1534 alguns grupos esparsos de evangélicos genuínos. Fizeram-se algumas reformas religiosas durante o reinado de Henrique VIII, talvez mais por influência de Ana Boleyn, a qual por interesse, e talvez em alguns casos com sinceridade, se inclinava para o protestantismo. No entanto, as coisas continuaram mais ou menos na mesma, exceção feita de que era o rei o chefe visível da Igreja e não o papa.

Com a sua morte em 1547, subia ao trono seu filho Eduardo VI, que começou a imprimir feição nova à Igreja sob a influência do arcebispo Cranmer. Parecia que a Inglaterra ia entrar num período de verdadeira Reforma. Veio a morte prematura do rei e subiu em seu lugar a sua irmã Maria Tudor, em 1553, católica ferrenha, que empenhou todas as suas forças para desfazer a obra de seu pai e de seu irmão e para reconduzir ao romanismo a Inglaterra. As perseguições desse período valeram-lhe a aquisição do título com que ficou conhecida na História, de Maria, a Sanguinária. Fugindo à sanha dessa inimiga pertinaz os crentes deixavam às centenas a Inglaterra para o continente, especialmente Holanda, margens do Reno e Genebra, entrando em contato direto com Calvino, então, no auge de sua influência. Em 1558 morre a Sanguinária e sobe ao trono Isabel, sua irmã. Esta, no seu longo reinado, muito favoreceu a Reforma, e restaurando o “Ato de Supremacia” decretado por seu pai, Henrique VIII, assumiu a chefia da Igreja Anglicana, como rainha que era. O protestantismo dessa rainha mesmo era um tanto acomodatício, fosse por prudência, na difícil situação em que se encontrava, ou por interesse político. O certo é que o seu primeiro parlamento se abriu com uma missa e um sermão evangélico ao mesmo tempo. Certo autor diz que as velas brilhavam nos altares com crucifixos ou bruxuleavam e se apagavam de acordo com as circunstâncias. Não obstante, um de seus primeiros atos foi permitir o regresso â pátria dos exilados dos tempos de Maria Tudor. Os exilados tinham podido apreciar melhor, no continente, os erros e a formalidade do culto católico, e voltavam imbuídos do espírito evangélico que. haviam encontrado em Genebra e noutras partes. Começaram a insistir em que os ingleses não sabiam o que era Reforma. Pregavam a necessidade de governo de igreja “puro”, culto simples e “puro”, doutrina “pura” e sobretudo vida “pura” de onde lhes adveio o nome de puritanos. Uma das coisas que mais aborrecimento lhes causavam era a paramentação do clero. Houve até bispos que pregavam contra isso em termos desabridos. O bispo Jewell chamava essas vestes de “roupas de palco”, “relíquias dos amorreus” e dizia que deviam ser “exterminadas pela raiz". O bispo Pilkington taxava-as de “aparelhamento papísta”, “impróprio de quem professa a piedade”. O arcebispo Parker também se expressou no mesmo sentido. O puritanismo cresceu a ponto de causar preocupações à própria Isabel e de se tornar uma grande força no fim de seu reinado. Todos os esforços da rainha para reduzi-lo ao anglicanismo foram baldados.

Entre os exilados, regressos do continente logo no ano seguinte de sua ascensão ao trono em 1559, estava João Knox, que assumiu a direção da Reforma na Escócia. Até então, só havia na Escócia também grupos esparsos de crentes evangélicos. Já em 1560, porém, o Parlamento escocês abolia o romanismo e estabelecia, como religião oficial,o presbiterianismo, que até hoje permanece como tal. Knox entrou em luta com a formosa rainha da Escócia, Maria Stuart, que era católica, mas a despeito de seus esforços ingentes não conseguiu reconduzir a Escócia ao romanismo. Abdicou, e o seu filho Tiago VI, o Infante, se tornou rei da Escócia.

O presbiterianismo tomou vulto na Escócia despeito de ser católico o rei, e quando Isabel faleceu na Inglaterra, em 1603, os dois reinos se uniram sob Tiago VI, da Escócia, que ascendeu ao trono como Tiago I, rei da Inglaterra e da Escócia e chefe da Igreja Anglicana. Ao morrer, em 1625, não conseguira, como tentara, obrigar os presbiterianos da Escócia e os puritanos da Inglaterra a se submeterem ao anglicanismo. Por sua morte, em 1625, ascende Carlos I, seu filho, como rei da Inglaterra e da Escócia e Chefe da Igreja, mais determinado do que seu pai em fazer "conformar" os puritanos da Inglaterra e os presbiterianos da Escócia com o anglicanismo. Mandou emissários â Escócia para impor o ritual anglicano aos escoceses. No velho templo de Saint Giles, em que pontificara João Knox,o Deão celebra o culto à maneira anglicana. Uma jovem operária, de nome Gennie Geddes, entendendo que aquilo se parecia com missa católica, tomou do banquinho em que se assentava e o atirou certeiro à cabeça do Deão, seguindo-se um verdadeiro levante geral dos assistentes. Esse ato foi o rastilho da revolta que se seguiu. Os escoceses assinaram de novo, às dezenas de milhares, a Solene Liga e Pacto, e organizaram-se em exército que marcha para a fronteira, a enfrentar o exército de Carlos I. Os signatários do pacto, os "covenanters", haviam jurado defender a fé até a morte.

Carlos I compreendeu que não dispunha de recursos em dinheiro e em homens para enfrentar um exército semelhante. Fez eleger um Parlamento que lhe votasse recursos de homens e de dinheiro e verifica com horror que o povo elegeu um Parlamento puritano. Dissolve este e determina que se proceda a nova eleição. Maior número de puritanos foi eleito. Resolve dissolvê-lo, mas o Parlamento permanece em trabalhos desde 1640 até 1653, pelo que toma o nome de Longo Parlamento, Foi nessas circunstâncias que se convocou a Assembléia de Westminster. Duas convocações da Assembléia feitas pelo Parlamento foram anuladas pelo rei. Ainda a terceira o rei proibiu em 22 de junho de 1643 que se reunisse, mas em 10 de julho de 1643 se reunia a Assembléia em presença das duas Casas do Parlamento na Abadia de Westminster, da qual tomou o nome.

O rei não se conformando com isso organizou um exército para submeter o Parlamento e este organizou outro exército e mandou, um emissário à Escócia pedir auxílio militar. Estava a Inglaterra lançada na guerra civil. Os escoceses prometeram auxílio sob a condição de que todos os membros do Parlamento assinassem o "Pacto e a Liga Solene", no que foram atendidos em 17 de agosto de 1643. O pacto obrigava os signatários a preservarem a Religião Reformada na Igreja da Escócia e a reformar a religião na Inglaterra e na Irlanda, em doutrina, culto, disciplina e governo, de acordo com a Palavra de Deus e o exemplo das melhores Igrejas Reformadas". Os escoceses nomearam também oito representantes para a Assembléia de Westminster, quatro ministros e quatro presbíteros, dois dos quais nunca tomaram assento. O auxílio militar veio também e habilitou o Parlamento a derrotar completamente o exército de Carlos I.

Longe teríamos de ir se quiséssemos prosseguir na apreciação do aspecto histórico daqueles dias tumultuosos da vida civil, política e religiosa da Inglaterra. Mas é já tempo de dizermos algo sobre a própria Assembléia de Westminster, sua importância, suas realizações e sua influência.

O assunto é por demais complexo para caber dentro de uma só preleção. Tentaremos apenas esboçar algo que nos revele a relativa importância da Assembléia de Westminster.

Começaremos por assinalar os seus objetivos. Ao ser convocada, as duas casas do Parlamento haviam definido com clareza que o seu caráter seria apenas consultivo, reservando-se o próprio Parlamento a autoridade finai de decisão sobre os assuntos estudados pela Assembléia. Definiu-se também com clareza, quanto ao seu objetivo, que se devia convocar uma assembléia de teólogos piedosos e eruditos e outros com quem se consultasse o Parlamento, com o fim de "estabelecer o Governo e a Liturgia da Igreja da Inglaterra e de defender e isentar a Doutrina da dita Igreja de falsas acusações e interpretações". Esses os objetivos iniciais. No entanto, quando o Parlamento sentiu necessidade do apoio da Escócia veio a assinar o pacto da solene liga e os objetivos da Assembléia se estenderam no sentido de alcançar unidade e uniformidade religiosa nos três domínios, a saber, na Inglaterra, na Escócia e na Irlanda. Parece certo também que os escoceses exerceram desta maneira uma influência notável, embora em pequeno número, na direção de se preparar um padrão doutrinário que pudesse ser aceito por todos. Deixaram de lado a idéia inicial de reformar os Trinta e Nove Artigos de Fé da Igreja Anglicana e se atiraram à tarefa de reformar essa Igreja de alto a baixo e de preparar uma Confissão de Fé, os Catecismos e um Diretório de Culto e Governo de Igreja. Os representantes da Igreja Escocesa eram poucos em número e, embora preferissem tomar parte nas discussões e nos trabalhos da Assembléia sem direito de voto, exerceram pela sua grande capacidade uma influência decisiva em favor do calvinismo e da forma presbiteriana de governo e de culto. Eram eles os ministros Alexander Henderson, Robert Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford, e dois leigos, Lord Maitland e Sir Archibald Johnston, uma elite da igreja Escocesa.

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER - 1ª PARTE - INTRODUÇÃO

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER

No dia 10 de julho de 1643, reuniu-se em Londres,um Sínodo de teólogos calvinistas que se considera a mais notável assembléia protestante de todos os tempos, tanto pela distinção dos elementos que a constituíram, como pela obra que realizou e ainda pelas corporações eclesiásticas que receberam dela os padrões de fé e as influências salutares durante esses trezentos anos. Tomou ela o nome de Westminster devido ao local em que se realizaram as suas sessões durante mais de cinco anos e meio, a saber, o templo anglicano de Londres, bem conhecido como Abadia de Westminster, nome esse que procede dos tempos anteriores â Reforma.

Essa assembléia representa o ponto culminante de uma luta secular entre a corrente puritana e a anglicana dentro da Igreja da Inglaterra. A referida luta apresenta um aspecto eclesiástico e outro político. Ao aspecto eclesiástico era a luta do puritanismo contra a hierarquia e a liturgia semi-episcopal romanista. Ao aspecto político fora um conflito em favor dos privilégios parlamentares e das liberdades populares contra o absolutismo monárquico dos Stuarts.

Reuniu-se a Assembléia numa época de terrível efervescência política e agitação religiosa da História, não só da Inglaterra como da Europa continental, época de sacrifícios pela liberdade de consciência, de ambições as mais desmedidas, de reivindicações ousadas e de contradições as mais aberrantes e dolorosas. As nações e os seus príncipes conspiravam para impor, por meio da espada, os seus credos religiosos; protestantes e católicos se empenhavam na Guerra dos Trinta Anos; a Holanda era teatro dos mais veementes debates entre calvinistas e arminianos; John Milton propugnava a liberdade de imprensa; e Oliver Cromwell se adestrava na arte do comando de cavalaria, em guerra contra o rei Carlos I.

Visto que a reunião da assembléia era o epílogo de um conflito de mais de um século dos puritanos com o anglicanismo e com o romanismo, o bom entendimento do assunto exige que façamos uma excursão, muito breve embora, sobre os seus antecedentes.

segunda-feira, 23 de março de 2009

POR QUE SOU PRESBITERIANO? (8ª PARTE - OUTROS MOTIVOS)


POR QUE SOU PRESBITERIANO?

VIII – OUTROS MOTIVOS


Esses são os motivos principais pelos quais tenho prazer em ser presbiteriano. Sem dúvida, minha maior satisfação é ser, antes de tudo, cristão. E até para isso os motivos apresentados servem como eficientes complementos.

Há outros que, respeitosamente, diríamos, secundários, assim como ainda há outras doutrinas não focalizadas aqui. São secundários, mas são complementares. Vejamo­los.

a) Comunhão

O ministro credenciado consagra o pão e o vinho na chamada Mesa Consistorial. A mesa fica à frente da congregação, situada no local tradicionalmente chamado de “presbitério”. É o local à frente da nave (salão), junto ao púlpito. Ali, geralmente, há um estrado. Não temos altar.

No dia de comunhão o ministro convida os presbíteros regentes para que tomem assento ao seu lado no presbitério, junto à mesa. Em seguida, consagra os elementos (pão e vinho). Antigamente, o pão ia inteiro e, enquanto proferia as palavras textuais que Jesus Cristo pronunciou conforme Mt 26.26, 27, Mc 14.22, 23. Lc 19,19, 20, o oficiante ia partindo o pão que seria servido aos comungantes. Em seguida, os presbíteros regentes levam os elementos aos fiéis em seus lugares. Aí, cada um os recebe e passa ao vizinho até o final da carreira de assentos. Por muito tempo, todos bebiam de um só cálice.

Talvez muitas pessoas ignorem que esse sistema — instituído por Ulrich Zwinglio (1484 a 1531) em Zurique, na Suíça — tinha dois sentidos. O primeiro era o da repetição do que o Senhor fizera e os apóstolos continuaram fazendo na igreja Cristã primitiva (I Co 11.23 a 29]. E, segundo, para ensinar um principio fundamental da democracia presbiteriana: o de dar antes de receber. O presbítero dá ao comungante e esse a outro comungante.

A postura dos comungantes foi discutida ao tempo de João Knox, na Escócia. Predominou a opinião de que se deveria tomá-la assentado para não parecer que, ajoelhado, se estivesse adorando os elementos da Comunhão, como acontece no Catolicismo. Certo autor diz que o Concílio de Nicéia, em 325, já havia proibido a comunhão do fiel ajoelhado.

A mesa da comunhão presbiteriana é aberta a todos os crentes em situação regular com as igrejas a que pertencerem. Essa abertura é anunciada em cada celebração da Santa Ceia do Senhor, com o ministro oficiante declarando-o perante a congregação como uma parte do ritual.

b) Batismo

No sistema presbiteriano o batismo é feito por efusão ou aspersão de água (item III do Cap. XVIII da Confissão de Fé).

Batizam-se os menores, filhos dos membros da igreja Presbiteriana e aqueles que estiverem sob sua guarda e responsabilidade. Não se batizam quaisquer menores. Só os mencionados, que se tornam, pelo ritual assim feito, herdeiros das promessas e participantes da Igreja Visível.

Assim se procede em obediência a Gn 17.7,9; Gl 1.3,9, 14; Rm 4.11, 12; At 2.32, 39; 9.18, entre muitas passagens sobre o assunto existentes nas Escrituras Sagradas.
c) Sacramentos

De acordo com a opinião de teólogos presbiterianos, a celebração de sacramentos e inferior à fé. É inferior até ao testemunho. A salvação é pela Graça (Ef 2.8). A condição única é a Graça que gera a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 3.16; Lc 23.43).

Qualquer obstáculo seria uma restrição à salvação pela Graça. E salvar-se-ia o ladrão na Cruz, que só podia contar com a Graça? Por certo que sim.

Os Quakers não celebram sacramentos em suas igrejas e constituem um grupo religioso digno do maior respeito em todo o mundo. Se bem que sua seita não tenha prosperado por outros motivos, não é a ausência do sacramento o que os prejudica, porque seu caráter continua sendo um modelo do ideal cristão. Os Batistas não têm nenhum sacramento. Também o Exército da Salvação — mundialmente afamado como piedoso e benfazejo — não tem sacramentos. O salvacionista William Metcalf diz que valem mais os momentos de comunhão com Deus do que as horas de Cerimônias de oração.

Para o Presbiterianismo, os sacramentos são “santos sinais” e “selos do pacto da graça”. A graça que eles transmitem, “quando usados apropriadamente (Confissão de Fé) não significa poder que haja nos elementos ou no ministrante.

O valor do sacramento mede-se conjuntamente com outros frutos da vida cristã e de obediência à Palavra de Deus. Sobre isso a Palavra de Deus está repleta de ensinamento.

Cada igreja Presbiteriana local decide sobre a quantidade e oportunidade da celebração de sacramentos. É livre. Não se faz por determinação de autoridade.

Sobre a participação da Comunhão, o Presbiterianismo recomenda — e isso é amplamente anunciado — que, conforme adverte S. Paulo, “cada um examine-se a si mesmo e coma”. Quer dizer que a advertência não é feita no sentido de um afastamento habitual da Mesa do Senhor, a não ser por motivos ponderáveis. Mas, é critério individual.

d) Ministros

Os presbíteros docentes são tratados com reverência. É que se leva em conta a posição de ancião na comunidade, ainda que não o seja na idade.

Procura-se sustentá-los condignamente, de conformidade com os recursos da congregação. Não é do sistema Presbiteriano a chamada “Caixa Regional”. Em alguns casos torna-se necessário o auxílio regional (dos Presbitérios) para completar os honorários dos ministros. É o que acontece em congregações compostas de poucos elementos ou de indivíduos financeiramente menos dotados. Mas, não é esse o hábito institucional.

Esforça-se O Presbiterianismo em tudo para proceder em obediência ao que recomenda o apóstolo em I Ts 5.12, 13.

e) Relações
Não se repetem ritos evangélicos no Presbiterianismo. Aceitam-se todos os atos regularmente praticados pelas igrejas irmãs, inclusive o da ordenação de ministros. Dizemos “Amém” com fervor e sinceridade às orações de todas as igrejas evangélicas.

Os presbiterianos cooperam em todo sentido com o evangelismo mundial. Contribuem indiscriminadamente para todas as boas causas. Dizia o eminente Dwight L. Moody, pastor batista, que sempre que precisava de cem mil dólares para algum empreendimento religioso confiava alcançar oitenta mil com os presbiterianos (E. Watson Smith). Têm a mesma opinião movimentos tais como a Associação Cristã de Moços, a Cruz Vermelha internacional, o Exército da Salvação e outras instituições congêneres.

Geralmente as igrejas presbiterianas não arrolam membros de outras denominações evangélicas sem que eles o peçam por escrito. Cada caso é examinado à parte, com muito cuidado; e tem sido hábito comunicá-lo a igreja, de onde veio o transferido, que ele foi arrolado e porquê.

f) Clericalismo

A paridade entre os presbíteros docente e regente impede o florescimento do clericalismo na Igreja Presbiteriana.

O presbítero regente acata a autoridade do presbítero docente na sua função inata de presidente do concílio local (Conselho, Sessão). Reverencia­lhe os poderes na parte sacramental, conforme a Palavra de Deus. Sabe que é seu ajudante e sabe que só ombreia com ele em questões de direito e administrativas.

O presbítero docente respeita o regente como uma personalidade de peso político e governamental igual na comunidade. Honra-o como homem experiente e que — tendo as qualificações bíblicas — deve ser pessoa digna no rebanho (l Tm 5.17).

Os ocupantes dos dois ofícios, agindo com mútua compreensão, podem bem apascentar os rebanhos do Senhor (l Pe 5.1 ­3).

A entidade em que ambos se assentarem nessas condições prosperará. Onde houver a paridade dos dois, o presbiterianismo estará genuinamente representado. Onde se der o contrário o sistema estará distorcido.

g) Continuidade

O sistema presbiteriano tem resistido à ação dos séculos. É que sua missão corresponde a necessidades perpétuas.

Há nações e povos que têm missão histórica em relação aos demais. Outros vivem isoladamente. Assim são, também, movimentos e sistemas de pensamentos.

O Presbiterianismo tem executado um papel relevante nos últimos quatro séculos na história do mundo. Principalmente, na formação das sociedades democráticas. Concomitantemente, em vários setores da formação humana: social, intelectual, moral etc.

É uma obra continuada, com poucas e quase imponderáveis modificações no tempo. E vem trabalhando sem alarde, sem repique de sinos.

O presbiterato, como ofício instituído por Deus, só teria que resistir.

Jerônimo afirma categoricamente que ao bispo foi dada supremacia “para eliminar dissensões”. Ele reconhecia que os ofícios eram iguais e só achou motivos administrativos para que um subordinasse o outro. Eliminaram-se as dissensões por algum tempo e em, certos meios. Mas, em se tratando de uma doutrina, foi impossível destruir o presbiterato. O tempo incumbiu-se de lhe tirar o pó quando se tornou oportuno. E, com que vigor foi restaurado o presbiterato!

h) Congraçamento

As igrejas Presbiterianas, como dissemos, são organizadas em bases nacionais. Bases administrativas, já se vê. Porque, doutrinariamente, O sistema é mundial.

No dia 3 de julho de 1877, na Catedral de S. Giles, em Edimburgo, na Escócia, reuniu-se o Primeiro Congresso Mundial Ecumênico Presbiteriano. “Ecumênico” no sentido etimológico; do grego “oikomenikós”, querendo dizer: universal.

Desde então, de quatro em quatro anos, o mundo presbiteriano reúne-se em algum lugar no mundo. E trocam experiências, planos e relatórios. Em 1959 esteve reunido no Brasil (em São Paulo), para homenagear a Igreja nacional que comemorava então o seu primeiro Centenário.

O ideal nessas reuniões é o do Congraçamento dos povos, através do sentido espiritual de Fé e Ordem. Não há preocupação numérica, que isso para Deus não tem valor.

IX – TERMINANDO:

Haverá nestas respostas à pergunta “Por que sou presbiteriano?” algo de injusto ou pretensioso? Algo que possa ferir convicções alheias?

Se houver, antes de mais nada, um pedido sincero de perdão. Esse não foi o nosso objetivo. Só pensávamos em presbiterianismo.

Escrevemos o que se contém para os presbiterianos. Para dar a conhecer aos poucos que os ignorarem os motivos que têm para se sentirem satisfeitos dentro deste ramo da igreja evangélica mundial. Não apontamos defeitos no sistema, porque não os vimos.

Afinal, na parte humana, qual a organização que não padece de algum defeito? Por exemplo: o calvinismo (e por extensão o presbiterianismo) é acusado de promover o capitalismo. A defesa seria prolongada. Sem querer fazê-lo, perguntaríamos somente: será razoável essa acusação a um sistema religioso? Parece que não. O que poderíamos afirmar é que, valorizando o homem, o Presbiterianismo valoriza o que é seu, a sua propriedade. Logo, ele a admite e a respeita como justa, se adquirida honestamente.

A Igreja Presbiteriana não prega a usura, não estimula o amealhar, ajuntar dinheiro. Ao contrário. Conforme dissemos, é liberal no arrecadar e no dar ofertas até para estranhos ao seu meio. A igreja não mantém estabelecimentos lucrativos no mundo. Nossas igrejas não são notadas como proprietárias de imóveis ou de instituições para renda. Se há algum povo sofrendo a influência do poder econômico é melhor procurar a causa em outra origem; por certo achá-la-á fora do Presbiterianismo.

POR QUE SOU PRESBITERIANO? (7ª PARTE - POR SUA GENEROSIDADE)

POR QUE SOU PRESBITERIANO?

VII – POR SUA GENEROSIDADE


O comportamento do Presbiterianismo é assinalado através da história por um acentuado espírito de magnanimidade, de altruísmo e de elevação.

Vauvernague diz que “o interesse é o fim do amor próprio a generosidade é o sacrifício”. Efetivamente, sempre que teve de assumir atitudes decisivas, o Presbiterianismo escolheu o sacrifício como seu objetivo. Nunca se deixou dominar pelo interesse.

Por isso, podemos dizer que o sistema presbiteriano forma um grupo generoso. Não diríamos liberal, ainda que a isso sejamos bem tentados. Não o dizemos pelas implicações que esse vocábulo contém. Generoso é o qualificativo para o ofício que lhe deu o nome: o de presbítero. A primeira citação feita nas Sagradas Escrituras ao presbítero refere-se a alguém chamado para servir. É o que se vê em Ex 3.16. No deserto da peregrinação os presbíteros foram reunidos em uma corporação para servir (Nm 11.16, 17). Aí Deus os instala no governo da comunidade para ajudar Moisés. Note-se: para ajudar.

Os tempos foram correndo. A instituição parecia em recesso. Vem a sinagoga. Como ela, os presbíteros reaparecem no mesmo espírito generoso.

Na aurora do cristianismo é só ler o livro de Atos para ver a nobreza do comportamento do presbiterato. O bispo suplanta-o, mas o espírito não se extingue. João Calvino o redescobre e só teve que lhe tirar o pó dos séculos. O grande genebrino (oriundo da França) põe em relevo a magnanimidade da instituição do presbiterato e o Presbiterianismo oferece ao mundo nova concepção de liberdade e de democracia. Onde chegou sua influência ou, enquanto durou essa influência, até a linguagem dos povos foi diferente. Tudo se dizia e fazia em termos de uma elevação que não comportava tirania nem imposição. E assim surgiram nações liberais, ricas, dadivosas, pacíficas, crentes, missionárias, tais com a Boêmia, a Hungria, a Suécia, a Dinamarca, a Suíça, a América do Norte, a Escócia, a Finlândia, entre outras.

Inerentemente generoso o Presbiterianismo quer dar a Palavra de Deus aos povos. É desbravador. Ama o pioneirismo. Paradoxalmente, não corteja os números da estatística, nem a popularidade. Arrisca-se, prega, implanta a obra e, muita vez, cede o campo para outro. Vai para frente.

Exemplos. No Brasil, a Igreja Presbiteriana tinha uma boa igreja na cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul. Chegando ali os episcopais, há uns 80 anos (?), entregou a igreja de Rio Grande aos episcopais, voltando-se para outras regiões do País. Só voltou ao Rio Grande do Sul em 1960! O mesmo aconteceu em Petrópolis, lá para 1919. Os metodistas abriram ali um Colégio e um trabalho. Os presbiterianos cederam sua congregação aos metodistas. O Colégio, depois transferido para o Rio de Janeiro, é o atual instituto Bennett. Ainda, em Belo Horizonte. As Missões norte-americanas haviam feito uma divisão territorial cabendo Belo Horizonte aos metodistas. Só em 1917, após muito esforço e sem a cooperação da missão regional foi aberto o trabalho em Belo Horizonte pelo Presbitério Sul de Minas!

A mão presbiteriana esteve a serviço de outros Grupos co-irmãos.

Foi o que aconteceu com o Exército da Salvação, segundo relatou seu órgão oficial o “BRADO DE GUERRA” em número comemorativo do cinqüentenário da obra no Brasil. Diz ele:

“Durante a primeira parte do presente século, o pai do Dr. Erasmo Braga encontrou­se com William Booth, em Londres, e prometeu sua ajuda caso ele enviasse oficiais para começar a obra salvacionista no Brasil....

O Tte. Cel. David Miche e Senhora chegaram ao Brasil a 8 de maio de 1922 e desfraldaram a bandeira salvacionista. O Dr. Braga cumpriu a promessa feita por seu pai” (Rev. J. R. Carvalho Braga).

Essa a linha de comportamento generoso e cordato do Presbiterianismo. Um Presbiterianismo que progride porque, com a graça de Deus, oferece vida abundante em Cristo.

Mas sua generosidade tem outros aspectos, cada qual mais edificante. É um desses casos O do Dr. Alberto Schweitzer, o eminente prêmio “Nobel” da Paz em 1953, o maior intérprete da música de João Sebastião Bach em todo o mundo.

Em 1905 a Missão presidida pelo Pastor Alfred Goegner carecia de um missionário médico para trabalhar entre os leprosos de certa região da África. Lançou o apelo em reunião pública em Paris Respondeu-a um brilhante estudante chamado Alberto Schweilzer. Pouco lhe faltava para completar os estudos médicos. Não era presbiteriano. Era Unitariano. Só cria num Deus, do qual Jesus Cristo era uma simples forma de manifestação. O Rev. Goegner viu nele o cavalheiro, o crente e o idealista imbuído do espírito de servir. Estava dentro do quadro do Presbiterianismo. Dependia o entendimento de um acordo entre as partes. Aceitou o oferecimento. Schweitzer voltou aos livros em Strasburgo, e ao seu órgão. Este poderia ser um meio de levantar fundos para a Missão. Realmente, o foi, mais tarde. Em 1913 doutorou-se. Casou-se e viajou para a África e ali viveu toda sua vida, entre os morféticos negros e outros enfermos. Sua obra não tem similar.

Schweitzer fazia prédicas. Era uma parte de suas obrigações, instruir os negros no cristianismo. Manteve a palavra empenhada. A Igreja Reformada da Alsácia manteve a sua também. Não lhe poupou nenhum daqueles meios de que ele careceu para viver o cristianismo como é pregado por ela. Um cavalheiro honesto e uma Igreja generosa!

POR QUE SOU PRESBITERIANO? (6ª PARTE - POR SUAS DOUTRINAS)

POR QUE SOU PRESBITERIANO?

VI – POR SUAS DOUTRINAS


O Presbiterianismo não vive fazendo alarde de suas doutrinas já dissemos que ele é Cristocêntrico. Logo, tem em Cristo o supremo tema de sua pregação.

Mas, o que o tem sustentado durante tantos séculos é o seu firme fundamento doutrinário. São os seus princípios, consolidados através da experiência multi-secular. Não tem vivido a fazer tentativas, nem se preocupando com coisinhas de natureza superficial que o tempo se encarrega de destruir. Tem vivido com fé nesse fundamento, suportando as perseguições, o descrédito com que tentam denegri-lo e combates, morte e ameaças de extermínio contra os seus adeptos.

Doutrina é o fundamento de um sistema. É o alicerce sobre o qual se levanta o edifício. É a parte sólida, resistente, do fundamento. Na doutrina estão reunidos os princípios a serem transmitidos, porque eles é que contêm a parte a ser praticada na vida. (Tt 1.2). A doutrina é diferente do dogma nisto: a doutrina permite investigação, análise; dogma, não; é imposto.

Dai a importância da doutrina para qualquer sistema, seja religioso ou filosófico; político ou administrativo.

O Presbiterianismo tem por base dez doutrinas consideradas as fundamentais. Dessas, cinco são comuns com outros ramos da árvore evangélica geralmente conhecidas no mundo. As outras cinco são distintivamente presbiterianas.

A seguir, as doutrinas do primeiro grupo nas quais os presbiterianos crêem:

1 — em um Deus trino;

2 — em Jesus Cristo particularmente, como sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade;

3 — na Bíblia, a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática; ,

4 — no novo nascimento dos conversos, e

5 — na ressurreição dos mortos.

As doutrinas do segundo grupo, isto é, as distintivamente presbiterianas, são:

1 — a absoluta Soberania de Deus;

2 ― a Predestinação;

3 ― a Salvação pela Graça;

4 — a Perseverança dos Santos, e

5 — o Governo Representativo.


DOUTRINAS EM COMUM

1 – DEUS TRINO

O presbiterianismo crê que há um Deus unto que subsiste em três pessoas: Pai, Filho e o Espírito Santo. Três pessoas distintas e uma só verdadeira, é o que ensina. Um mistério? Sim, mas um mistério admitido como fundamental.

Muitos pensadores eminentes e sinceros têm procurado destruir este princípio doutrinário. Outros têm se esforçando em busca de outras formas para substituir a doutrina da Trindade. Ela vem resistindo desde que foi formulada.

No século terceiro, Sabellius — um presbítero da cidade de Roma — lançou a idéia de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três manifestações de uma só pessoa. A novidade era racional. Mas, não era uma novidade. Religiões pagãs orientais já admitiam e esculpiam deuses com essa forma. O que Sabellius queria era enfraquecer o cristianismo, com a sua “trindade modal”. Não triunfou.

No século quarto, Ario, presbítero de Alexandria, também lançou uma doutrina nova sobre a Trindade. Dizia que Cristo não era igual ao Pai em natureza; era só semelhante. O arianismo, se bem que condenado pelo Concílio de Nicéia (425), prevaleceu por algum tempo.

Muitos outros estudiosos da questão sugeriram idéias novas. Nenhum conseguiu vencer a doutrina. Em 1774 T. Lindsay e J. Priestly acharam que Deus era uma só pessoa. Fundaram o Unitarismo que ainda hoje existe. Em 1778, o visionário Emanuel Sweedenborg, sueco, criou a “Igreja da Nova Jerusalém” que concentrou todo o poder em Jesus Cristo. Era uma desfiguração do princípio fundamental de que o Filho procede do Pai.

Parece bem o que diz o Rev. Alfredo Borges Teixeira, ao afirmar: “Deus é um em essência e três em pessoas”. A palavra pessoa é usada porque não temos outra para melhor exprimir a idéia da entidade divina. Mas, o fato é que os três são um mesmo Deus, igualmente divinos em eternidade e majestade, sem subordinação.

A doutrina da Trindade, prática e aceitável é, como dissemos, um mistério. É sobrenatural. É uma câmara escura, onde a mente humana não penetra. Mas que é perfeitamente aceitável ao reconhecer a manifestação do Seu poder na Criação, conforme Rm 1:20. O nosso próprio ser, com tantos fenômenos que a Ciência não explica. Recusaremos aceitar os fatos só porque não estamos em condições de os explicar?

A Igreja Presbiteriana adota a doutrina da Trindade e a apresenta aos seus adeptos como digna de fé. Não se oferece para torná-la compreensível como uma fórmula matemática. Numerosos teólogos de vários países têm estudado o assunto. Todos são sinceros e francos. Nenhum deles procura iludir o raciocínio humano. O que dizem, entretanto, parece bastante para demonstrar que a doutrina da Trindade é digna de fé, é edificante e consoladora.

2 – A DIVINDADE DE JESUS CRISTO

No cumprimento dos tempos, Deus encarnou-se. Jesus Cristo é o Deus encarnado. Concebido milagrosamente, nasceu sem pecado. Viveu sem pecar (II Co 5.21), morreu inocente. Perguntou a Seus ouvintes quem o acusaria de qualquer pecado, e a multidão permaneceu silenciosa.

Assim foi, porque Ele era a segunda pessoa da Trindade. Igual ao Pai em natureza e semelhante ao homem em tudo mais, menos no pecado.

A questão da Sua divindade é um problema muito antigo. São João a menciona em 1 Jo. 1.22. Daí para frente, a chamada “questão Cristológica” tem abalado muito o pensamento humano. A primeira decisão importante a este respeito foi tomada no Concílio Ecumênico de Nicéia — uma cidade da Ásia Menor ― no ano de 325 de nossa era. Reunido para enfrentar a heresia dos Arianos, depois de longamente debatido, decidiu que Jesus Cristo era Deus. Mas, nem todo mundo O aceita assim. São contra Cristo hoje, na condição de segunda pessoa da Trindade, diversos grupos respeitáveis no mundo religioso. Entre eles: os unitarianos, os mormonistas, os espíritas, os teosofistas, os cristãos científicos, os maometanos e muitos outros.

O Presbiteriano crê que Ele é o autor da salvação completa, perfeita, toda suficiente e eterna, para o homem decaído. Assim, Ele é o cabeça da Igreja, o cumprimento das profecias, Senhor e Servo, Sacerdote e vítima sacrificial, Rei e súdito. Morreu e venceu a morte na ressurreição.

Ele veio para os Seus, mas os seus o rejeitaram e continuam a rejeitar até hoje. Mas, Sua missão foi cumprida. Satisfeita a justiça do Pai, Ele subiu aos céus, de onde vai voltar um dia como Rei triunfante.

3 – A BÍBLIA

Inspirados por Deus, homens piedosos escreveram ― separados e durante séculos ― sessenta e seis pequenos tratados. Todos, juntos, formaram o Cânon que chamamos de Bíblia ou Sagradas Escrituras, a Palavra de Deus.

Dividida em dois grandes grupos, ela compreende o Velho (ou Antigo) Testamento e o Novo Testamento. Entre os dois houve o maior dos acontecimentos da História: a encarnação do Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

O Velho Testamento levou mais de mil anos para ser escrito, e o Novo, quase cem. Mais ou menos trinta e seis autores trabalharam nesse tempo, dando sua colaboração para a composição dos Cânones Sagrados, muita vez sem o saber. Escreveram de diversas maneiras, empregando diversos materiais. Homens piedosos reuniram seus trabalhos e organizaram o grupo de livros canônicos.

Entre os anos 285 a 287 antes de Cristo, O rei do Egito, Tolomeu Filadelfo, pediu o envio de setenta e dois homens hebreus, conhecedores da língua grega, dotados de virtudes espirituais o morais, piedosos, para, em Alexandria, fazerem a versão dos textos sagrados para um volume. Colocados em câmaras separadas, trabalharam 72 dias e fizeram o que se chama “A Septuaginta” ou “Versão dos Setenta” ou, somente “Setenta”. As referências que Jesus Cristo fez das Escrituras Sagradas são tiradas dessa Versão.

No ano 383, de ordem do bispo de Roma, Dâmaso, São Jerônimo, varão reto e sábio, fez a segunda mais célebre versão do Velho Testamento. É a conhecida como “Vulgata Latina”, muito usada pela igreja Católica Romana.

Houve muitas outras versões; antigas e mais recentes. As que foram feitas diretamente dos originais, chamam-se diretas. As que tiveram origem em versões, indiretas. Já temos uma “Versão Brasileira” muito citada.

Sem erros, nem mitos, nem sortilégios, esses livros ajustam-se uns aos outros formando um admirável todo homogêneo. Como se fossem feitos para isso. E, nisso manifestam a revelação divina. Nem todo mundo pensa assim, que a Bíblia seja a revelação e a vontade de Deus juntas. Karl Barth, teólogo alemão, acha que uma coisa é o livro e outra a revelação.

O que ninguém pode negar é que os frutos dos ensinamentos bíblicos têm feito coisas maravilhosas no mundo. A História tem provado que suas profecias são verdadeiras porque tem testemunhado muitas delas cumpridas rigorosamente. “A história da sua influência”, diz Angus Green, “é a história da Civilização!”

Podemos continuar a crer nela como única regra de fé e prática. Não há regras melhores. Os Credos (Apostólico, Confissão de Augsburg, 25 Artigos de João Wesley e outros) são formulários de aplicação dos ensinamentos da Bíblia. A ela se anexam. A ela não se nivelam. Com ela não se confundem.

A Igreja Presbiteriana não a entroniza em seus templos. Ela não é objeto de culto como livro. Ela vale pelo que contém e o que contém é essencial para conduzir o homem à salvação em Jesus Cristo.

4 – O NOVO NASCIMENTO

É a mudança da personalidade. Uma transformação total, como se o espírito nascesse de novo. A criatura se transforma, tanto que perde o contato com o que passou, que era, antes do encontro com Jesus Cristo (Jo 3.5,6). A transformação é feita no exato momento em que o homem crê em Cristo como seu Salvador. O Espírito Santo o domina e transforma.

A doutrina do novo nascimento é provada com a observação. As teorias, as explicações, além do que diz a Palavra de Deus, pouco adiantam.

Quando a criatura se rende, há um momento em que as características da personalidade suspendem subitamente suas atividades. As tendências, as taras, a imaginação, os sonhos e os ideais, a hereditariedade, os conflitos internos, o intelecto, a cultura, a riqueza, a posição social, tudo, se transforma no todo ou em parte. Há uma imagem nova na vida da pessoa: Cristo. É um novo Senhor; novo morador da alma. Jo 14,23; II Co 5.17; Gl 6.15.

Daí em diante o mundo vai ver que onde havia imundície, aparece limpeza. Onde se achava desespero, surge esperança. Onde dominavam os vícios nasce à virtude. Onde se pensava em morte passa-se a pensar em vida. Onde se temia o inferno, haverá regozijo com a antevisão do Céu. E a criatura passa a viver uma vida positiva e edificante.

O domínio do Espírito Santo é total. Como a criatura não conseguiu resisti-lo, agora convivem como dois camaradas. E que companhia resultou do novo nascimento!

5 – RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

A cessação da vida é inevitável. Do ponto de vista da natureza decaída é, até, necessária para renovar a espécie. Do ponto de vista religioso é a separação entre o espírito e o corpo. Quanto ao destino do espírito as opiniões dividem-se. Uns pensam que tudo acaba, então, o chamado “espírito” era uma alma que se aniquilou como o corpo. Outros asseguram que o espírito prossegue, mas adormece. Fica em estado de repouso até um certo dia. É o que pensam os Adventistas. Outros, ainda, acreditam que o espírito preserva sua vitalidade e vai aguardar a restauração do corpo, para uma reunião futura. Não entremos em detalhes.

O que é verdade, permeando todas essas opiniões, é que o homem prefere, em sua maioria e em todos os estágios de civilização, fugir ao aniquilamento total na morte.

Jesus Cristo deu uma nova esperança aos cristãos. No principio os cristãos não compreendiam bem o Seu ensinamento. Lamentavam quando morria alguém, como os tessalonicenses, porque achavam que tais mortos haviam perdido a oportunidade da ressurreição. São Paulo teve que dar muitas explicações. Entre outras, a de que o tempo para Deus não existe. O que importa é estar preparado para o encontro com Jesus Cristo a qualquer hora. A ressurreição virá depois. Talvez muito depois.

Os judeus crêem na doutrina da ressurreição assim. Crêem a seu modo. Acham que Abraão ficará à porta do Paraíso fiscalizando a entrada, para só permiti-la aos do seu povo.

A fé na ressurreição dos mortos está em toda a Bíblia. É a aspiração de toda a humanidade. É uma doce esperança, não embalada pelos pagãos.

Por esta doutrina, quando chegar “o dia”, os mortos reaverão seus corpos, que serão reconstituídos em perfeição e incorruptibilidade. Permanecerão assim para sempre.

Há idéias que dessa se aproximam em outras religiões. Em todas essas, porém, a criatura extingue-se ao atingir a perfeição. Toma outra forma. Em algumas, incorpora-se à divindade. O fato é que a pessoa humana, de onde veio, desaparece, como no nirvana de Buda.

Na doutrina cristã a pessoa se conservará como tal. Jó diz (19.26,27) que em sua carne verá a Deus e os seus olhos O contemplarão. É uma afirmação maravilhosa. Essa é a fé pregada pelo Presbiterianismo.

A. Cruden afirma: “a ressurreição de Cristo é o mais importante tema do Evangelho e a demonstração do resto dele”. Bem quer que seja. Não as consideramos como dogmas.

DOUTRINAS DISTINTIVAMENTE PRESBITERIANAS

As cinco doutrinas seguintes são distintivamente presbiterianas e, por isso, as defendemos. Entretanto, não as impomos a quem quer que seja. Não as consideramos como dogmas.

Só dos oficiais da igreja, e para que recebam as ordens sacras, exige-se que as aceitem. Assim mesmo, a definição da opinião deles é pedida em termos liberais, perguntando: “Aceitais e adotais a Confissão de Fé e os Catecismos da nossa Igreja, como contendo o sistema doutrinário ensinado nas Sagradas Escrituras?”. O eleito tem liberdade para aceitar ou recusar. Se recusar, não deve ser ordenado.

Dos adeptos em geral, não se exige isso. Esse procedimento torna possível o que afirmava S. Agostinho: “Plurimi sunt fores ovi, plurimi lupi intus”. Quer ele dizer que há muitas ovelhas fora do aprisco (João 10.16) e muitos lobos lá dentro (!). João Calvino trata do assunto nas “Institutas”. Mas, como não sabemos quem é, e quem não é, franqueamos nossa mesa de comunhão a todas as pessoas em plena comunhão com a fé evangélica de qualquer ramo. Deus é o supremo juiz; deles e de nós os que pertencemos à comunidade que oferece a mesa.

Dessas cinco Doutrinas Distintivas, a primeira, pela ordem de grandeza, é:

1 – A ABSOLUTA SOBERANIA DE DEUS

Esta é a pedra fundamental da fé presbiteriana. A doutrina a que se dá o maior respeito no calvinismo.

A doutrina da Soberania divina mostra que Deus é o Senhor de tudo. E que, embora com todo o poder, Deus governa tudo com sabedoria e amor. Tudo saiu das mãos de Deus, na Criação. Tudo é de Deus. E Ele reina sobre Sua obra. É o que relatam as Escrituras Sagradas desde o princípio até o fim. O último livro, o Apocalipse, termina dizendo: “O Senhor todo poderoso reina!”

De conformidade com esta doutrina, Deus reina de fato e de direito. Nada O surpreende. Nada O limita, nada O detém, nada se Lhe antecipa, tudo acontece na hora própria. Suas leis são imutáveis e são executadas dentro dos Seus propósitos. Por exemplo: um homem adoece. O mal agrava-se. Pela lei natural ele deve morrer. Mas Deus, sem mudar a lei natural e usando Seu poder —que criou a lei natural — suspende a ação da lei no caso, atendendo a uma oração. O homem não morre. E Deus empregou Sua soberania. Isso, porém, não é o vulgar, o comum. Perderia em mérito se o fosse.

Deus não depende das mudanças constantes de pensamento, de decisão e de ação do homem, ou como o homem. Ele governa com um plano que é abrangente, total, para a obra criada no universo. O plano é executado dentro de leis, conforme citado. São regras que Deus considerou necessárias e obrigatórias para a natureza, os astros e planetas, o movimento, os corpos, tudo, enfim. Evidentemente, Ele domina essas leis. E, quando, por qualquer causa do seu agrado, suspende ou adia a sua execução, ocorre um milagre.

Deus reina com sabedoria. Sabedoria pura e completa; insondável para o homem.

A Soberania divina não conflita com a Sua Paternidade. A Soberania demonstra o Seu poder, direito e autoridade. A Paternidade mostra o Seu amor e Sua bondade, como doador só de boas coisas.

Deus é “soberano na criação, na providência e na salvação”. Como soberano Ele é justo; e por amor, na Sua Justiça, Ele exerce o perdão.

2 – PREDESTINAÇÃO

É uma doutrina que decorre da anterior. São irmãs gêmeas. Como soberano e todo poderoso, Deus é Onisciente, Onipresente e Onipotente.

Esses três atributos Lhe permitem conhecer tudo o que acontece. Para Deus não há passado, nem presente, nem futuro.

Quanto ao que vai acontecer, que chamamos de futuro, Deus o vê como se fosse o presente. Não se opondo à aplicação de suas leis ao fato que vai acontecer, Ele exerce ato de Predestinação. Não é uma interferência, diríamos, pessoal no caso. Ele não determinou que acontecesse, como muitos pensam que deveria ser para aceitar a doutrina da Predestinação. Ele, também, não impediu que o homem, ficando sem o direito de livre arbítrio, seja reduzido a uma máquina, a um autômato.

Governando o mundo, Deus o administra, também. E o administra com amor paternal, chegando a conceder ao homem dádivas naturais e sobrenaturais na medida das conveniências, a critério d’Ele. Essa administração, essa concessão de dádivas, é a Providência. Um benefício divino que se opõe ao fatalismo, a “tudo o que tem de ser, será”. Um teólogo afirma: “Não é o que tem de ser que será, mas o que Deus decretou e propôs é que será”. A diferença é muito grande. Não é uma sucessão de fatos mecânicos, a nossa vida; é uma bela seqüência de atos inteligentes e racionais encadeados dentro de um plano.

O sábio G. F. Hegel (1770 a 1831) escreveu: “Deus governa o mundo; o que o seu governo hoje realiza — a execução do Seu plano — é a História”. Essa afirmativa dá à História uma significação muito maior e ao seu registro uma função espiritual.

O fato mais belo a acentuar é que, dentro desse quadro, o homem tem liberdade de ação. Liberdade responsável, como se costuma dizer hoje. Liberdade debaixo da Lei, como se dizia outrora. Não há dúvida de que os papéis de todos esses fatores no conjunto constituem um problema difícil. Pode-se fazer muita especulação em torno disso. O assunto é grandemente inspirador e pode ser explorado por homens sinceros ou não. A verdade é que o plano vem funcionando há milhões de anos. A Bíblia está cheia de histórias que exemplificam isso. A de José do Egito — um personagem histórico ― é uma delas.

É uma doutrina edificante que podemos adotar até sem compreender.

3 – SALVAÇÃO PELA GRAÇA

O homem foi criado em estado de pureza. Nesse estado convivia com Deus.

Satanás levou O homem a quebrar essa harmonia. Tudo mudou. O homem perdeu aquela imagem de Deus em inteligência, liberdade sã, espiritualidade e passou a experimentar a agonia da morte.

A semelhança de Deus que nele havia em qualidades morais ficou seriamente avariada. Até o seu domínio sobre os animais diminuiu em poder. O homem caiu do alto de um pedestal e ficou sem compreensão (Ef 4.18), com a consciência entorpecida (Hb 10.22), com a vontade relaxada (Rm 8.7), tornou-se sensual (Ef 2.3) e corrompeu-se em tudo mais (Gn 6.5).

Iludido em sua boa fé, pouco custou para que ele compreendesse o erro que cometera, o mau negócio que fizera, enganado com o sonho de poder viver sua própria vida. Tornara-se inimigo de Deus por livre escolha.

Aí, a grande tragédia do gênero humano.

Mas, houve um outro enganado nesta história: Satanás. Ele pensou que havia destruído a obra prima de Deus e errou. Além dessa derrota, as Escrituras Sagradas têm relatos de diversas outras derrotas fragorosas do inimigo de nossas almas. Um exemplo, o de Jó.

Deus não tomou o acontecimento como uma derrota. Ele dera liberdade ao homem, com uma alternativa. Satanás induzira o homem a fazer o que o Senhor havia proibido. O homem caiu mas não foi irremediavelmente aniquilado. A aniquilação total seria a vitória do diabo. Imediatamente após a queda, Deus prometeu enviar Seu próprio Filho como o Mediador da Reconciliação. Os que acreditassem que Ele viria (na velha Dispensação) seriam reconciliados mediante a fé na futura vinda do Mediador. Os que cressem n’Ele depois de Sua vinda, seriam também reconciliados com Deus.

A oferta do Filho, cujo sacrifício tem o mérito de nos redimir perante o Pai, foi inteiramente gratuita. E a doutrina que a contém é a da Salvação pela Graça.

Como poderia o homem pagar uma dádiva tão cara em preço e qualidade?

Esta belíssima doutrina costuma ser mal interpretada e mal anunciada. Vejamos os três meios de salvação muito anunciados em pregações:

I ― Salvação pelo Caráter — Os méritos infinitos de Cristo deixam de ser apresentados como deviam ser e, em seu lugar, anuncia-se, calorosamente, a reconciliação com Deus por meio de atos bons. Recomenda­se buscar a Deus por meio de rituais, códigos de vida religiosa, de moral, prática de virtudes, participação em sacramentos, sacrifícios do corpo, privações, restrições (até alimentares), segregamento social e outros. Orações, orações intermináveis, jejuns, atos, enfim, de pessoas que, talvez, nem se lembrem de Cristo!

Essas coisas contrariam a doutrina da Salvação pela Graça. O efeito desta doutrina é a imediata qualificação do que crê como cidadão do Reino de Deus, o encontro imediato com Cristo. Renascido, o individuo, necessariamente, faz boas obras. Não nos salvamos “pelas boas obras, mas para as boas obras”, disse alguém com muito acerto.

II — Salvação pela cooperação com Deus — Consiste em dar muito valor à parte do homem no processo da reconciliação. É uma atitude perigosa, que conduz à religião do fazer. Há muitos que pensam que só é vida religiosa a que é vivida estafantemente em trabalhos. Mas no Reino de Deus há lugar para as Martas e as Marias. E todos os que querem fazer alguma coisa, devem pensar em Tg. 4.15. Nem tudo O que se quer fazer é aprovado por Deus.

Deus é quem nos leva a querer e a fazer (Rm 7.18,19; Fp. 2.13). Ele age primeiro em tudo. São d'Ele as regras do jogo. O homem da mão mirrada recebeu ordem para estendê-la e, em seguida, Cristo operou o milagre. Na obediência já havia uma parte do milagre. (Mt 9.13); o aleijado sabia que não podia estender a mão. Ao ressuscitar Lázaro, O Senhor gritava à beira do túmulo: “Lázaro, sai para fora!” (Jo 11.12). Feita Sua parte, Deus manda fazer o complemento.

O que importa na salvação é o ser, é estar em condições de cumprir a vontade de Deus. Depois, então, vem a parte a realizar. A iniciativa é de Deus.

III — Lê-se na Confissão de Fé Presbiteriana (XVIII.I):
“... os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus Cristo e O amam com sinceridade, procurando andar diante d’Ele em toda boa consciência, podem, nesta vida, certificar-se de se acharem em estado de graça e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus...”

Esse é o coroamento da Salvação na Terra. E, com ela, a segurança da vida eterna em glória, conforme Rm 6.23. É um dom gratuito de Deus.

Satanás lançara um desafio a Deus no Éden. O homem, que fora o objeto do desafio, só perdeu; de ambos os lados. Do de Satanás, porque ele nada tem de bom para dar; do de Deus porque incorreu num castigo natural como resultado da desobediência. Mas, o acontecimento foi a grande oportunidade para a demonstração do Amor de Deus. Simultaneamente com o castigo veio a oportunidade de pagar a ofensa: a reconciliação com o Pai por intermédio do Filho, Jesus Cristo.

Vale a pena pensar, como homens, no valor dessa oferta. Pensar no assunto como uma transação: trocar Jesus Cristo pelas obras, é que é absurdo! É, acima de tudo, desvalorizar o mérito do Senhor Jesus Cristo, como Mediador. É não dar importância ao Seu sacrifício na cruz. E quem assim procede está a serviço do inimigo de Deus (Jo 3.18, 36).

Assim, é de dizer-se, a Graça preexistia. É um favor que, já existindo, não cessou com a queda do homem. Ela, que era antes dos tempos (I Tm 1.9), prevalecerá após os tempos. E, debaixo da sua influência como se estivesse sob uma cúpula, o pecador entra no caminho da reconciliação com o Pai. Eis a dinâmica da redenção: 1) Ouvida a chamada de Deus (Confissão de Fé X.I), o pecador humilha-se e dispõe-se a 2) aceitar o sangue redentor de Jesus Cristo (Jo 3.16). Em seguida, 3) o Espírito Santo apossa-se do indivíduo, domina-o totalmente e ele se torna incapaz de resistir (Confissão de Fé X.II). Segue-se 4) a confissão pública indispensável (Mt 10.32).

Depois desse início —de nova vida vem um processo de aproximação para com Deus e um conseqüente afastamento do diabo. Mudam­se os gostos do coração. Aprimoram-se as virtudes; quem não as tem? A regeneração e instantânea. A santificação é gradativa e progressiva. E o novo homem começa ia sentir prazer nos benefícios da nova pátria (Ef 2.8-10).

Essa resumidíssima vista panorâmica dá uma idéia da estupenda doutrina da Salvação pela Graça.

4 – PERSEVERANÇA DOS SANTOS

É uma doutrina muito cara ao Presbiterianismo. Faz parte dos chamados “Cinco ponto do Calvinismo”. Não é aceita por todos os grupos evangélicos.

A convicção presbiteriana é de que o Espírito Santo é irresistível. Quando Ele se apossa do homem, isso acontece como uma rendição total da parte do pecador. À rendição total corresponde um domínio total. Um domínio total só pode ser de um efeito total na ação e no tempo. Logo é acreditável que esse domínio não possa ser removido.

A base da doutrina está na convicção de que Deus não muda. A criatura, por Ele salva, não pode, depois, ser condenada. Também está intimamente ligada à obra redentora de Jesus Cristo. Uma vez redimido o homem, ainda que continue sujeito a errar, está redimido para sempre. E se ele está redimido não somos nós quem o pode julgar. A doutrina afirma que a redenção é total. Mas, se A, B ou C está redimido, ao homem não cabe decidir.

Quem diz que a redenção é definitiva é o Senhor Jesus. Em Jo 10.28, e 29 lemos: “...ninguém os arrebatará de minha mão” e referências, veja-se o que S. Paulo escreveu aos Romanos, capítulo 8. Vejam-se, especialmente, os versículos que, diríamos, “chaves” de abertura e de encerramento do capítulo. O primeiro abre a revelação sobre a doutrina da Perseverança dos Santos; o último a encerra com a clareza do meio-dia.

A possibilidade de quedas continua na vida do homem. Mas, é parcial, conforme diz a Confissão de Fé; não mais haverá a queda total. Essa possibilidade leva a acreditar que a vida do homem reconciliado com Deus pode ter altos e baixos, avanços e retrocessos. Mas se for a vida de uma ovelha de Jesus Cristo, dominada pelo Espírito Santo de Deus, ela será sempre a de redimido.

É uma doutrina que conforta o coração humano. É grandemente consoladora. Reanimadora dos fracos, já que nem todos os filhos são do mesmo porte espiritual, como numa árvore, nem todos os ramos têm a mesma resistência e cor. Mas, ainda: como não podemos julgar — só Deus é Juiz — esta doutrina nos impele a difundir as verdades salvadoras, a pregar o Evangelho, a levar Cristo às multidões sem desfalecimento e a convocar os homens para que se voltem para o gozo dos direitos dos salvos em Cristo.

5 – GOVERNO REPRESENTATIVO

Já desenvolvemos este assunto em outra parte deste estudo.

Só nos cumpre, a esta altura, reafirmar nossa confiança nas doutrinas presbiterianas, segundo as quais, o governo representativo é de origem divina. Instituído por Deus, foi reinstalado na igreja Cristã Primitiva e redescoberto por João Calvino. João Knox o aprendeu com João Calvino em Genebra, levou-o para a Escócia e, de lá, espalhou para o mundo. Chegou até nós por via norte-americana, depois de ensaiado aqui pelos europeus.

A igreja existe para servir e não ser servida. Para atingir esses objetivos entrega o seu governo a oficiais que devem ter o mesmo ideal de servir e não de ser servidos.
Dar demasiada importância a um governo e atribuir­lhe poderes exagerados é descaracterizar uma comunidade como de origem divina. As instituições consideradas divinas devem ser diferentes. Devem, pelo menos, reproduzir a imagem bíblica ao invés de reproduzir a humana.