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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O CIENTISTA DE DEUS



ATRAVÉS DE LEIS DA FÍSICA E DA FILOSOFIA, PESQUISADOR POLONÊS MOSTRA QUE DEUS EXISTE E GANHA UM DOS MAIS COBIÇADOS PRÊMIOS

Como um seminarista adoles¬cente que se sente culpado quando sua mente se divi¬de, por exemplo, entre o chamamento para o prazer da car¬ne e a vocação para o prazer do espírito, o polonês Michael Keller se amargurava quando tentava responder à questão da origem do universo através de um ou de ou¬tro ramo de seu conhecimento - ou seja, sentia culpa. Ocorre, po¬rém, que Keller não é um menino, mas sim um dos mais conceitua¬dos cientistas no campo da cosmologia e, igualmente, um dos mais renomados teólogos de seu país. Entre o pragmatismo cientí¬fico e a devoção pela religião, ele decidiu fixar esses seus dois olha¬res sobre a questão da origem de todas as coisas: pôs a ciência a serviço de Deus e Deus a serviço da ciência. Desse no que desse, ele fez isso. O resultado intelectual é que ele se tomou o pioneiro na formulação de uma nova teoria que começa a ganhar corpo em toda a Europa: a "Teologia da Ciência". O resultado material é que na se¬mana passada Keller recebeu um dos maiores prêmios em dinheiro já dados em Nova York pela Fun-dação Templeton, instituição que reúne pesquisadores de todo o mundo: US$1,6 milhão.
O que é a "Teologia da Ciên¬cia"? Em poucas palavras, ela se define assim: a ciência encontrou Deus. E a isso Keller chegou, fa¬zendo-se aqui uma comparação com a medicina, valendo-se do que se chama diagnóstico por ex¬clusão: quando uma doença não preenche os requisitos para as mais diversas enfermidades já co¬nhecidas, não é por isso que ela deixa de ser uma doença. De vol¬ta agora à questão da formação do universo, há perguntas que a ciência não responde, mas o universo está aqui e nós, nele. Nesse "bura¬co negro" entra Deus. Segundo Keller, apesar dos nítidos avanços no campo da pesquisa so¬bre a existência humana, continua-se sem saber o principal: quem seria o responsável pela criação do cosmo? Com repercussão no mundo inteiro, o seu estudo e sua coragem em dizer que Deus rege a ciência naquilo que a ciência ainda tateia abrem novos campos de pesqui-sa. "Por que as leis na natureza são dessa forma? Keller incenti¬vou esse tipo de discussão", dis¬se a ISTOÉ Eduardo Rodrigues da Cruz, físico e professor de teolo¬gia da PUC de São Paulo.
Keller montou a sua metodolo¬gia a partir do chamado "Deus dos cientistas": o big bang, a grande explosão de um átomo primordial que teria originado tudo aquilo que com¬põe o universo. "Em todo processo físico há uma seqüência de estados. Um estado precedente é uma causa para outro estado que é seu efeito. E há sempre uma lei física que descreva esse proces¬so", diz ele. E, em seguida, fusti¬ga de novo o pensamento: "Mas o que existia antes desse átomo primordial?" Essas questões, sem respostas pela física, encontram um ponto final na religião - ou seja, encontram Deus. Valendo-se tam¬bém das ferramentas da física quântica (que estuda, entre outros pontos, a formação de cadeias de átomos) e inspirando-se em ques¬tões levantadas no século XVII pelo filósofo Gottfried Wilhelm Leibniz, o cosmólogo Keller mer¬gulha na metáfora desse pensa¬dor: imagine, por exemplo, um li¬vro de geometria perpetuamente reproduzido. Embora a ciência possa explicar que uma cópia do livro se originou de outra, ela não chega à existência completa, à ra¬zão de existir daquele livro ou à razão de ele ter sido escrito. Kel¬ler "apazigua" o filósofo: "A ciên¬cia nos dá o conhecimento do mundo e a religião nos dá o sig¬nificado". Com o prêmio que re¬cebeu, ele anunciou a criação de um instituto de pesquisas. E já es¬colheu o nome: Centro Copérnico, em homenagem ao filósofo polonês que, sem abrir mão da religião, provou que o Sol é o cen¬tro do sistema solar.

A CAMINHO DO CÉU
Michael Keller usou algumas ferramentas fundamentais para ganhar o tão cobiçado prêmio científico da Fundação Templeton. Tendo como base principal a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, ele mergulhou nos mistérios das condições cósmicas, como a ausência de gravidade que interfere nas leis da física. Como explicar a massa negra que envolve o universo e faz nossos astronautas flutuarem? Como explicar a formação de algo que está além da compreensão do homem? Jogando com essas questões, que abrem lacunas na ciência, Keller afirma a possibilidade de encontrarmos Deus nos conceitos da física quântica, onde se estuda a relação dos átomos. Dependendo do pólo de atração, um determinado átomo pode atrair outro e, assim, Deus e ciência também se atraem. "E, se a ciência tem a capacidade de atrair algo, esse algo inexoravelmente existe", diz Keller.

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