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sexta-feira, 10 de abril de 2009

O NÃO CRESCIMENTO DE IGREJAS NEO-PENTECOSTAIS - AUGUSTUS NICODEMUS


Por que as igrejas dos neo-pentecostais não cresceram como eles gostariam

Por: Augustus Nicodemus

Não estou falando dos pentecostais clássicos e dos neo-pentecostais que têm suas próprias denominações e igrejas, as quais, geralmente, são numerosas e grandes. Os neo-pentecostais a que me refiro nesse post são os pastores de igrejas e denominações tradicionais e conservadoras que adotaram idéias e práticas típicas do movimento neo-pentecostal, na expectativa de verem crescer numericamente as igrejas que pastoreiam. Na minha observação, isso não tem acontecido. As igrejas deles permaneceram do mesmo tamanho de antes, ou mostraram um crescimento pequeno, em pouco ou em nada se sobressaindo às igrejas dos pastores conservadores dentro da denominação

Eu não sei quantos deles existem nas denominações históricas, como a presbiteriana, luterana, metodista, episcopal e batista, por exemplo. Acredito que são muitos. Eles permanecem filiados a essas denominações, estão ligados aos seus concílios, mas abraçam idéias e práticas dos neo-pentecostais, as quais são geralmente distintas daquelas que suas denominações, pelo menos oficialmente, aceitam. Como eu sou presbiteriano, vou me concentrar especificamente na minha própria denominação.

Acredito que alguns deles, quando entraram em igrejas presbiterianas, já tinham convicções neo-pentecostais. Por falta de maior cuidado no processo de formação pastoral e na ordenação ou consagração ao ministério da Palavra, eles se tornaram normalmente pastores e obreiros e tão logo assumiram uma igreja passaram à missão de "neo-pentecostalizá-la". Mais uma vez, nada contra os neo-pentecostais. Desde que eles permaneçam em suas próprias denominações e igrejas.

Outros viraram neo-pentecostais já dentro das igrejas históricas movidos pela pressão de fazer sua igreja crescer. A lógica é simples: os neo-pentecostais estão crescendo muito no Brasil. O que eles têm que eu não tenho? Qual a causa desse crescimento? Em que eles acreditam e o que praticam? E a resposta parece simples: batismo com fogo, batalha espiritual, expulsão de demônios, sinais e prodígios, unção com óleo, teologia da prosperidade, danças litúrgicas, coreografias, cultos de descarrego, quebra de maldições, línguas, profecias e visões, e por ai vai.

Assim, muitos pastores, líderes e obreiros presbiterianos e de outras denominações históricas resolveram adotar esse cardápio, ou parte dele, na expectativa de que fazer a sua igreja crescer, exatamente como crescem as igrejas dos neo-pentecostais.

Contudo, salvo melhor juízo da minha parte, as igrejas de pastores neo-pentecostais dentro de denominações históricas e conservadoras, particularmente a presbiteriana, não são muito diferentes em tamanho, força, pujança e alcance do que as outras da mesma denominação. São igrejas que têm, em média, 150 a 300 membros -- como as conservadoras. Conheço pastores presbiterianos que jejuam, profetizam, falam em línguas, dançam, pregam batismo com fogo e teologia da prosperidade, expulsam demônios, quebram maldições e decretam a bênção, mas cujas igrejas são pequenas, exatamente como aquelas dos conservadores de quem falei em outro post. Não chegam nem perto do tamanho das igrejas dos verdadeiros neo-pentecostais que eles querem imitar.

Não quero generalizar. Para ser justo, existem pastores presbiterianos neo-pentecostais que fazem tudo isso e têm, realmente, igrejas grandes. São muito poucos, todavia, e duvido que o tamanho da igreja deles seja resultado da implantação de práticas neo-pentecostais. Parece-me mais fruto do carisma pessoal desses pastores. As igrejas deles cresceriam de qualquer jeito, mesmo se eles fossem conservadores. E mesmo grandes, essas igrejas não são maiores do que a de outros pastores da mesma denominação que são conservadores, com delegação de atividades e que se preocupam com a doutrina e o crescimento espiritual do rebanho.

Creio que existem vários motivos para esse fracasso dos pastores neo-pentecostais dentro das igrejas históricas. Não estou duvidando ou questionando a integridade, santidade e honestidade deles -- somente esse ponto específico do crescimento de suas igrejas.

1) Por causa do treinamento e da teologia conservadora que tiveram nos seminários, não conseguem se liberar totalmente da carga e da herança tradicional e acabam sendo apenas pastores neo-pentecostais meia-boca. Neo-pentecostal mesmo, como o Pr. José Roberto, conhecido como o Zé Galinha do Mato Grosso, tem visão de galinhas falando em línguas e de galo interpretando, usa sal grosso e ramo de arruda, planta bananeira no culto se sentir vontade. Mas, os neo-pentecosterianos não conseguem ir até as últimas conseqüências. E ai vem o problema -- sempre haverá pastores mais neo-pentecostais do que eles, atrás de quem o seu povo vai. Conheço o caso de um pastor desses que introduziu um meio-pentecostalismo em sua igreja, abriu o apetite do povo, e em breve, uma grande parte da igreja saiu para outra igreja, dessa feita neo-pentecostal de verdade, onde o "fogo" e a "unção" eram maiores. No fim, esses pastores não são nem presbiterianos e nem neo-pentecostais, e acabam sem agradar nem a um lado e nem a outro. Suas igrejas permanecem bem menores do que as igrejas neo-pentecostais de verdade e do mesmo tamanho de igrejas conservadoras.

2) Outra razão é que pastores neo-pentecostais dentro das denominações históricas e conservadoras estão sujeitos à supervisão dos concílios. Nas igrejas neo-pentecostais os pastores são líderes incontestes. São apóstolos, bispos, fundadores e donos. Eles podem fazer o que quiserem e não prestam contas a ninguém. Já, por exemplo, os presbiterianos que são neo-pentecostais não têm metade dessa liberdade. Eles têm que dar contas aos demais pastores nos presbitérios e podem ser mandados embora de suas igrejas se exagerarem na dose de neo-pentecostalismo. Apóstolos podem exportar dólares dentro da Bíblia e ainda continuar sendo donos de suas igrejas. Eles podem alegar que passaram a noite batendo papo com Jesus, cara a cara, e ainda permanecerão em sua posição. Eles podem profetizar à vontade sem que nada do que disseram aconteça e fica por isso mesmo. Mas, os neo-pentecosterianos não têm essa imunidade eclesiástica. É por esse motivo que eles, de vez em quando, saem da denominação e fundam comunidades independentes, na tentativa de poderem fazer o que quiserem em termos de neo-pentecostalismo. Pelo que tenho observado, algumas dessas comunidades crescem, outras não. E as que crescem, ainda assim, raramente chegam ao menos perto das igrejas neo-pentecostais.

3) A verdade é que pastores neo-pentecostais dentro de denominações históricas e tradicionais serão sempre uma imitação pobre dos verdadeiros neo-pentecostais e não podem concorrer com eles. Os neo-pentecostais são muito mais experientes e profissionais em encher seus templos e movimentar as massas. Os nossos neo-pentecostais são meros aprendizes. Ao mesmo tempo em que digo isso, preciso ser justo. Com certeza existem pastores neo-pentecostais dentro das denominações históricas que são o que são por convicções pessoais, e não por mero desejo de ver sua igreja crescer. O que eu espero é que a realidade dos fatos (o não crescimento de suas próprias igrejas) produza alguma reflexão quanto a essas convicções.

4) O histórico de divisões, confusão e brigas nas igrejas neo-pentecostais dentro das denominações tradicionais nos aponta para outro fator que impede o crescimento das mesmas. Como os pastores neo-pentecostais estão tentando transformar igrejas que eram tradicionais em igrejas neo-pentecostais, irão encontrar resistência da parte de alguns, líderes e membros, que ainda acreditam que ser conservador é a melhor postura. Aí vêm as brigas internas, as divisões e as confusões, que cobram sempre um pedágio elevado no rol de membros. Muita gente sai dessas igrejas neo-pentecostalizadas por discordarem das novidades que seus pastores estão sempre trazendo, algumas chegando às raias do absurdo.

5) Apesar dos pastores neo-pentecostais jejuarem, orarem noite afora em cima do monte, decretarem o avivamento e a cura dos doentes, serem batizados com fogo, amarrarem e expelirem todos os demônios e Satanás inclusive, na prática, isso faz pouca diferença em suas igrejas. O número continua o mesmo, e a cada domingo é a mesma rotina de sempre. Nada realmente extraordinário acontece. Expelir demônios, dançar, cair no chão todo domingo, acaba virando rotina exatamente como a rotina das igrejas conservadoras. No fundo, muitos neo-pentecostais dentro das igrejas conservadoras lutam contra a cruel realidade dos fatos: não está dando certo, não está funcionando, a igreja não está crescendo. E o que acontece com os outros pastores que não são neo-pentecostais acontece com eles também: adultério, roubo, abuso de poder, e igrejas pequenas. E aí vêm as racionalizações e as justificativas: a culpa é dos conservadores incrédulos dentro da igreja, que impedem o fluir da ação do Espírito. A culpa é da máquina burocrática, da instituição pesada da denominação. Ou então, a culpa é do diabo.

Resta, agora, a inquietante pergunta: por que esses pastores neo-pentecostais ainda permanecem dentro das denominações tradicionais e não se desligam dela? Posso pensar em algumas razões. Quem sabe, gostam do prestígio da estrutura; gostam da auréola da rebeldia; gostam da sensação de superioridade espiritual que os envolve, principalmente quando comparados a alguns conservadores lamentáveis cujas igrejas são realmente minúsculas; se alimentam da organização denominacional – de seus seminários, institutos bíblicos, comissões, etc.; são apegados à propriedade (prédios e terrenos); alguns poucos, talvez permaneçam sinceramente, tentando “converter” a denominação de sua frieza e ênfase em doutrina e teologia. Há certamente ainda outras razões.

Quaisquer que sejam essas razões, a verdade permanece: não funcionou como eles pensavam que funcionaria. No fundo, a causa maior é simples. Neo-pentecostalismo não é sinônimo de verdadeiro avivamento espiritual. Crescimento de igrejas por conversão de pecadores não é como receita de bolo, que basta a gente achar os ingredientes e misturá-los na proporção correta. Há igrejas conservadoras que crescem mais que as neo-pentecostais dentro das denominações históricas. Um pastor presbiteriano pode fazer tudo que os neo-pentecostais fazem e ainda assim poderá não ver sua igreja aumentar de tamanho. Ao contrário, pode inclusive fazê-la diminuir, como tem sido alguns casos, pela divisão. É a Palavra de Deus, anunciada fielmente no poder do Espírito, por pastores e líderes com motivações corretas, que fará a Igreja crescer. Sem isso, poderemos gemer, clamar, decretar e profetizar até o fim do milênio, e a igreja vai continuar minúscula. Inclusive, a dos presbiterianos neo-pentecostais.

Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com/

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